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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Uma lembrança bonita de Scliar



Scliar foi patrono um dezenas de feiras no Interior. Por menor
que fosse o evento, lá estava ele, incentivador da leitura.
  
 Por Gilberto Jasper
Era janeiro de 1987. Eu vinha do interior do Estado, onde trabalhava como produtor e locutor em uma emissora de rádio de abrangência regional o Vale do Taquari. Surgiu a oportunidade para fazer um teste em Zero Hora. Para conquistar uma vaga na redação por uma semana cumpri uma maratona: acordava às 6h,permanecia na emissora até às 11h para adiantar as notícias de todo o dia, me deslocava para a estação rodoviária e chegava em Porto Alegre pouco antes das 14h. Numa abafada tarde de segunda-feira conheci a redação da ZH onde recebi minha primeira pauta:

- Pega um carro e entrevista o Moacyr Scliar na Secretaria da Saúde - disse secamente a editora de Geral, jornalista Núbia Silveira, entregando um pedacinho de papel.

Nem atinei de ler o estava escrito tamanha estupefação. Em pouco minutos estava diante de um ídolo que só conhecia dos textos e eventuais reportagens de tevê.

- Pois não, o que tu queres, amigo? perguntou Sclyar educadamente.

Apavorado com a tarefa,boquiaberto por encarar um monstro sagrado das letras gaúchas finalmente li a pauta:

- Quais os benefícios e malefícios entre o uso da sacarose e do açúcar? - disparei como uma metralhadora.

Ele pediu para repetir e, em seguinda, tomou o papelzinho já bastante amassado e disparou:

- Não acredito! Tu deve ser "foca" (novato em jornalismo) e a tua chefe é a Núbia! Há cinco anos que ela manda sempre a mesma pauta.. disse o médico-escritor para meu pavor definitivo.

Quando tentava chega à porta, com voz suave ele me chamou de volta:

- Senta aqui, vamos tomar um cafezinho e conversar com calma.

Na volta à redação consegui recuperar o fôlego, a cor e os sentidos. Uma hora depois recebi uma ligação: era próprio Moacyr Scliar:

- E aí, Gilberto... alguma dúvida? Precisa de mais informações?

Li a matéria, educadamente ele sugeriu algumas mudanças e a matéria foi para o crivo severo da Núbia Silveira.

Trabalhei onze anos em ZH. Tenho mais de 30 anos de jornalismo, mas jamais esquecerei o escritor, cronista, médico e, acima de tudo, o ser humano gentil, sensível e que, por isso, cativou a todos.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Onde mora o pecado?

Foram apenas cinco dias na praia. Entre sol e chuva, retornaram com aquela cor de mandiopã frito. Só a mulher e os dois filhos. O pai, por extrema dedicação ao trabalho, permanecera em casa – com aquele branco azedo típico de quem compensa a frustração com cerveja e televisão em excesso. O choque epidérmico foi inevitável. Acharam que ele estava doente. “Viu? Ficou aqui, longe da família, sem alimentar-se direito e agora está aí, com essa cara de cachorro sarnento”, lascou a patroa, sem piedade, abraçada ao fofo e saudoso cachorrinho. Resmungou, porque é da natureza dele a rabugice, “Sol demais provoca danos irreversíveis a pele. Aliás, pensei que estivessem com saudades. Mas tudo bem, apesar de ter trabalhado o dia inteiro, vai ter churrasco.”

A gurizada, pouca atenção deu aos queixumes paternos. Estavam habituados, assim como já sabiam que os coroas se implicavam muito, mas se divertiam mais na hora de fazer as pazes. O resto eram carências mal-resolvidas que o tempo, forçosamente cicatriza. Mesmo assim, tivera mais um veraneio sem a família.

Os amigos maldosos diziam que ele planejava cair na noite. E lembravam aquele filme antigo, o “Pecado Mora ao Lado”, de 1955, do genial diretor Billy Wilder, que conta a história de Richard Sherman (Tom Ewell), um editor de livros que se sente "solteiro" quando a mulher (Evelyn Keyes) e o filho (Burch Bernard) viajam em férias. E fica cheio de idéias quando surge uma bela e sensual vizinha interpretada por Marilyn Monroe. É deste filme a famosa cena da loira platinada refrescando as bem torneadas pernas na saída de ar de um exaustor. Quem não ainda não assistiu, que alugue o DVD, por favor!

Wilder mostrava, lá nos anos 50, a fantasia recorrente no universo masculino: a volta aos tempos de solteiro. Liberdade! Sozinhos, muitos machos da espécia, transformam-se em predadores. Mas lhes faltam garras e parceiros. Todos os amigos estão enjaulados, ou melhor, casados. No segundo dia solitários, deprimem-se em casa. Abrem antigos álbus de fotos, sentem falta do cotidiano, que é repetitivo, mas agitado. E percebem que aquela rotina lhes dá uma reconfortante sensação de utilidade.

Assim, meu nada irreal personagem decidiu que no próximo ano, levará a turma a um passeio inesquecível. Seja qual for a proposta: Floripa, Balneário Pinhal ou Acapulco. Se é um bom profissional no trabalho, será igualmente um parceiro organizado para dividir compromisso e lazer. E já avisou: retornará igual a um mandiopã tostado, sabor camarão, com certeza.

OBS: Os jovens aí não sabem o que é Mandiopã? É o pai brasileiro dos salgadinhos de hoje. Lançado em 1954, no tempo em que os salgadinhos "chips" ainda não existiam, precisava ser frito – em óleo. Hoje ainda aé assim. Hoje, existem centenas de marcas, tipos e sabores. Eles vem prontos, menos engraxados, mas cheios de sódio e gordura trans. Mas ainda existe o velho mandiopã – fabricado em Limeira (SP), criação de seu Antônio Gomercindo, dono da fábrica e que não conta o segredo da receita de jeito nenhum.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

It's George's Birthday

Se vivo fosse, Goerge Harrison completaria 68 anos. Imagino que não estaria em concertos mundiais, igual ao companheiro de banda, McCartney ou Ringo Starr, com sua All Starr Band, mas faria alguma apresentação surpresa aqui e ali, algo mais intimista. E nos brindaria com aquela guitarra sempre tocada gentilmente, com sentimento e técnica. no site http://www.georgeharrison.com/, o aniversário do beatle calmo, será comemorado com a apresentação via internet, do Concert For George. Tem Eric Clapton, Macca, Ringo, Tom Petty, Billy Preston e muito mais! Quem nunca ouviu, vale a pena.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Atração sexual é sentimento ou pura química?

Uma pesquisa – mais uma – sobre a sexualidade humana virou notícia no New York Times, repicado na Folha Online e clipada por meu dileto amigo Gilberto Jasper. A matéria da jornalista Iara Biderman afirma, “Mulher em período fértil atrai solteiros e repele casados”. Que maravilha! Assim se explicam as maria-chuteiras que diariamente engravidam de atletas de futebol e astros vacilões em geral. Quem as considerava oportunistas, se perde no limbo do falatório maldoso. Elas querem apenas um parceiro. Azar que seja rico!

Segundo a matéria de Biderman, um estudo feito em 2007 com dançarinas de striptease mostrou que as gorjetas aumentavam quando elas passavam a ovular. A pele se tornava mais sedosa, com sutis mudanças no cheiro do corpo. Os machos, respondiam com maior excitação, é claro.

O diferencial, neste novo trabalho é que a pesquisa feita nas mesmas condições, mas separando solteiros e casados, mostrou que os desimpedidos consideravam a mulher mais atraente nos períodos férteis. Aqueles em “relacionamentos românticos", a consideraram menos atraente justamente nesses períodos. Tentavam afastar a tentação, analisaram os pesquisadores. Cá entre nós, e o medo? Se a nega véia desconfiar? Não conheço pesquisas sobre a fúria da mulher traída, então...

De modo científico, "a presença da mulher fértil aumenta a produção de hormônios sexuais no homem, como a testosterona. Mas a consciência e a memória desencadeiam a produção de outros hormônios, como ocitocina, que trabalham contra a ameaça ao vínculo amoroso."

Será tudo biológico? Medo da reação da patroa? Só isso? Tenho certeza que o emocional é a balança dessa hora. Caso contrário, a vida em sociedade, não passaria de uma grande e confusa orgia hormonal ou, entre nós, homens, um eterno convívio em busca da "mulher invísivel",  uma Piovani improvável nascida destas nossas fantasias "infantis" como acusam elas.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Prótese peniana quebra e Justiça manda indenizar

Paciente de 24 anos que implantou prótese peniana que veio a quebrar será indenizado em R$ 30 mil pelo médico David Spilki e pela fabricante do produto, HR Indústria e Comércio de Equipamentos Biomédicos. A decisão é da 9ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, determinando ainda que o Conselho Regional de Medicina do Estado seja oficiado sobre o conteúdo do processo para apuração de eventual violação ao código de ética médico-profissional.

O autor da ação ajuizou ação na Comarca de Charqueadas narrando que, após um único episódio de impotência sexual consultou o médico, em agosto de 1994. Segundo o paciente, o profissional teria lhe informado que o implante de prótese peniana seria a única solução. Três meses após a realização do procedimento, o jovem procurou o médico novamente, pois sentia dores e havia notado uma saliência no local, mas foi informado que a situação iria se normalizar.

No ano seguinte o paciente, que estava em uma escola interna, reparou que a saliência estava aumentado. Em março de 1999 procurou o médico novamente e, por meio de exame de raio-x, constatou-se a quebra da prótese. Segundo o autor, ao solicitar a retirada e a implantação de uma nova, o profissional lhe disse que não seria possível devido ao risco de fibrose (aumento excessivo das fibras em um tecido). Um ano depois o jovem procurou o médico mais uma vez, mas o réu teria lhe dito não ter nada mais a ver com seu problema.

Em decisão de 1º Grau não foi reconhecida a responsabilidade do médico, apenas do fabricante da prótese. A empresa foi condenada ao pagamento de R$ 30 mil a título de indenização por danos morais e ao fornecimento de uma nova prótese, bem como custeio da cirurgia de colocação.

Recurso
Na apelação ao TJ, o fabricante alegou tratar-se de erro médico, não de vício do produto. Defendeu que somente o médico deve ser responsabilizado, pediu a rejeição do pedido de substituição da prótese e redução da indenização.

Para a relatora, Desembargadora Iris Helena Medeiros Nogueira, a empresa não comprovou nenhum fato que exclua sua responsabilidade objetiva pelo problema apresentado na prótese. No entanto, entendeu que também o profissional responsável pelo procedimento deve ser condenado. A partir de laudo pericial, concluiu que o médico agiu de forma negligente, imprudente e imperita ao realizar a cirurgia em um jovem de apenas 24 anos de idade à época dos fatos.

Destacou que o procedimento é o último recurso a ser utilizado no tratamento de disfunção erétil, recomendado em casos de dano ou lesão de natureza fisiológica. Antes, conforme o perito, devem ser adotadas medidas como a psicoterapia, uso de medicamentos, injeções intravenosas e vacuoterapia.

Apesar do autor da ação já ter realizado a substituição da prótese no decorrer do processo, a Desembargadora manteve a condenação ao pagamento da nova prótese e do procedimento cirúrgico. Determinou que cabe ao paciente decidir se executa ou não a decisão.

A respeito dos danos morais, afirmou que a quantia de R$ 30 mil não deve ser minorada, pois o valor é inferior ao parâmetro utilizado pela 9ª Câmara. Conforme a magistrada, foi mantido somente porque o paciente não apelou da indenização e pela vedação de reformatio in pejus (princípio que proíbe o agravamento da condenação quando apenas o réu apresentou recurso).

Os Desembargadores Túlio Martins e Leonel Pires Ohlweiler acompanharam o voto da relatora. A decisão é do dia 26/1 e foi publicada no Diário da Justiça de 4/2.

Mariane Souza de Quadros, imprensa TJ/RS

domingo, 13 de fevereiro de 2011

A vaca louca e o jardineiro que regava a chuva

Sábado, plantão em casa, e eu atento ao rádio, às novas da internet e da tevê. Qual a próxima esquisitice da raça humana? Qual o próximo ditador disposto a recolher-se para o conforto do exílio, expulso pela revolta popular? Quase pontualmente, no meio da tarde úmida, saio para comprar os jornais e o pão para o café da noite, quando cruzo com um desses carros de propaganda (coisa típica das cidades pequenas...) O auto-falante anuncia uma festa especial no Clube Harmonia, de Arroio dos Ratos. “Não perca o baile da Vaca Louca”. Não, eles não pretendiam soltar um espécime desvairado de quatro patas na pista de dança. Destes,  tem à vontade em duas patas. A promessa era mesmo sortear uma vaca!

E fiquei imaginando onde eu colocaria um bicho desses? O sujeito chega solito ao baile e volta bem acompanhado para casa. Uma vaca! Uma senhora fêmea, tão grande que sequer cabe na carona da moto, ou no banco do carro. Voltariam juntos, a pé, para casa, na madrugada. E eu achando que aquele festival de música do litoral norte era o maior programa de índio do final de semana...

Quantas vezes ganhamos brindes que mais atrapalham do que agradam? Lembro que certa vez, em um destes galetos de Igreja, eu ganhei um relho de couro. Coisa mais linda. E fiquei pensando, servirá para que? Auto-punição? Na época nem namorada eu tinha... Ops! Apaguem isso. Acabou como presente para um amigo que colecia artigos de montaria.

Ao voltar para casa, ainda pude assistir a uma cena para lá de insólita: chuva forte e um homem, bem protegido, capa de chuva e capuz, regava as flores de seu jardim.  A despeito da água que as nuvens mandavam em abundância, ele acrescentava o jato forte da mangueira. E foi naquele instante, que descobri: estava ali o cara certo para ser o grande premiado no baile da Vaca Louca. Alguém que gosta de regar a própria chuva, tem perfil para isso e muito mais.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Quem é teu paizinho?


Quem te alimenta de carinho e ao mesmo tempo é tão malvado?
Quem te sacia a sede, depois de te deixar dias a fio no deserto da incerteza?
Quem te coloca no colinho – boa menina - ou castiga de palmadas – menina má -
Quem te deixa assim, nervosa entre o querer e a vontade de escapar?
Tão independente, tão dona do próprio nariz que esquece de todo o resto e aí...
Todo o resto entrega a quem regará a rala grama do canteirinho,
semeará arrepios inoportunos
E cavará suspiros proibidos em horas inexatas.

Who’s Your Daddy é uma canção do último CD de Ringo Starr. Parceria com Joss Stone, que certo dia foi visitar o ex-baterista dos Beatles, em sua casa londrina, e o encontrou à voltas com uma canção sem letra. Pediu cópia da gravação, levou para casa e no dia seguinte estava pronto esse malicioso rock. Pra quem quiser conferir a parceria, deixo o endereço aqui via YouTube. O texto aí de cima, é inspirado na música.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

A poeira e tudo o que não se aposenta

Ela levantou cedo, sacudiu levemente os ombros do marido e disse que iria comprar pão e frutas para o café da manhã. Aposentados, com filhos criados e responsáveis por suas próprias famílias, viviam tranqüilos entre as atividades rotineiras da casa – afinal a poeira não descansa – diziam, quando alguém os via na faxina. É bom para manter o corpo em atividade, acrescentava ele, ex-jogador de basquete.

Por volta das 10h, saiu da cama. O café estava posto, o chimarrão servido e os jornais que assinavam, dispostos sob a mesa como todo dia. Tinha pão e frutas também. Chamou pela mulher e ela não respondeu. Não estava no interior da casa, tampouco no pátio. Devia ter ido a um vizinho. Estranhou porque ela sempre avisava. Tentou o celular que chamou até entrar na caixa postal. Tentou outra vez e registrou mensagem: “Brincadeira, é? Ou foi seqüestrada?”

Estava quase acionando a polícia quando ela respondeu ao chamado. Disse que trazia um frango assado com polenta e salada para o almoço. Eram 13h30min. Contou que perdera o aparelho celular. Refizera todo o percurso matinal e não o localizara. Era um aparelho caro, com toda a agenda gravada. “Um menino o achara e seu pai ligara para um dos números da agenda: Maria, a massagista da estética. A coincidência é que eu estava lá,” argumentou.

Ele ouviu, mas não entendeu porque não o avisara. Deixar um bilhete, ou quem sabe direto da estética mesmo, ora! Sabia que a mulher era muito organizada e responsável. Sumir assim? Comeram aquele frango que lhe pareceu indigesto. A mulher não o olhava nos olhos. Parecia tensa, distante. Juntou e lavou a louça. Nem o tradicional chá de hortelã de todos os dias conseguiu tomar. Não se autorizava, em sua idade, a desconfiar das atitudes da esposa. Mas que havia alguma coisa mal contada no ar, lá isso havia. A sombra da velha figueira, atraía um vento gostoso, mas quem disse que podia cochilar. E lhe veio a mente a certeza matreira de que não era apenas a poiera que jamais se aposentava.