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quarta-feira, 22 de abril de 2015

Paixões tóxicas


O inverno se aproxima e aos casais que temem não poder aproveitar o frio para um aconchego romântico, recomendo o livro do psicólogo Bernardo Stamateas, “Paixões Tóxicas, Como Atravessar as Crises e Enriquecer a Vida a Dois”. Simples, direto, um autêntico guia da nova ortografia amorosa. Embora hoje seja mais fácil divorciar-se, tornou-se muito mais difícil encontrar uma parceria que valha a pena.

O autor divide o livro em dez capítulos, ensinando a superar as paixões das "emoções explosivas", "modelos culturais", "infidelidade", "possessividade", "estancamento", "sexualidade tóxica", "competitividade", "desqualificação" e "crises financeiras", finalizando com o título "paixão e amor". 

Tudo bem explicado para que nós, tantas vezes irritadiços, competitivos e egoístas,  não transformemos a vida à dois em um biblioteca de mesquinharias.  E o calor dos edredons, será compartilhado sem culpas, em harmonia, que é para isso que serve um casamento. O autor, enumera algumas formas “tóxicas” de se boicotar uma relação. Não há como não se achar em algumas delas.

Por exemplo, esquecer datas importantes, fazer o parceiro ficar mal na frente dos outros, obrigar as crianças a ligarem no trabalho do conjugue por coisas insignificantes, ser descuidado com a aparência, assumir o papel de vítima, gerar conflitos com os horários quando o parceiro tem algo importante para fazer, mostrar na frente dos filhos que o parceiro não tem razão,  desautorizá-lo.

Escaparam da lista? Mas tem mais. Ressaltar os erros do outro (feio demais!), adoecer justo em uma data importante, não acompanhar o outro a eventos sociais ou ser pouco gentil neles, perder a hora quando o outro precisa de nós, esquecer de algo que o outro pediu especialmente, gastar o que haviam poupado em algo para si próprio, não se relacionar bem com seu entorno ou proibi-lo de ver certas pessoas. 

Sucesso sexual - O pavio da paixão está quase no fim? Stamateas preparou sete leis naturais para o sucesso sexual. Algumas podem soar óbvias, outras reafirmam aquilo que muitos tentam ignorar: Sexo é fantasia e, com amor, é claro, torna tudo mais gostoso. Antes disso, exige privacidade, um necessário abandono, entrega e muita comunicação. 

Quem sabe não está aí um bom encaminhamento para o frio que começou antes do inverno? Se tudo der certo, a primavera será perfeita e o verão. muito mais leve. O autor assegura que as chances da monotonia desaparecer, são totais.  

Aos interessados,”Paixões Tóxicas” é uma publicação da editora Planeta, tem 176 páginas e custa menos de R$ 20. 

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Quem diz o que pensa ...

Quantas vezes dizemos coisas sem pensar, sem um mínimo cuidado com prováveis constrangimentos. Comentários inocentes, mas danosos tipo “Não me diga que estás grávida!” àquela amiga que estava apenas gordinha. Pior fiz eu, ao cruzar com uma ex-colega dos tempos de bancário. Esperei quase 40 anos para cometer a mais estúpida mancada. “Continuas com a mesma elegância de sempre”, elogiei, concluindo em messiânica falta de tato.

“Este jovem é teu filho?” Com um com sorriso desconcertado, respondeu que os filhos estavam criados. Era viúva e aquele "amor novo", a salvara da depressão. Fiquei eu ali, a procurar, uma cartola de mágico que me puxasse o asno, em que eu me transformara. Outra vez, na saída da escola, todo pimpão com Tárik, meu filho caçula, uma senhora sorriu,simpática, e elogiou. “Como é lindo seu netinho”. Lembrei minha ex-colega de Banco e segui em frente.

Na semana passada, uma amiga, torcedora do Grêmio, concluía uma série de exercícios físicos  no CETE, em Porto Alegre, quando o professor – que conversava com um amigo a provocou sobre a classificação de seu time, Gauchão. “Tens razão, estamos mal. Mas pior foi o Inter que teve uma mãozinha do juiz”.

Foi aí que o tal amigo do professor, que apenas acompanhava a conversa se apresentou. “Muito prazer, sou Diego Real, árbitro que apitou o jogo do Inter”. e lá ficou ela, com aquele ar de campeã mundial de bola-fora, em um torneio sem arbitragem, é claro.

O desculpável é que, na grande maioria destes casos, as pessoas não agem por mal. Querem ser simpáticas e buscam um comentário lógico e racional para quebrar o gelo. E criam uma barreira fria. A fulana está barrigudinha, então é gravidez. Comentários de futebol? Querem coisa mais descompromissada? Aquela provocação básica com um amigo. Quem poderia imagina que juiz de futebol, além de não ter mãe, tem amigos e pratica exercícios?

Por essas e outras, ando contido em meus comentários. Até porque a grande maioria adora me classificar como um gordo a beira da morte. “Ari cuida do coração”. “Teus joelhos vão se desmanchar”. “Te cuida, as mulheres não curtem gordinhos”.  “Deve ser difícil comprar roupas, não é?” “Anota esse chá emagrecedor”. “Vou te passar o telefone de minha nutricionista” e tantas dietas e alertas assustadores. Como se não soubessem que, deliberadamente, escolhi ser gordo. Viver perigosamente.

Ora, que gente sem noção!

quinta-feira, 2 de abril de 2015

A Grande Beleza

Somente na semana passada consegui assistir, do princípio ao fim, sem atender telefone ou mirar a rede social, o vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro do ano passado, “A Grande Beleza”. O longa dirigido por Paolo Sorrentino, trata das reflexões sobre a vida do escritor, Jep Gambardella (Toni Servillo), ao completar 65 anos. É verão em Roma, ele mora em um elegante apartamento, no coração da capital italiana, mas está inquieto.

Na verdade, o personagem é autor de um grande e único sucesso, o romance “O Aparelho Humano”, que escrevera décadas atrás. Envolvido com a vida mundana, não conseguiu concluir nenhum outro livro, dedicando-se a uma bem sucedida carreira de jornalista social, onde decide quem é quem nas altas rodas, usufruindo dos privilégios de sua fama.

Mas a repentina volta à lembrança de um primeiro amor, ainda na juventude, o leva a questionar o mundo dos que o cercam e que, antes, assistia com indiferença ou cinismo. Homens e mulheres, empresários, a nobreza falida, os religiosos, são vistos de uma maneira aguda por Jep, em sua busca, não pelo tempo perdido, mas pelas coisas que realmente importam. Aos 65, percebe que aceitar o que não lhe agrada, é um perigoso tempo perdido.

O diretor Sorrentino - assim como não se preocupou com as comparações ao trabalho do mestre Fellini - também não emite julgamentos. Deixa para quem assiste a melhor interpretação das cenas, às vezes delirantes do filme. E ainda nos permite um olhar atento, às nossas próprias vidas. Não precisamos estar em Roma para agir feito os romanos. Aqui mesmo nos deparamos com gente e vidas semelhantes. Quantos projetos perdidos, quanta palavra desperdiçada em troca do reconhecimento que vira uma imagem desbotada, logo ali adiante.

“Viajar é útil, exercita a imaginação. [...] Aliás, à primeira vista, todos podem fazer o mesmo. Basta fechar os olhos. É do outro lado da vida,” afirma o trecho do escritor maldito Louis-Ferdinand Céline, que abre o filme e utilizo aqui, para encerrar este artigo. Viver é mais do que ser apenas correto ou valorizar a estética da vulgaridade que confunde fortuna com poder.  A verdadeira beleza está em nos apresentarmos o mais semelhantes possível a nós mesmos. Sem perder a elegância, a leveza do espírito.
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