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terça-feira, 29 de novembro de 2011

Oração à Santa Niña de Las Piscinas


Santa Niña de Las Piscinas Azuis
Neste verão de tantas privações,
De suores ardidos, desodorantes vencidos...

Neste verão seco, abafado e de muito pó,
Que não nos falte água pra despertar os sentidos.
Por favor, só lhe peço um simples gesto de dó.
Um tanque bem grande, ou uma piscina de plástico.

Não sou vaidoso. Nem quero ostentar.  
Pode ser piscina de lona, azulejo ou fibra.
O que for + prático.
Não precisa nem de escorregador ou trampolim,
Isso não importa pra mim.

Minha Santa Niña de Las Piscinas,
Tudo o que lhe imploro é um singelo mergulho.
Numa milagrosa água clorificada!

Porque suar no inferno deste Forno Alegre,
Vai derreter às bicas o que me resta de orgulho.
Por isso, Santa Niña de Las Piscinas,

Atenda minha súplica antes do capeta atentar,
Este acalorado devoto que te ama,
Pros gelados barris de chopp da Brahma!
Prost! 

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Um descasado sem par e o verão.

De Cidreira ao litoral catarinense, a inglória busca
Estradas em péssimas condições, nos caminhos do litoral, a situação é ainda pior. Tente ir a Florianópolis em um feriado e verá a imensa  tranqueira que se forma. Imaginem o que acontecerá em plena temporada. Mesmo assim vamos nos atirar rumo ao sol. Todos querem a brisa marinha, o calor que tosta e nos deixa com ar de turista estrangeiro em pleno litoral brasileiro. E se chover? Sim, Florianópolis e suas belas praias têm o péssimo hábito de nos inundar com chuvaradas intermináveis. Torceremos todos por chuva de verão. Aquela que refresca e nos dá infindável paciência para encarar as filas nos restaurantes, a comida ruim a bebida cara. É o preço do sol, da paisagem, da água cristalina e das belezas que desfilam nas areias finas.

No ano passado um vizinho, divorciado ainda na primavera, entrou verão com aquele pique de novo (ou quase) solteiro. Começou com festa no litoral Norte gaúcho.  Em Cidreira conheceu a filha de um ex-chefe, que o acompanhou em uma noitada de muita cerveja. Era aniversário de um tio (tios e tias não faltam em Cidreira). Não rolou nada. Aliás, “ficaram” e ele entendeu o real significado deste pré-namoro: beijinhos e abraços, sem grandes avanços.  Nada conseguiu também entre o sábado e o domingo e na segunda-feira, tomava o rumo de  Capão da Canoa e Atlântida.  Descasado em férias ignora a comida ruim, as filas no supermercado, ou a interpraias maltratada das nossas cidades litorâneas. Só precisa de bebida gelada e é claro, mulheres disponíveis.

Assim, em Atlântida, conheceu uma psicóloga – ou melhor – foi reconhecido por ela que o via com freqüência na clinica onde trabalhava (ele e a mulher haviam tentado terapia de casais, antes dela encontrar a cura com um engenheiro civil). Foi divertido. mas talvez por cacoete profissional, insistia em analisar cada movimento seu, fiscalizar maternalmente, se bebia em excesso ou estacionara em local proibido. O beijo sem graça o fez sentir-se um Édipo mal-resolvido e assim, tomou o caminho de Atlântida. Lá conheceu a dona de uma estética de Canoas. Mulher madura, bonita que o convidou para um champagne ao final da tarde.

Tudo corria bem não fosse descobrir, na pior hora, que ela era casada e o marido chegava. De surpresa. Escapou, porque o sujeito ligara antes. O que confirma a teoria de que ligar antes evita terríveis constrangimentos!  Tentou Florianópolis, mas desistiu quando uma simpática argentina que mais parecia avó de Gardel, insistiu que dividissem uma caipirinha.  Ainda experimentou Garopaba. Na casa alugada por amigos, divertiu-se muito. Cozinhou para os amigos, mas como todos eram casados, não atingiu seu objetivo de um rápido namoro de verão. Nos bares, dezenas de outros casais e alguns solteiros, a maioria homens, o desanimaram. 


Ficou assim, meio tatuíra, com pinta de quem vai se enterrar na areia da depressão. Acabou por voltar às praias gaúchas, onde ao menos, poderia conversar com amigos e amigas próximos. O tio – aquele de Cidreira – perguntou se ele não queria acompanhá-lo em uma pescaria. Aceitou, por falta de coisa melhor e também, para economizar. Gastara muito no litoral catarinense. E foi lá, que reencontrou aquela primeira paquera e... Bom isso fica para o próximo sábado.  

sábado, 12 de novembro de 2011

As contas do adeus*


Será que partir é sempre necessário?
Todos os dias ela contabilizava os minutos, os segundos, como quem administra uma poupança de milhões em ouro ou dinheiro. Era uma conta onde a valia era o quanto a menor lhe restava. Queria apenas a liberdade de abrir a porta e entrar em um novo mundo, uma vida renovada. Ar! Queria ar! Sem humores instáveis, dúvidas, ânsias e rádio patrulhas, decisões  sem pé, nem cabeça. Paz! Queria paz! Sábados eram o inferno virado em compras, faxina em casa e uma sensação de que à noite desabaria defronte a tevê, sem muito o que escolher. Tudo isso seria aceitável, não fosse ainda pressão de dividir problemas e pouco prazer com alguém que já lhe inspirara tanta satisfação, tanta energia e bom humor.

Era uma conta cheia de incertezas, juros a pagar, excessos engavetados ou congelados, em um frost free de indiferença. Pior, muito pior, era a certeza de ao dividir o pouco, pagava o dobro em reflexões sem nexo. Ou com todo nexo. E foi assim, nesse pinga–pinga  típico de quem não sabe bem o que mira, que jurou: “hoje eu decido: boto tudo em pratos limpos.” Os leitores já perceberam que a coisa gira em torno de uma relação desgastada. Um romance sem chama para acender qualquer tipo de salvação. Acomodado.

Para tornar tudo mais civilizado, saiu do trabalho e foi à estética. Coisa rara. Mudou o corte de cabelo, fez unhas, massagem. Ouviu fofocas, confidenciou que estava decidida a mudar de vida. Por que mulheres confidenciam essas coisas. Chega de amassar o pão e alimentar outras fantasias. Gostou da metáfora! Saiu lindinha, embora aquela barriguinha. Preparou uma janta leve, arrumou a mesa com a melhor louça. Seria um encontro de contas, ou melhor, uma aceno de mão, um tchau civilizado. E serviu-se de espumante. Ele chegou como fazia todos os dias, com vontade de uma ducha urgente e qualquer sanduíche para devorar. “Um filme”, sugeriu, ele que sempre dormia na melhor parte. Era sempre assim. Mal se falavam.

Mas não resistiu e perguntou se iriam celebrar alguma data que, mais uma vez, esquecera. Ela respondeu que precisava comunicar-lhe uma decisão que tomara a partir de sua disposição em poupar tempo, para viver mais coisas boas, do que más. Ele riu, irônico, ao sentir aquele clima de fronteira, onde se tem intimidade mas sempre se está próximo ao estrangeiro. Diante da alternativa entre o lugar comum da acomodação, ou a possibilidade do novo – saboreou, como a muito não fazia, o prato que ela lhe servira. Um raro filé de peixe, regado a um mais raro ainda, molho de laranja. O paladar o enfeitiçou-se.  E a cerveja? Ok, uma taça de espumante também servia naquele momento diferenciado, exótico entre eles.

Ela quis falar. Mas estava relaxada, sentindo-se em outro lugar. Estranho, mas foi ele, sempre quieto e ausente que disse: “gostei desse teu cabelo. E teu rosto? Me parece mais coradinha... é a bebida”, percebeu, ao lembrar que ela jamais consumia álcool. E com a mão grande e pesada, conferiu a maciez daquele rosto, tão familiar que já virara um quadro antigo na parede de casa. Gostou tanto que um arrepio o empurrou a um raro beijo. Ela quis outra vez falar, fugir, mas as palavras eram prisioneiras daquela carne macia, que saciava uma fome muito mais urgente. Seria apenas carência? 


É claro que não. Tinha muito mais, trazia respostas para quem era só ansiedade e não sabia como perguntar. Sábado é só mais um dígito no calendário, pensou no embalo dos braços que embora fortes, não a forçaram a nada. E deixou de lado, pelo menos por mais alguns minutos, a contabilidade de uma despedida que, com certeza ainda não estava pronta. Entendia que às vezes, o que falta é o inesperado – um ritual – pois, onde tudo anda morno, sempre se pode atear algum fogo, antes que se esfrie de vez. 


* Canção do extinto grupo gaúcho Couro, Cordas & Cantos

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

A superação e um Ringo “All Starr”, no Gigantinho


Um ex-beatle com muita estrela
Era uma noite fria na Liverpool dos anos 40. Dos céus se ouvia a sirene de alerta a um mortal bombardeio alemão. A jovem mãe salta da cama, pega o filho no berço e, desesperada, corre em direção ao abrigo antiaéreo onde junta-se a outras famílias de seu bairro. Na profunda escuridão do blackout - o bebê chora muito, demais! Apesar de o embalar com carinho. Preocupada, procura pelo rosto do filho em meio a escuridão e se dá conta que na correria, segurara o menino de cabeça para baixo. 

As coisas nunca foram fáceis para Ringo Starr – o protagonista desta história e que – por isso mesmo, sempre disse ter uma “estrela”, a guiar-lhe no caminho do sucesso. Era baterista de uma banda famosa de sua cidade, mas aceitou o convite daqueles três jovens – John, Paul e George, para juntar-se aos novatos Beatles - que não estavam satisfeitos com Pete Best, então baterista da banda.

É este sujeito de estrela, com estilo único e perfil bonachão, que assistirei nesta quinta-feira (10), em Porto Alegre. O menino que passou a infância doente, que enfrentou um preconceito comum naqueles tempos por ser canhoto e assim, acabar obrigado a alfabetizar-se com a mão direita, porque escrever com a esquerda era  “coisa do diabo”.  

Mesmo assim, insistiu em tocar bateria, adaptando sua condição de canhoto “adestrado” a um estilo só seu. Não é fácil, reconheço, eu também um canhoto “treinado” a ser destro e que, em função disso, nunca me senti um bom exemplo de coordenação motora. 
   
Ringo jamais foi o preferido das meninas histéricas, nem teve os melhores dotes vocais ou talento como compositor. Mas uma obstinada capacidade de adequação às adversidades, o colocaram em condição de igualdade na banda que abriu portas para um novo conceito musical a partir do rock. 

Não espero um show grandioso, como o de seu parceiro Paul Mcartney, casualmente há um ano atrás, no Beira-Rio. Ele estará ali ao lado, no Gigantinho, apresentando-se com sua All Starr recheada de músicos de primeira linha e, com certeza, não irá fazer feio.

É um caso raro de baterista com grande produção musical seja como autor ou instrumentista. Ele tem mais de 20 álbuns e alguns clássicos como It don’t Come Easy, praticamente autobiográfica, ao lembrar que as coisas boas da vida, não vem tão fácil assim.

Estarei lá, para aplaudir meu colega canhoto. E ouvir um eficiente rock básico em plena quinta-feira. Afinal, um ex-beatle é sempre o melhor de todos os motivos para antecipar a festa.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Muito além de um reality show


Dois jovens, com a força que a juventudes lhes premia. Dois jovens, em passos largos e decididos avançam contra o homem que não espera pelo ataque. Um senhor aproximadamente de minha idade – mas um senhor especial. Com deficiência mental. Sem tempo, sem condições de correr, defender-se ou argumentar. Este cidadão especial passa a ser agredido. Muito mais do que isso, humilhado por socos, chutes, pauladas. Covardes, abjetas, diabólicas. Dois jovens demônios, Dois seres sem idade, sem tamanho, sem consciência de sua maldade ou pior, plenamente lúcidos de seu ato sem nome, sem razão, sem nenhum sentido. Monstros são melhores, porque existem em fantasias ou pesadelos. Eles estavam lá, ao vivo, gravados em um absurdo reality show da condição humana, por uma câmera de segurança. Contraditoriamente, era a cena mais clara, mais nítida da estupidez que a baixa resolução daquele equipamento oferece.

Tudo isso aconteceu diante de uma loja no litoral, na tarde de terça-feira. Até agora me pergunto se teriam alguma pendência contra a vítima. Relatos tinham a vítima como um sujeito pacífico. Vá lá, entender os desequilíbrios, as fontes repletas de ira que se derramam diariamente sobre os incautos. Mas a rua, por mais vontade que tenhamos por vingança, a rua não é espaço para tribunais ou execuções bárbaras. Os tribunais por mais inacessíveis, a justiça por mais distante, deve ser preservada. É por meio dela que devemos brigar. Não no sentido belicoso do confronto físico. Ou de tortura psicológica.

Existe um caminho a ser desbravado até a redução destas vítimas do acaso, ou da execução planejada por este ou aquele motivo. Lembro do pai e filho agredidos por um grupo de homofóbicos, que ao vê-los abraçados imaginou que fossem um casal gay. E se fossem? O que é mais constrangedor e perigoso? O carinho ou a carranca? Não posso – eu não me permito – sequer ao um íntimo regozijo diante de imagens como a de um Kadaf executado pela fúria dos que antes, por ele talvez tenham sido igualmente abusados.

Às vezes, ao cruzar as ruas de minha cidade, o faço com ares de quem saiu de um desses filmes de Stephen King, onde o mal vence sorrateiro e assustador. Tudo conspira para esse medo paranóico de ver a literatura de terror tornar-se realidade diante de meus olhos ou sobre mim. Essa realidade é pior do que qualquer  livro onde vampiros, lobisomens ou mortos-vivos, apavoram lugarejos lúgubres, casas amaldiçoadas.

Dois jovens, dois homens desfocados, tornam-se roteiristas, diretores e protagonistas do horror gravado pela câmera fixa de uma vitrine. Era dia claro, em uma rua qualquer e eu sei bem em qual gênero de espetáculo estes dois jovens atores se enquadram. Lamentavelmente, impune.