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sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Meu Natal privê

Eu tenho minha própria e exclusiva comemoração de Natal. Desligo os loucos que dizem matar em nome de Deus, os loucos que condenam inocentes em nome de seu próprio benefício e também, os que se acomodam na loucura alheia. A festa cristã que celebra o nascimento de Jesus Cristo – deve ir muito além de um banquete ou de uma troca de presentes entre colegas, familiares e amigos.

Eu celebro a vida, a parceria e a busca de paz. É o dia em que me sinto nascendo para uma existência muito melhor. Sem choradeira, sem azia ou má digestão. Nem tento bancar o bom samaritano de última hora, buscando doar qualquer coisa, para qualquer um que esteja numa pior. Sempre que posso ajudo. A qualquer hora, qualquer dia.

O Natal é uma espécie de encontro com sentimentos muito profundos. Com familiares e amigos, muitos que já não estão neste plano, outros que simplesmente viajaram para muito longe ou tomaram rumos distantes e ficaram apenas na memória dessas horas passadas. Felizes! Não, eu não vivo em um mundo artificial. Cada memória rebusca coisas bem tristes, crises leves, crises graves, conflitos em casa, tensões externas.

Falta de dinheiro, trabalho, dificuldades nos estudos, problemas com filhos, saúde abalada. A vida nos aplica sustos. A felicidade é uma luz natalina que acende e apaga, mas sempre deixa certo encanto, uma luz a ser mantida com paciência e fé. Eu desisti de buscar o ponto ideal das coisas. Da estrada sem riscos aos amores imperfeitos, porque os perfeitos brotam mesmo é em vasos. E tem lá seu tempo de duração, determinado pela natureza.

Certa vez quase fiquei só com minha ceia. Era tanta crise familiar, tanta fofoca caseira, que temi passar mal com a energia ruim dos outros. Todos na verdade, defendiam seus pontos de vista e, contraditoriamente, bloqueavam a visão com rancor e intolerância. Não combina com a data.

Assim, decidi viver meu próprio momento. Sem dar atenção aos comerciais da televisão, ao Papai Noel – gordo e suado – dos shoppings, aos exageros dos que se dizem os melhores cristãos do mundo e condenam quem se preocupa apenas com presentes e comilança. Pensem pelo lado positivo. Pelo menos estes glutões consumistas, estarão juntos. E trocarão abraços à meia-noite. Um dia, quem sabe, aprenderão alguma lição sobre o verdadeiro sentido deste feriado.

Não conheço o calendário das festas religiosas dos muçulmanos, mas sei que o povo judeu celebra, também por este período, o Chanuká. Acho muito bonito o ritual das velas de chanukiá. Celebrar faz bem à alma. Aos ateus igualmente, a energia de um convívio feliz, que brinda o nascer da esperança também faz muito bem.

É esta energia que me move.

Às vezes, em dezembro, acordo sobressaltado. A vida passa em sonho como um filme só de cenas tristes. E pulo da cama, respiro fundo. Busco qualquer lâmpada onde não vá atrapalhar o sono de alguém e olho ao redor. Percebo que estou só, e a dor que me engole vem de dentro, não foi colocada à força por ninguém. Um copo d’água, alguns minutos de reflexão e pensamentos positivos dão aquele murro definitivo no baixo astral.

Meu Natal não é de fantasmas. É de gente viva que luta contra os maus exemplos, as mancadas. Acerta, erra, cai, levanta e assim vai. No meu caso, só quero uma noite para rir, homenagear o aniversariante e tentar ser tão pacifista como ele foi. É pedir demais?

domingo, 2 de agosto de 2015

Dieta para casar a filha

Sou um pai de noiva que precisa emagrecer o suficiente para entrar em um terno novo e bem cortado, até o dia do casamento. Isso será no final de outubro. Ainda tenho um certo prazo, mas o corpo reage lentamente. É inimigo do tempo, se abraça em calorias, como se dependesse delas para fazer andar o relógio da vida. Meu cérebro, esse mala, também não parece muito convencido de minhas verdadeiras e honestas intenções. Teima em insuflar a gula que ultrapassa todos os limites do pecado.

No frigir dos ovos (com guarnição de arroz, creme quatro queijos e suculento bife de filé) nós os gordinhos, sofremos muito mais do que os “normais”, ou magros. Nos olham atravessado em muitos momentos da vida. Se estamos comendo um hambúrguer, afirmam: “depois não quer ganhar peso”, como se fosse só isso que torna alguém obeso. Fatores hereditários, por exemplo… Deixa assim. Não vou entrar na pauta que dirão ser desculpa de gordo.

Nas lotações, nos ônibus e aviões, reclamam quando ocupamos mais espaço nos bancos. Ora que reclamem de quem projeta tudo pelo mínimo. Grandes magazines criam constrangedoras peças GG mínimas. É verdade! Nesse inverno vesti uma jaqueta GG que serviu perfeitamente em minha esposa, magra (como todas as mulheres, mesmo as que não o são).

Nos resta o carinho das cozinheiras caseiras, das avós e das tias, das mamães à moda antiga. Disputamos avidamente o último bolinho de bacalhau, aquela torta esquecida na geladeira ou o resto no prato das crianças (que escapam dos legumes que detestam). Somos a alegria das sobras, das invenções gastronômicas fracassadas. Nós comemos de tudo e tudo.

Quem não sabe que existem magros muito mais glutões? Somos apenas os de metabolismo lento. E as advertências apavorantes sobre doenças terríveis? Ameaças pavorosas como, por exemplo, sermos obrigados a comprar em lojas especializadas de roupas tamanho extra grande. Só de olhar essas vitrines me bate ansiedade, que é quase sinônimo de fome.

Não existe gordo elegante, boa pinta. Eu sei que, especialmente em nosso caso, beleza não põe mesa, mas somos vistos simplesmente como glutões simpáticos. Além disso, é nosso dever ouvir todo tipo de "conselho", que se fosse bom, eliminava os obesos do Planeta, além de aceitar dicas de profissionais e dietas mágicas, instantâneas. Nos empurram shakes, academias e o escambau, que aceitamos sempre com um ar compungido e falsamente agradecido.

 Como ser alto-astral se durmo e acordo preocupado com a balança? Até outubro, meu prazo definitivo, vou me entregar às frutas, hortaliças e carnes magras.  Adeus risotos, cremes, filés ao molho de natas, Quero voltar ao mundo dos seres que não tem apelidos constrangedores e ainda, são livres para traçar feijoadas, pudins ou carboidratos mil sem parecer um extra-terrestre adiposo.

O terno está encomendado. O casamento é, para sorte de todos, confirmadíssimo. Agora, a dieta. Ai! Vai depender de muita boa vontade, muita caminhada que não seja em direção às panelas, aos bons restaurantes ou meus vinhos e cervejas artesanais.

Espero que filha e genro reconheçam esse esforço de atingir um nível aceitável de elegância no dia mais importante da vida deles. E que seja para toda a vida. A união deles e meu peso reduzido, é claro. Bonito não dá para ficar. Mas magro, isso é sim, é possível.

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Sobre Idas e voltas

Fugue - Kandinski
Deixou a porta aberta, como a liberar uma infinita cauda de noiva. Eram 30 anos de vida em comum. A casa estava limpa. Tudo em seu devido lugar, apenas uma camada rala de pó insinuava-se nos móveis muito bem lustrados. Mas é assim mesmo, igual a inevitável ferrugem que atingia um dos pés da geladeira, após anos de panos úmidos nas faxinas de rotina. Envelhecer é isso, refletiu, enquanto cheirava as mãos. Realmente não existe creme hidratante que retire totalmente o cheiro e, pior, o ressecamento provocados pelo cloro. A partir de agora, usaria luvas. A idade avançava, precisava redobrar os cuidados com o corpo.

Observou mais uma vez o tapete alinhado ao sofá, diante da imensa tela 3D, equipamento de fazer o chão tremer em filmes de aventura, ouvir shows como se estivesse no teatro, de pijamas, chinelos velhos e ancorada na barriga que estourava botões. A vida lhe reservara bons momentos, por isso olhava tudo a sua volta com tanto carinho. De repente lembrou que o forno ainda estava ligado. Retirou o assado que cheirava a pecado da gula, o cobriu com papel alumínio e o repousou no balcão. A salada estava pronta. Gostou daquele toque dona-de-casa. Empresária, passava a maior parte do dia no trabalho, longe dos afazeres domésticos.

Escolhera o melhor jogo de lençol para o quarto do casal, perfumara com aquelas essências que comprava e sempre esquecia de usar. Tudo cheirava a paz. No quarto dos filhos, que já não moravam mais lá, deixara um porta-retratos com uma foto antiga da família em uma viagem de férias a Nova Iorque. Tempos de pouco dinheiro e muita coragem. Parcelaram o passeio em 24 meses, o que não provocara danos ao orçamento doméstico e ainda os mantivera mais unidos.

No corredor percebeu que todos os quadros que possuíam era abstratos. Reproduções de Mondrian, Kandinski e artistas brasileiros como Iberê Camargo. Até um trabalho seu inspirado nestes artistas. Sim, tivera seu momento artista plástica. O marido adorava, ou fingia, em nome do bom convívio à dois. Quem sabe não fora esse abstracionismo, cheio de cores fortes e vivas, o responsável pelo momento que vivia agora?

Retornou a porta de saída. Fotografou tudo com olhos de alguém que some para comprar cigarros e não volta nunca mais. Não era fã de sertanejo, mas lembrou a letra de um reggae – é isso mesmo – da dupla Jorge e Mateus. “Toda história de amor é assim. Tem idas e voltas. Mas tem que ter final feliz. Mesmo sendo escrita por linhas tortas”. Era bem isso que ela vivia naquele momento.

Fechou a porta com cuidado e, conforme combinara com o marido, deixou a chave com o zelador. As passagens de avião, estavam na bolsa, junto com o passaporte. Na mala apenas o essencial para uma temporada no exterior.

Voltaria à Nova Iorque. Sozinha. Queria curtir programas que considerava legais. Teatros, cinemas e compras, porque não resistiria a tentação das lojas e ofertas da Big Apple. Sentiu um arrepio, uma súbita euforia. Nada a ver com o inverno, nem tão frio, ou com o café, nem tão forte. A perspectiva do novo, de um momento que jamais cogitara, a excitava.

Imaginava que os carros na rua, sinalizavam para ela. Que as pessoas acenavam, “Vai lá, boa sorte!!” Igual a tantas outras vezes onde o sonho fora bem mais vivo do que a realidade construída. Um final feliz! Sem culpas, nem regressos amargos. O abstrato das pinturas, coloriram a rotina dos últimos anos, mas a ausência de projetos, transforma o que era um casal, em dois seres solitários. Individualistas.

Viveria essa individualidade então. Em Nova Iorque. Poderia ser na mais humilde cidade do planeta, afinal só existe uma morada para a felicidade que é o coração de quem lhe desenhou a trilha.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Que a crise não seja calipígia


As duas reclamavam de tudo. Do som ensurdecer dos servidores estaduais da segurança, que realmente faziam uma grande muvuca no centro de Porto Alegre, do vento frio que acompanhava a chuva fina e dos pecados da estação. Olhavam-se no reflexo de um imensa janela de vidro,  só para repetir em coro que o inverno estava a destruir lhes a silhueta. “É muita massa”, constatou uma delas.  “Realmente, a massa está furiosa. Essa gente da área da segurança, quando não está acompanhando o protesto dos outros, também sabe fazer o maior bafo”, afirmou, após encolher o estômago e empinar o bumbum, que pelo volume, fora construído em invernos passados.

“Ao bafo? Fazer o que ao bafo? Estou precisando de comida sem gordura". O barulho não permitia que as moças se entendessem. Segundos depois, o sinal abriu e eu as perdi de vista em meio a multidão. O vidro da agência bancária que servira de espelho àquelas mulheres, agora refletia a correria da cidade e eu mesmo - ar cansado de final de tarde -, a refletir sobre o cotidiano agitado, tão farto de gente, e tão vazio de conteúdo.

Mas pensar na crise econômica brasileira, ou na situação da Grécia, sem filósofos ou deuses para resolver seu desiquilíbrio administrativo, não mudaria nada naquele momento. Aliás, os mitológicos deuses gregos sofriam das mesmas falhas de caráter dos mortais humanos. Hoje seriam perseguidos eternamente pelo FMI. Preocupar-se com o bumbum, senhores e senhoras, tem fundamento estético e filosófico, ora.

Até mesmo o grande pensador francês, Jean-Paul Sartre, disse certa vez que "a pátria, a honra, a liberdade, não existem. O universo gira em torno de um par de nádegas". Então, gurias, se a inflação devora, se o dinheiro está escasso, o Estado falido e o mundo nos olha atravessado, deixemos às mulheres, o prazer exibicionista deste olhar crítico a seus próprios dotes calipígios.

Com ou sem alimentos calóricos, dietas rigorosas ou longos exercícios. Nós, admiradores do belo, seja fofo, grande ou mignon, desde que macio, apoiamos este distraído auto-exame. Mesmo às pressas, aquele olhar fortuito à derriére, em meio ao caos urbano, nos reaviva a alma marota. Nos leva a crer que toda causa é tão justa, quanto toda calça feminina deveria ser.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Família bandida

Conversava com duas amigas, ambas jovens pedagogas, sobre os desafios da educação em nossos tempos. Tanta tecnologia nova, recursos fantásticos e, ao mesmo tempo, uma cotidiano embrutecido e violento que nos faz pensar sobre o sentido de tudo isso. Ao ouvir sobre as turmas que haviam assumido, percebi o olhar triste e frustrado das professoras iniciantes. As crianças chegam sem motivação, despejadas por familiares que pouca atenção lhes dá. Mas vá qualquer mestre reprende-los, para receber em troca uma ilógica e desproporcional fúria. Surgem das sombras, na hora errada, com dedos em riste.

Em um pais tão populoso, estamos carentes, não de presídios, mas de pais e mães de verdade.  Porque não temos espaço para tanta irascibilidade. A grande maioria dos que lotam o sistema prisional, surgiu assim, na distração da consciência. Minhas amigas relataram cenas horríveis, verdadeiros espetáculos de terror,  provocados por pais e filhos. Alguns casos chegam à mídia. Agressões a professores e depredações de escolas. Estão nas comunidades carentes, e nos bairros nobres. Crescem sem freios, incentivados por regras criadas por eles mesmos, ou assimiladas em casa.

Meu amigo Plinio Nunes, experiente jornalista, ex-editor da página policial do Diário Gaúcho, postou esta semana, no Facebook, um desabafo sobre a crise moral que vive o Brasil, mais especificamente sobre o Presídio Central de Porto Alegre que,  literalmente, está “botando pelo ladrão”. Plinio lembrou o defensor público que defendeu a libertação destes bandidos, para que não passassem “por esta indignidade”.

“Meu Deus, será que não se dão conta de que é um exército de delinquentes sem condições de recuperação que está sendo jogado de volta ao convívio com a população? Será que os governos não poderiam requisitar ginásios para manter presos, provisoriamente enquanto aguardam uma solução para os presídios que deve ser encontrada pra ontem? Ah, mas aí teríamos que parar com os jogos, com as festas. Que se danem!”

“O mundo está caindo e o pessoal pensando em si mesmo. Na verdade, não pensam em si, porque se assim o fizessem, perceberiam que esses caras na rua irão assaltá-los e matá-los junto com suas famílias. E matarão, a mim e os meus também. Não podemos nem ir às ruas protestar porque os bandidos que se misturam às manifestações agora estarão em número maior”,  percebe Plinio que nos deixa uma última e aterrado questão.“A quem recorrer, a quem pedir ajuda se criminosos e desequilibrados já abocanham as esferas do poder?”

sexta-feira, 12 de junho de 2015

O nome da batalha

A violência do cotidiano vai muito além das vidas roubadas à queima-roupa. Está acima dos pelotões de marginais armados, das falcatruas que nos assaltam e envergonham. Muito pior do que isso, de certa forma, nos intimida na hora de buscarmos a leveza do sentimento amoroso. E a essência de tudo, está justamente no romance apaixonado que exige a entrega que nos torna nobres e responsáveis pelos frutos – ou ervas daninhas – que brotam a partir daí. Mas o que é o amor? “O amor pode não ser a vitória em marcha. Mas é o que dá nome à batalha”, poetizou meu filho Tárik, em seu livro de estreia “Pré-Devaneio”.

Essa batalha dá sentido a tudo. Aos poemas que não declamamos, ao sentimento que ficou preso na garganta, como uma espécie de infecção afetiva, a provocar febre, rouquidão e que alivia apenas com aquela espinhosa declaração. “Eu te amo!” Aos amantes deste dia, eu desejo do fundo de meu veterano coração, que continuem assim, valentes guerreiros. Por favor! Não vamos nos entregar por coisas miúdas que transformamos em gigantes do isolamento. Afinal como sabiamente cantou John Lennon, a vida é aquilo que acontece enquanto estamos ocupados com outras coisas.

Eu mesmo venci um caminhão de rancores, acumuladas pelo cotidiano da vida a dois. Lá deixei o lixo descartável do ciúme, da onipotência, da rotina, do egoísmo vil, que nos atordoa a cada novo dia. Quero atropelar a rotina, renovar o ar do cotidiano e me sentir feliz, porque este sentimento contagia. Quem resiste a alguém que sorri ao dar a volta por cima?

Porque a melancolia também está por aí. Viva! O ressentimento então é uma flor carnívora! Mas um único pensamento amoroso, uma flor singela e o amor declarado espontaneamente, no ouvido certo, na mais improvável das horas, acerta os ponteiros deste relógio maluco que orienta o viver a dois. Apesar de toda a violência que nos cerca.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Paixões tóxicas


O inverno se aproxima e aos casais que temem não poder aproveitar o frio para um aconchego romântico, recomendo o livro do psicólogo Bernardo Stamateas, “Paixões Tóxicas, Como Atravessar as Crises e Enriquecer a Vida a Dois”. Simples, direto, um autêntico guia da nova ortografia amorosa. Embora hoje seja mais fácil divorciar-se, tornou-se muito mais difícil encontrar uma parceria que valha a pena.

O autor divide o livro em dez capítulos, ensinando a superar as paixões das "emoções explosivas", "modelos culturais", "infidelidade", "possessividade", "estancamento", "sexualidade tóxica", "competitividade", "desqualificação" e "crises financeiras", finalizando com o título "paixão e amor". 

Tudo bem explicado para que nós, tantas vezes irritadiços, competitivos e egoístas,  não transformemos a vida à dois em um biblioteca de mesquinharias.  E o calor dos edredons, será compartilhado sem culpas, em harmonia, que é para isso que serve um casamento. O autor, enumera algumas formas “tóxicas” de se boicotar uma relação. Não há como não se achar em algumas delas.

Por exemplo, esquecer datas importantes, fazer o parceiro ficar mal na frente dos outros, obrigar as crianças a ligarem no trabalho do conjugue por coisas insignificantes, ser descuidado com a aparência, assumir o papel de vítima, gerar conflitos com os horários quando o parceiro tem algo importante para fazer, mostrar na frente dos filhos que o parceiro não tem razão,  desautorizá-lo.

Escaparam da lista? Mas tem mais. Ressaltar os erros do outro (feio demais!), adoecer justo em uma data importante, não acompanhar o outro a eventos sociais ou ser pouco gentil neles, perder a hora quando o outro precisa de nós, esquecer de algo que o outro pediu especialmente, gastar o que haviam poupado em algo para si próprio, não se relacionar bem com seu entorno ou proibi-lo de ver certas pessoas. 

Sucesso sexual - O pavio da paixão está quase no fim? Stamateas preparou sete leis naturais para o sucesso sexual. Algumas podem soar óbvias, outras reafirmam aquilo que muitos tentam ignorar: Sexo é fantasia e, com amor, é claro, torna tudo mais gostoso. Antes disso, exige privacidade, um necessário abandono, entrega e muita comunicação. 

Quem sabe não está aí um bom encaminhamento para o frio que começou antes do inverno? Se tudo der certo, a primavera será perfeita e o verão. muito mais leve. O autor assegura que as chances da monotonia desaparecer, são totais.  

Aos interessados,”Paixões Tóxicas” é uma publicação da editora Planeta, tem 176 páginas e custa menos de R$ 20. 

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Quem diz o que pensa ...

Quantas vezes dizemos coisas sem pensar, sem um mínimo cuidado com prováveis constrangimentos. Comentários inocentes, mas danosos tipo “Não me diga que estás grávida!” àquela amiga que estava apenas gordinha. Pior fiz eu, ao cruzar com uma ex-colega dos tempos de bancário. Esperei quase 40 anos para cometer a mais estúpida mancada. “Continuas com a mesma elegância de sempre”, elogiei, concluindo em messiânica falta de tato.

“Este jovem é teu filho?” Com um com sorriso desconcertado, respondeu que os filhos estavam criados. Era viúva e aquele "amor novo", a salvara da depressão. Fiquei eu ali, a procurar, uma cartola de mágico que me puxasse o asno, em que eu me transformara. Outra vez, na saída da escola, todo pimpão com Tárik, meu filho caçula, uma senhora sorriu,simpática, e elogiou. “Como é lindo seu netinho”. Lembrei minha ex-colega de Banco e segui em frente.

Na semana passada, uma amiga, torcedora do Grêmio, concluía uma série de exercícios físicos  no CETE, em Porto Alegre, quando o professor – que conversava com um amigo a provocou sobre a classificação de seu time, Gauchão. “Tens razão, estamos mal. Mas pior foi o Inter que teve uma mãozinha do juiz”.

Foi aí que o tal amigo do professor, que apenas acompanhava a conversa se apresentou. “Muito prazer, sou Diego Real, árbitro que apitou o jogo do Inter”. e lá ficou ela, com aquele ar de campeã mundial de bola-fora, em um torneio sem arbitragem, é claro.

O desculpável é que, na grande maioria destes casos, as pessoas não agem por mal. Querem ser simpáticas e buscam um comentário lógico e racional para quebrar o gelo. E criam uma barreira fria. A fulana está barrigudinha, então é gravidez. Comentários de futebol? Querem coisa mais descompromissada? Aquela provocação básica com um amigo. Quem poderia imagina que juiz de futebol, além de não ter mãe, tem amigos e pratica exercícios?

Por essas e outras, ando contido em meus comentários. Até porque a grande maioria adora me classificar como um gordo a beira da morte. “Ari cuida do coração”. “Teus joelhos vão se desmanchar”. “Te cuida, as mulheres não curtem gordinhos”.  “Deve ser difícil comprar roupas, não é?” “Anota esse chá emagrecedor”. “Vou te passar o telefone de minha nutricionista” e tantas dietas e alertas assustadores. Como se não soubessem que, deliberadamente, escolhi ser gordo. Viver perigosamente.

Ora, que gente sem noção!

quinta-feira, 2 de abril de 2015

A Grande Beleza

Somente na semana passada consegui assistir, do princípio ao fim, sem atender telefone ou mirar a rede social, o vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro do ano passado, “A Grande Beleza”. O longa dirigido por Paolo Sorrentino, trata das reflexões sobre a vida do escritor, Jep Gambardella (Toni Servillo), ao completar 65 anos. É verão em Roma, ele mora em um elegante apartamento, no coração da capital italiana, mas está inquieto.

Na verdade, o personagem é autor de um grande e único sucesso, o romance “O Aparelho Humano”, que escrevera décadas atrás. Envolvido com a vida mundana, não conseguiu concluir nenhum outro livro, dedicando-se a uma bem sucedida carreira de jornalista social, onde decide quem é quem nas altas rodas, usufruindo dos privilégios de sua fama.

Mas a repentina volta à lembrança de um primeiro amor, ainda na juventude, o leva a questionar o mundo dos que o cercam e que, antes, assistia com indiferença ou cinismo. Homens e mulheres, empresários, a nobreza falida, os religiosos, são vistos de uma maneira aguda por Jep, em sua busca, não pelo tempo perdido, mas pelas coisas que realmente importam. Aos 65, percebe que aceitar o que não lhe agrada, é um perigoso tempo perdido.

O diretor Sorrentino - assim como não se preocupou com as comparações ao trabalho do mestre Fellini - também não emite julgamentos. Deixa para quem assiste a melhor interpretação das cenas, às vezes delirantes do filme. E ainda nos permite um olhar atento, às nossas próprias vidas. Não precisamos estar em Roma para agir feito os romanos. Aqui mesmo nos deparamos com gente e vidas semelhantes. Quantos projetos perdidos, quanta palavra desperdiçada em troca do reconhecimento que vira uma imagem desbotada, logo ali adiante.

“Viajar é útil, exercita a imaginação. [...] Aliás, à primeira vista, todos podem fazer o mesmo. Basta fechar os olhos. É do outro lado da vida,” afirma o trecho do escritor maldito Louis-Ferdinand Céline, que abre o filme e utilizo aqui, para encerrar este artigo. Viver é mais do que ser apenas correto ou valorizar a estética da vulgaridade que confunde fortuna com poder.  A verdadeira beleza está em nos apresentarmos o mais semelhantes possível a nós mesmos. Sem perder a elegância, a leveza do espírito.
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terça-feira, 3 de março de 2015

Melancias no caminhão

Por favor! Eu sei que a crise está pegando. A vida, cada vez mais cara, as promessas eleitorais engolidas em um mar de dinheiro desviado, entre cenas cotidianas da mais pura violência urbana. Tudo é tão agressivo que intimida. Em nosso mundo caseiro, nos vemos tentados a permanecer naquela pasmaceira Deus dará, tão nociva quanto o exagero dos protestos que assistimos nas ruas e estradas. O Todo Poderoso tem mais a cuidar do que a dieta do Ari ou o projeto que a Luluzinha engavetou por pura acomodação. Aquele plano de estudos que nunca sai da planilha, por exemplo.

Lá estou eu, no fundo do caminhão chamado 2015, como uma melancia que foi se acomodando no andar da estrada ruim. Estão todas em cima e eu, sufocado. No topo, a luz do sol, a brisa que refresca. E eu lá, deixando as coisas como estão para não enfrentar uma certeira incomodação. A enganosa facilidade do não mudar é ilusão, um truque de espelhos onde o reflexo é sempre melhor do que a realidade à volta.

O ideal é aproveitarmos essa explosão de expectativas do 2015 que não deu folga. Ignorou férias, carnaval e abriu-se em denúncias milionárias, reajustes que assustam nos combustíveis, na energia entre tantas outras mazelas. Estamos em março? Parece que já se foram seis meses! Então, ao contrário do desespero, é preciso valorizar todo esforço, torná-lo meta de realização. Inclui aí maior domínio sobre as ações que possam indicar melhores possibilidades de renda, ou uma mínima paz interior.

É difícil? Com certeza. Ser a última melancia do escritório, lá no fundo, onde ninguém quer te ouvir e ainda te remuneram mal, exige apenas resignação. Eu sei, criar um projeto viável enquanto a casa cai é difícil, mas nunca impossível.Até um rebelde anarquista estabelece uma estradtégia.

Estive diante de muita literatura de auto-ajuda e não vi o milagre acontecer. Muita teoria e poica prática. É fundamental não ceder à tentação da acomodação que safadamente ajeita nosso bumbum na cadeira da rotina. Aí aceitamos qualquer coisa que não dependa de muito esforço ou criatividade. Basta repetir-se infinitamente.

A partir deste março, igual a um estudante que volta às aulas, é preciso aprender como se assume o comando deste caminhão de melancias. Criar tempo, acelerar as soluções, reduzir os problemas. Quem sabe, curtir a mudança das estações, escrever seu próprio livro. Crie seu próprio tempo, na ditadura das agendas funcionais.

Tua história não é original? Por mais semelhanças que possa ter com todas outras, será sempre única, se embebida em alguma paixão. Esta é condição que te levará a dias melhores. Cheios de vida e personagens interessantes, sejam bons, sejam maus! Creia, não existe idade para tal mudança. Determinação, é  o que existe!

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Um descasado e as sereias - Fim de história

Pescar, decididamente, não estava no projeto deste meu amigo descasado. Um típico macho da espécie que, ao chegar à meia-idade, só pensava em festa, para compensar o  passado monótono. Circulou por quase todo litoral sul e não chegou ao porto desejado, Agora retornava de uma  bem sucedida pescaria na Plataforma de Cidreira onde não fisgara nem uma sardinha sequer, mas observara a lua, o mar e o esforço do tio e de Cristina, bonita, mesmo vestindo um velho e surrado abrigo.

Não fugia as suas responsabilidades, sabia que transformar o resultado daquela pesca em alimento era com ele, então, não reclamou na interrupção de sua jornada em busca de sereias festeiras.Preparou um jantar especial, na casa de Cristina. Ouviu histórias de pescador,  outras de vida. Cristina também era divorciada, perdera o marido para um professor de inglês. Disse que não era preconceituosa, mas sentira-se duplamente traída.

O vinho verde português que acompanhou a janta, arejou os espíritos, transformando melancolias em boas gargalhadas. Ao final da noite, o tio, alegando cansaço, voltou para casa. Ele permaneceu, com a desculpa de  lavar a louça e embalar para congelamento os filés de peixe restantes.

Naquela noite e nas duas seguintes, trocaram confidencias de pele, suspiros doces carregados em maresia e suor. Foram à praia juntos. Sem dar as mãos, como se isso representasse algum tipo de compromisso. Um acordo extra-oficial.

Encontrara a companhia ideal, em uma pescaria, longe da tensão frenética dos bares da moda e seus drinks duvidosos. Na hora de retornar – as férias estavam encerradas para ele – ela ainda permaneceria, o sentimento era de uma paz sem bandeira, de um armistício na batalha dos afetos mal-resolvidos.

Embora decidido a não querer mais compromissos duradouros, sentia-se como aqueles peixes rebeldes que lutam contra a linha que os segura, já irremediavelmente fisgados. E só por isso que, com um fio de voz, perguntou da viabilidade de um reencontro.

“Melhor deixar assim. Foi tão bom, tão natural que não precisamos correr o risco de transformar esse momento em rotina, ou desilusão lá adiante. Ficamos só com a parte boa. Nosso vínculo será esse momento, breve, mas gostoso", respondeu Cristina.

Meu amigo, divorciado de carteirinha, macho independente acusou o golpe. Estava sucumbindo a seus próprios e argumentos.Disfarçou com bom humor. “Na semana que vem então, o velho capitão busca outro porto para ancorar”. Nem olhou para trás ao sair. Percebera naquele momento que fora o maior pescado daquela noite na Plataforma de Cidreira.

Ela fazia pesca esportiva. Fisgava só pelo prazer, para depois devolver ao mar. Intacto, embora a marca do anzol, às vezes, não curasse apenas com um beijo de adeus.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Um descasado e as sereias

Um amigo, recém divorciado, entrou verão no típico embalo do "em busca do tempo perdido". Começou no litoral gaúcho, ainda tímido, com festa na casa de familiares.  Em Cidreira, no aniversário de um tio - tios e tias é o que não falta lá - conheceu a filha de um ex-chefe. O ambiente caseiro não permitiu que rolasse nada excepcional. Aliás, “ficaram” e ele compreendeu o real significado deste pré-namoro: beijinhos e abraços, sem grandes avanços. E na retranca, ao contrário do esperado, permaneceu entre o sábado e o domingo.

Descasado em férias ignora as filas no supermercado, a interpraias maltratada das nossas cidades litorâneas e todos os riscos e fiascos típicos da temporada. Só precisa de bebida gelada e é claro, mulheres quentes. Assim, largou o veraneio típico de comilanças, carteado e sol para, na segunda-feira, avançar rumo a praias onde o agito é maior. Em Capão, conheceu uma psicóloga – ou melhor – foi reconhecido por ela que o via com freqüência na clinica onde trabalhava. Ele e a ex-esposa haviam tentado terapia de casais, antes dela encontrar a cura, nos intervalos das sessões, com um engenheiro civil.

A psicóloga era divertida, mas talvez por cacoete profissional,  insistia em analisar cada palavra e movimento deste meu amigo que, como bom divorciado, estava cansado do monitoramento feminino. Mochila nas costas, seguiu para Atlântida. Lá, em sua busca da fêmea ideal, descolada e feliz,  conheceu uma empresária do ramo de cosméticos. Bonita, já madura e com ar de quem não perde tempo, não hesitou em convidá-lo para um espumante ao final da tarde. Tudo corria bem não fosse a descoberta, na pior hora, de que ela era casada. E o marido quase batia à porta!

Escapou porque o sujeito enviou um whatsapp. "Tô chegando amorzão!" Avisar, colegas maridos, sempre pode evitar tragédias ou terríveis constrangimentos!  Desolado, decidiu tentar a sorte nas praias de Florianópolis. Nada de momentos turvos, ondas de chocolate. Desistiu quando uma simpática argentina, em um destes botecos da moda, sei lá em que praia da ilha, insistiu que dividissem uma caipirinha. Mesmo à meia luz,  embora bonita e cheirosa, ela lembrava demais, a avó de um ex-colega de aula.

Ainda experimentou Garopaba. Na casa alugada por amigos, divertiu-se muito. Cozinhou, bancou o DJ na noite, mas como todos eram casados, não atingiu seu objetivo: um rápido namoro de verão. Nos bares, dezenas de outros casais e alguns solteiros, a maioria homens, lhe mostravam um cenário desanimador. Aonde estavam elas, as solteiras, que em seus tempos de casado o furavam com olhares sedutores. Prometiam tudo!

E assim, à moda tatuíra, com quem vai se enterrar na areia da depressão, voltou às praias gaúchas. Ali poderia conversar com amigos e familiares. O tio – aquele de Cidreira – insistiu que o acompanhasse em uma pescaria na Lagoa. Aceitou, por falta de coisa melhor. E foi nesta pescaria que voltou a ver a filha do ex-chefe. Aquela do parágrafo inicial que adora pescar, coisa rara entre mulheres. O que aconteceu neste encontro, eu revelo no próximo post. Aguardem!