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quarta-feira, 29 de abril de 2009

No Clube de Mulheres

A forte cerração da manhã de terça-feira (28) passada - aliada a uma dose extra de irresponsabilidade ao volante - permitiu quatro acidentes em série na BR 290 entre Eldorado do Sul e Porto Alegre, rota matinal diária deste blogueiro rumo ao trabalho. Assim, ao deparar-me com o engarrafamento de oito quilômetros, decidi tomar um café reforçado na estrada esperando o tráfego voltar ao normal. Lá encontrei uma amiga dos tempos da Zero Hora pré-informatização, que tivera a mesma idéia. Papo vai, papo vem e ela resolver contar o drama a depressão que uma amiga enfrentava.


A prima viera a Capital para ajudar na festa de casamento de sua melhor amiga. Deixara marido, filho e um poodle em casa, por uma semana, para envolver-se nos preparativos do casório. Tudo rolava as mil maravilhas até, às vésperas da cerimônia religiosa, sugerirem uma despedida de solteira em uma festa só para mulheres que rolaria em uma casa noturna.

Tímida, a moça disse que não iria. Essa coisa de ver homem pelado dançando não era com ela. Imagina se o marido soubesse? A pressão foi tanta que acabou cedendo. E de reprimida, enlouqueceu com os rapagões de trajes sumários em movimentos pélvicos pra lá de libidinosos. Beliscou, beijou e amassou o quanto pode e o que alcançou. A santa saiu do armário.

Na manhã seguinte era um poço fundo de remorso. Havia consumado o que sempre criticara nos homens. Voltou para casa tentando apagar aquela noite. Fora tudo tão bom, tão prazeroso que a culpa a devastava. Brincou com o filho, afagou o cão e ao ver o marido, abraçou-se nele aos prantos. “É saudade” pensou, emocionado. Era, mas não do pobre coitado.

Nos dias seguintes, andava distraída, pensamento distante. Por duas vezes, na madrugada chamara o marido de “surfistinha safado”. Ele levou na brincadeira, afinal, o mais próximo de uma prancha de surfe que estivera, fora na garagem de um sobrinho. Na semana passada, a moça voltou a Porto Alegre. Feito um zumbi, circulou nas redondezas da boate. Mas não se animou a entrar.

Voltou para o interior, ainda mais triste. Vivera anos no escuro do armário, filosofou minha ex-colega: "Sem fantasia, fechada ao prazer. Como não deprimir-se ao ver que que a rotina roubara um brinquedo tão gostoso, por tantos anos?". O problema não é físico, embora a prima tenha desfrutado, entre outras coisas, de uma sarada barriga tanquinho enquanto o esposo já é tipo barril. "Ela reclama que lhes falta criatividade, fantasia. Apagou a luz e ela quer se sentir gostosa, desejada. E o cara quer nanar. Fazer tudo o mais rápido possível", conta.

Voltamos para a estrada. O trânsito fluía e fiquei sem saber o que a tal prima decidiria. Correr atrás das fantasias ou conformar-se com o feijão com arroz que a vida lhe deu. O certo é que se todos os insatisfeitos com os jogos de alcova decidissem buscar por seus direitos, Wall Street e seus tremores, seriam pouco. Estou errado?

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Como evitar mais um final de semana tedioso



Sábados e domingos são maravilhosos e estritamente chatos. A maioria espera com ardente sofreguidão a possibilidade de dormir mais, dar-se tempo só para si, resolver pepinos e quem sabe, testar aquela receita especial, desculpa perfeita para reunir amigos e uma lista enorme de atividades impossíveis nos dias que antecedem o final de semana. O problema é o vôo acelerado do tempo que se confunde a uma mórbida lentidão. Contraditório? Quem consegue cumprir a lista de tarefas domésticas em um sábado onde a maioria do comércio fecha ao meio-dia? Afinal de contas, comerciante também é filho de Deus! Mais: quem consegue confirmar um programa diferente sem passar por estresse por mais leve que seja?

Se a semana agita-se entre crises, acidentes e rotinas, no sábado queremos é relaxar. Domingo, reclamamos da monotonia até a noite iniciar e os compromissos da segunda-feira despertarem na consciência. A felicidade de poder quebrar a rotina abre as portas para uma nova. Assim, aconselho a não se projetar atividades domésticas demais. Os parques e praças lotam, as crianças gritam muito mais alto nos findis, mas permanecer vitrificado, assistindo tevê é também desperdício de energia.

Li certa vez, que o segredo para deixar qualquer final de semana mais proveitoso, fluindo sem muitos atritos, por mais contraditório que possa parecer é caprichar na organização e disciplina. Por exemplo: criar um ritual para esses dois dias. Enfeitar a casa com flores, apagar lâmpadas, usar velas pra iluminar só o que interessa. Luz forte, só no escritório. Lá devem permanecer os problemas da semana. Cinema, teatro, encontro na casa de amigos, cozinha com uma receita especial ou uma bebidinha também é bom. Mas nada deve lembrar um sacrifício burocrático. Quando diversão vira dever é chato.

Troque de ambiente, ou seja, mesmo em casa, use mais a sacada, ou o cantinho gostoso que todo pátio tem e se não houver, experimente a janela. Veja gente a cruzar a rua, sob sol ou chuva, acompanhe o movimento das formigas que não tem folga, curta principalmente a sensação de não existir obrigação maior do que um necessário relaxamento. Opções de lazer nunca faltarão para todos os bolsos e locais. Sem essa de que você vive em um lugar desinteressante. No fundo, o que mais atrapalha qualquer diversão é a ansiedade.

A mania de muitos em passar o final de semana deitados, dormindo, eu respeito. Mas os médicos advertem que nestes casos se queimam etapas bem legais além de atrapalhar o relógio biológico. Acordar e ficar rolando na cama só porque é sábado, não tem nada a ver. E para o final de domingo, quem sabe não se pode propor um jantar leve entre amigos? Importante é evitar a monotonia das atrações nada fantásticas do “findi” que se encerra e deixar a chateação para o horário comercial. Aliás, se o sábado e domingo forem bacanas, todas as cinco "feiras" da semana serão igualmente, menos tediosas.

terça-feira, 14 de abril de 2009

O ciclista nu e outros doidos

Evite outros usos para o pinhão, além da culinária
Qual a coisa mais maluca que você já fez? Não precisa contar, eu sei que sempre haverá alguém mais doido, ou ousado a lhe desafiar. Na cidade espanhola de São Sebastian, por exemplo, vive um francês que adora passear nu em sua bicicleta. Já foi preso uma dezena de vezes. Acaba sempre solto. Andar nu não é crime. Afinal ele pedala, simplesmente. Não provoca ninguém, não faz poses, nem desrespeita as pessoas. É um ciclista peladão, apenas. 

E o que passava na prodigiosa imaginação do polaco lavador de carros, flagrado namorando um aspirador de pó? Será que o convívio diário, o fez sentir-se uma espécie de homem-máquina? Eu por exemplo, sou apaixonado por cafeteiras. Sempre quentes, disponíveis. Hum...Calma, gente, eu curto mesmo é o café, cheiroso e estimulante.

Uma norte-americana, no auge da irritação, quem sabe uma super TPM, amarrou o marido na cama. "Ele nunca me dá atenção", justificou a estressada esposa. Quando conseguiu livrar uma das mãos e ligar para a polícia, o marido já tinha várias marcas de agressão pelo corpo. Que cena! A coisa começa por lá, vira moda aqui. Antes de permitir a namorada ou esposa brincadeiras com cordas, cintos ou correntes pense: pode acabar em malvadeza.

No final de março, no interior dos Estados Unidos, uma prostituta invadiu um apartamento e exigiu a quantia de cem dólares. Como pagamento, oferecia sexo. Tenho até medo de pensar se isso vira moda por aqui. No início, muitos deixariam as portas abertas, a grana no balcão e aguardariam já de cuecas. Depois, passada a emoção, a coisa sairia de controle e nem a polícia resolveria o problema. Delegacia do Homem, já!

Kenji, um robô testado pela Toshiba, programado para simular emoções humanas, agiu fora do normal após passar um dia com uma pesquisadora. Ele tentou evitar que ela fosse embora, bloqueando a porta de passagem. Exigia abraços. Tem gente justificando que esses que tratam robôs como gente, são mais doidos do que os outros que usam aspiradores para fins que não constam em manuais de instrução. Como ensinar uma máquina a amar, se entre humanos essa lição nunca é totalmente assimilada?

Agora, doida top mesmo, foi a moça que resolveu apaixonar-se por uma pinha. Sim, essa pinha que nos dá deliciosos pinhões. Imagina o trabalhão que deu aos cirurgiões de Belgrado, capital da Sérvia, no sudeste europeu. Quero ver agora aqueles que criticam os gaúchos por comerem pinhão. Via oral, como refeição, cozido ou na chapa é uma delicia. 

Assim amigo, amiga. Você que às vezes se recrimina por gostar de feijão frio, ou acreditar piamente que não tem inflação, que está tudo pronto para a Copa do Mundo no Brasil ou, ainda, insiste em amores que nada dão em troca, ou trocam tudo por nada, tranquilize-se. Não é sadismo, tampouco loucura. Mas preocupe-se caso comece a chamar eletrodomésticos de benzinho, aí a coisa está a escapar do controle. No mínimo, será tão esquisito como um francês, de meia idade, a pedalar sem roupas. Visão do inferno, convenhamos!

terça-feira, 7 de abril de 2009

Uma história para a Páscoa



Lá vinha ele, cabeça baixa, passos sem força, gestos desanimados. O dia terminava como se houvesse enfrentado uma batalha desproporcional. O porteiro do prédio nem se animou a puxar assunto. A tarde caía nublada e úmida. Comentar sobre o tempo apenas turvaria mais o ambiente. Respeitou o silêncio, o andar trôpego de quem parecia estar próximo ao fim de uma via crucis. Nada que havia proposto até o momento funcionara a contento. A pouca fé que lhe restara da educação cristã recebida na infância ainda tentava vislumbrar luz. Mas a depressiva sensação de abandono o deixava coberto em chagas. Comparar-se a Jesus Cristo parecia um desaforo. Não tivera nem metade da determinação do filho de Deus.

Tirou os sapatos, jogou-se na cama. As lembranças acusatórias não o abandonavam. Opções erradas, decisões tomadas às pressas que resultaram em grandes prejuízos e a uma solidão sem limites. Quem dera houvesse forma de lavar a alma. Permitisse mais energia em um coração já quase indiferente ao amor. Correu à cozinha, abriu uma garrafa de vinho, serviu-se de pão e queijo, mas não bebeu nem comeu muito. Na tevê, as imagens o convidavam a um mundo que se mostrava cruel e indiferente. Acabou dormindo para acordar quase ao meio-dia de sábado.

No trabalho, a colega com a qual já experimentara um ensaio de namoro o convidara para a ceia de Páscoa. Recusara. Decretara o fim para romances. Mesmo eventuais, sempre acabavam em coração partido. Não atendeu ao telefone quando ela e alguns outros amigos ligaram. Tampouco saiu de casa. No domingo, bem cedo, aproveitou para ir ao supermercado comprar o básico para um almoço rápido. Encontrou quem? A tal colega solteira. Carregada de pacotes se dirigia a um táxi. Tentou fingir que não a vira. Mas ela - é claro - o enxergou e implorou carona. Como dizer não?

Aceitou o convite para o almoço e foi simpático com gente que nunca vira. À tarde os fantasmas, as culpas e outros bichos - menos o coelhinho, haviam lhe dado uma trégua. Os parentes e amigos da mulher partiram. Ele permaneceu para ajudar com a louça. Feliz, ressuscitado. O que aconteceria nos próximos minutos não o assustava mais. A vida se constrói entre erros e acertos de gente que numa hora dá com os burros n'água, em outra, a volta por cima. Mas que aprende nos tropeços a construir caminhos menos tortuosos, um dia chega lá. O que já é um grande feito. Feliz Páscoa!