Em novembro, eu já percebia essa ansiedade natalina que, invariavelmente, chega antes das luzes piscantes e demora mais que os enfeites para ir embora. É uma ansiedade curiosa, do tipo que não dói mas cansa.
A gente acorda com a sensação de que tem algo urgente para resolver. Só não sabe exatamente o quê. Talvez seja comprar presentes, aqueles mimos de baixo custo e, se possível, bom gosto. Talvez lembrar onde guardou as bolas da árvore do ano passado. Quem sabe não é o tal espírito natalino tentando sair — tímido, cambaleante, procurando espaço entre boletos e compromissos.
Observem que nas conversas nesses dias, ninguém responde “tudo bem”. É sempre “na correria”, “uma loucura”, “estou me virando”. Até parece que estamos todos numa enorme gincana anual cujo prêmio é chegar ao dia 24 com a ceia completa e a sanidade intacta. Missão quase impossível.
E, no entanto, tem algo reconfortante nessa bagunça de final de ano. É como se a cidade inteira respirasse no mesmo ritmo meio atrapalhado. Um espirro de esperança aqui, uma risada nervosa ali, aquele vizinho testando pela décima vez a tomada do pisca-pisca. Somos todos personagens de um grande ensaio geral para a noite de Natal.
O curioso é que, no fundo, a ansiedade natalina também tem seu charme. Ela nos lembra que o ano passou, que vivemos coisas demais para caber em uma retrospectiva de rede social, e que — apesar da avalanche de pendências — ainda somos movidos por um desejo bonito: reunir, celebrar, estar perto.
A verdade é que dezembro é um mês ansioso por natureza. E nós, coitados, ficamos a tentar acompanhá-lo com café, lista de presentes e um humor que oscila feito luzinha de árvore barata. Ah! Tem as notícias de jornais, sempre com mais brigas, divergências políticas presas a tornozeleiras eletrônicas ou a opiniões imutáveis. E, no ano que vem, teremos campanha eleitoral. Socorro!
Mas aí chega a tão esperada noite de Natal. A mesa posta, as risadas, a farofa temperada, alguém discutindo que aquilo não é peru, mas um frango peitudo. “Eu nem provarei se ficar muito seco”, decreta a sogra com aquele olhar de cobra criada. Chega a hora dos abraços e percebemos que, no fim das contas, valeu a pena. A tensão se dissolverá com o aroma do café da manhã do dia 25. Até que, claro, tudo recomece no próximo ano.
