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sexta-feira, 3 de junho de 2016

Como nossos pais

Diariamente milhares de crianças desaparecem feito espumas de sabão em nosso país. Mulheres sofrem com estupros físicos e morais, homens são humilhados por outros homens, nos mais diversos espaços. A vida segue assim, um ritmo acelerado, onde a maioria é escrava de sua própria rede social, de conceitos digitados e nunca, ou raramente aplicados na vida real. Enquanto isso, a marginalidade invade todos os espaços em nome de uma fé, de uma ideologia ou de uma alienação oportunista. É o Brasil moderno, gigante acéfalo, aos trancos.

Precisamos trabalhar, cuidar da família e o suor e a energia gasta com tanto esforço, aparentemente resume-se apenas a esforços braçais, a um vale-tudo que não envolve, por exemplo, a cultura da solidariedade, de um senso ético mais refinado. Eu sinto que nos isolamos e vamos atrás de pautas prontas, temas aparentemente difíceis, mas de respostas fáceis. Estupro? Violência atroz. Prendamos todos os responsáveis. Mas o que sugerimos para combater esse crime. E tantos outros? Encerro a semana cansado de tanta solução instantânea para questões históricas.

Lamento a educação andar tão por baixo. Teríamos respostas sempre ponderadas. O que anda por cima, afinal? Melhor não responder. Filtro tudo o que ouço ou leio. E não bebo para esquecer. Afinal, dezenas de lideranças, mestres que admirei, estão em casa, contando o vil metal, pretensamente guardado por Deus, conforme cantou Belchior, u
m raro menestrel engolido pela loucura cotidiana. Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais?

Quando vejo a juventude a levantar símbolos falidos, me parece que tudo é apenas uma repetição enfadonha. Os mesmos protestos, os discursos alinhados em ideologias que pouco nos trouxeram de benefícios. Não quero deixar a existência como um dos que perdeu-se na descrença. As crianças continuarão a sumir, perdidos nestes vácuos de prazer, sejam nascidos em berços esplêndidos ou na mais profunda miséria.

A compaixão continuará uma virtude de fracos, caso não façamos nada. Quantos terão de qualquer maneira, o carro de última geração ou a vacina que salvará a vida, sem que seja necessário acabar com o vírus, eliminar a fonte que o recria mil vezes. Tudo pode ser melhor, mais equilibrado, desde que aceitemos o moderno como a evolução do que preservamos e nos permitiu crescer como um todo.

Educação não é nada, sem apego a condição humana em sua essência, aos princípios básicos de respeito às semelhanças e dissemelhanças. Nunca, em nenhum momento, perder o senso crítico que cimenta o verdadeiro conhecimento, aquele que vai muito além das redes sociais, dos acordos embriagados de botecos, das certezas de uma geração contraditória e egoísta.