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sexta-feira, 24 de agosto de 2012

O fim do mundo e o vento a levantar saias

Li no jornal Estado de São Paulo, que um grupo de astrônomos encontrou evidências de que um distante planeta teria sido “devorado” por sua estrela, dando fôlego a hipóteses sobre qual poderia ser o destino da Terra dentro de bilhões de anos. Eles também imaginam que um outro planeta que ainda gira em torno dessa estrela poderia ter sido lançado a uma órbita incomum em função da destruição do planeta vizinho. Não estarei aqui daqui a bilhões de anos, mas igualmente a pesquisa impressiona. Afinal, se nosso destino é tão cruel, qual o sentido de tudo isso?

Quem se interessar pelos detalhes científicos, basta conferir a edição de quarta-feira (22) do Estadão, sobre os detalhes do estudo, publicado originalmente pela revista científica “Astrophysical Journal Letters”. Em outras palavras, daqui a cinco bilhões de anos, poderemos ser engolidos por uma imensa bola de fogo, o Sol transformado em estrela vermelha, a levar bons e maus, anjos e demônios e tudo aquilo que construímos.

No mesmo instante em que lia esta assustadora previsão, imediatamente abaixo, em minha página do Facebook, a postagem de um site de futilidades nada científicas (que a maioria lê), destacava a foto de Vanessa Hudgens, jovem atriz da série “High School Musical”, a exibir lascas de seu bumbum, após o vento ter levantado o vestido. Estaria ela sem calcinhas? Ou trajava diminuto fio dental, especulava o texto.

Quantos séculos levaremos para desvendar esse mistério? Ou amanhã, tal revelação não valerá mais nada, transformada em diminuta fagulha na constelação de astros não hollywoodianos? Bumbuns, seios fartos e gente disposta a se expor, não nos faltaram até sermos devorados pelo fogo que preveem os cientistas (já não bastavam os pregadores apocalípticos?). Uns observam o sol, a natureza, as ciências, outros ermpunham uma máquina fotográfica para a vil missão destes flagrantes pueris.

Ou seja, somos realmente importantes no Cosmos. Quem perceberá nossa ausência, após sermos engolidos pelo Sol? Entre a astrofísica e as revistas de variedades, penso que o melhor ainda é aproveitar os bilhões de anos que nos restam, com foco nas coisas que realmente importam. Mas o que é verdadeiramente importante? A cultura ultra-leve, da vida mundana? A filosofia, a poesia dos gênios incomprendidos? "Os talentos atingem metas que ninguém mais pode atingir; os gênios atingem metas que ninguém jamais consegue ver," dizia Artur Schopenhauer. E daí?

À noite ao retornar para casa, abandonei essas reflexões ao perceber que, ao longo do meu caminho, resplandecia a lua em sua fase crescente - amarela - quase a encostar no asfalto da BR 290. Em seu formato de embarcação, parecia navegar entre estrelas. E percebi que aquele momento era muito maior do que a imagem do bumbum carnudo da jovem atriz e mais verdadeiro do que as teorias sobre as probabilidades de termos o planeta engolido por nossa ainda amistosa estrela solar, daqui a bilhões de anos.

Estar ali, aproveitando aquele momento exuberante, que dispensa a ciência e os pudores mundanos, dava sentido a tudo. Guardei aquela luz como fonte para os momentos de breu. Se um dia seremos engolidos, que tenhamos então produzido o melhor, o mais digno em pensamentos e ações para justificarmos, minimamente, a instabilidade e brevidade da condição humana como conhecemos. “São demais os perigos desta vida” cantou Vinicius de Moraes. E aí é que está a graça.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Punta Cana, o paraíso que Deus criou na Terra!


Lagostas grelhadas na brasa: com a avaliação de nosso editor de viagens

Especial | Gilberto Jasper
gilbertojasper@gmail.com

De 20 a 27 de junho eu e minha mulher Cármen gozamos uma semana de merecida folga em Punta Cana, na República Dominicana, numa nova lua-de-mel para comemorar nossos 25 anos de casamento. A ilha do Caribe recebe milhões de turistas de todo o mundo com predominância de norte-americanos, alemães, espanhóis e russos.

Belas fotos em https://www.google.com.br/search?q=punta+cana&hl=pt-BR&prmd=imvns&tbm=isch&tbo=u&source=univ&sa=X&ei=yxghUMvkK4OI8QSRpoCoBg&ved=0CIoBELAE&biw=1280&bih=813&sei=0RghUJ3iD-200QH6Ag.

Optamos pelo sistema all inclusive, ou seja, todo consumo de bebidas e comida dentro do hotel é pago no pacote e dispensa o pagamento na hora do check-out. A maioria dos hotéis, aliás, adotam esta sistemática. Nosso único objetivo era ficar de papo para o ar para curtir o sol, a praia de areias claras e as calientes águas de tom azul turquesa.

· Viagem: Saímos de Guarulhos (SP), num vôo da TAM onde o conforto não está incluído. Um detalhe importante: como o vôo partia às 11h de uma terça-feira, a agente da CVC sugeriu que fôssemos na segunda-feira para evitar os contratempos comuns nesta época do ano, principalmente em relação à neblina. Poltronas estreitas, pouco espaço para as pernas e desleixo na manutenção da aeronave foram os destaques negativos, apesar da boa vontade da tripulação.

Foram aproximadamente cinco horas e meia de viagem até Caracas, capital da Venezuela, onde houve uma escala de 50 minutos Uma hora e meia depois descemos no Aeroporto Internacional de Punta Cana que mais parece um enorme CTG porque é o telhado é coberto por capim do tipo santa fé. O interior do terminal é bem cuidado e refrigerado por enorme ventiladores de teto com pás descomunais. O terminal também possui um free shop com poucas lojas. Na chegada é preciso, além de apresentar a guia de praxe e o passaporte, pagar uma “taxa de turismo” no valor de 10 dólares

· Susto: Depois de cumprir as exigências legais fomos para a esteira que, não raro, reserva surpresas desagradáveis. A demora foi normal, mas foi recheada de suspensa quando sisudos policiais chegaram trazendo na coleira enormes cães farejadores que se postaram sobre as malas. O medo era justificado pela presença de um quilo de erva mate em minha única mala. Lembre-se que todo produto de origem animal ou vegetal deve ser formalmente informado num formulário específico para análise e posterior liberação. Mas toda esta burocracia atrasaria o chimarrão do final de tarde!

Quatro bem humorados casais de Alegrete (RS) também tremeram. Mas relaxei, afinal, tinha passaporte, cartão de crédito e dólares no bolso da camisa e pensei: “Se os cachorros acabarem com meu chima largo as bagagens e compro óculos de sol, protetor solar e uma bermuda no camelô”. Felizmente passamos (todos) incólumes pela cachorrada que fuçou bastante entre as bagagens.

· Chegada: O forte calor foi o anfitrião perfeito, juntamente com uma legião de prestativos nativos (a maioria jovens) dispostos a carregar nossas tralhas até o ônibus que nos aguardava. Dei 5 dólares de gorjeta e notei que o guri não acreditava. Depois descobri que com apenas 2 dólares era possível conseguir pétalas de rosa e a colcha da cama dobrada em forma de ondas do mar pela camareira do nosso bangalô.

· Hotel: Ficamos hospedados no Bávaro Princess Hotel, Resort, SPA e Cassino (http://www.booking.com/hotel/do/bavaro-princess-all-suites-resort-spa-casino.pt.html) cuja estrutura é fantástica com mais de 2 mil funcionários! O enorme bufê se transforma todos os dias numa barulhenta Torre de Babel no café da manhã - quando pássaros de vários cores sobrevoam as ilhas gastronômicas - e à noite quando sempre um país é homenageado com pratos típicos.

Servir água em todas as refeições é uma tradição. Basta sentar-se à mesa para descobrir isso. O hotel dispõe também de três restaurantes especializados em carnes, frutos do mar e gastronomia francesa, mas que exigem reservas até às 10h e onde é proibido o uso de bermuda, chinelo e camisa regata.

Ao longo do percurso, do hall de entrada até os bangalôs, é possível vislumbrar vistosos pavões, barulhentas araras, sabiás cantores, cardeais e seus topetes colorados e uma infinidade de pássaros silvestres, além de um passeio ecológico dentro do próprio hotel.

· Shows e bebida: À noite os bares do entorno do hall lotam com a oferta de chope, água mineral e drinques de todo tipo, basta pedir. Um dos atendentes ficou curioso com a cuia de chimarrão que eu levava e acabou provando (e gostando) do nosso mate, embora no início tenha confundido com a bebida típica dos argentinos. Às 20h30min se iniciam os shows variados com música caribenha, americana, discoteca além de espetáculos de humor e mágica. Ao final são concedidos 5 minutos para fotos (pagas) com os artistas. Na noite da discoteca (sexta-feira) a balada entra madrugada a dentro com DJs que não deixam ninguém sentado.

· Acomodações: O hotel localiza-se dentro de uma floresta tropical com vários espaços intocados. São mais de 500 bangalôs em conjuntos de quatro unidade (duas em cima, duas na parte inferior) com cama king size, frigobar, jacuzzi, tevê LCD, cofre e ar condicionado central (que pifou em duas noites com 28°C!). Por causa do tamanho e das distâncias, o hotel disponibiliza transporte interno, igual aos dindinhos que das nossas praias do litoral gaúcho, que funciona das 7h à meia-noite. Fora deste horário basta ligar para a recepção que o “frete” é feito gratuitamente. Existe uma área denominada Premium com acomodações diferenciadas, colchões king size à beira mar, esportes náuticos incluídos e várias mordomias. Para isso é preciso pagar uma diferença que gira em torno de 45 dólares diários.

· Praia: A praia é igualzinha às fotos e folders das agências de viagens. Tem areias brancas, águas mornas azuladas de doer os olhos e praticamente sem ondas. Dois bares funcionam lado a lado à beira d’água. Um serve bebidas (chope, água mineral e 4 tipos de drinques diferentes a cada dia) e outro oferece lanches do tipo MacDonalds). Também existe um restaurante estilo bufê que, à noite, é batizado de Gaucho (sem acento), especializado em grelhados. Outra atração à beira mar é o topless, predileção de muitas mulheres européias, mas a maioria deveria ser proibida de praticá-lo...

Na beira da praia é possível comprar charutos (uma dos produtos típicos da ilha, mas os experts aconselham lojas especializadas), óculos de sol e semijóias. Diariamente dois homens percorrem as areias num incansável vai-e-vem curioso para nossos padrões. Um porta uma máquina fotográfica, outro leva no ombro saguis, cobras enormes (aquelas pítons, de tons branco-amarelados) e iguanas,um bicho a cada dia. A foto custa 10 dólares. Há também grupos de crianças que tocam violão, triângulo e pandeiro fazendo coreografias dominicanas típicas. Depois, claro, passam o chapéu – aliás, um boné – para arrecadar alguns dólares ou pesos.

· Passeios: Há uma grande variedades principalmente de locais para mergulhos e nado com golfinhos e inofensivos tubarões. Há ainda safáris e trilhas para motos e jipes. Eu e Cármen fizemos um único roteiro, denominado Caribe Adventure, ao custo de 180 dólares por pessoa. Não é barato, admito, mas valeu cada dólar!

Fomos buscados por um ônibus Comil (fabricado em Erechim!) às 7h30min com retorno às 20h30min. Pela manhã, depois de duas horas e meia de viagem através de rodovias estreitas que cortam diversas pequenas cidades, chegamos a uma praia onde um catamarã nos esperava com bebida, comida e frutas.

Durante todo o dia mergulhamos em translúcidas piscinas naturais e pudemos vislumbrar o local exato onde o Caribe e Atlântico se encontram. Ao meio-dia fomos degustamos lagostas assadas numa espécie de churrasqueira pendente para fora do barco. Para gaúchos saudosos de casa (como eu) havia carne de panela e frango, uma das especialidades de Punta Cana, servidos com arroz, saladas e sobremesa.

À tarde, de jangada para não comprometer a fauna marinha, conhecemos um manguezal localizado em pleno mar! Berço de várias espécies de aves, o conjunto de vegetação é venerado pelos nativos por ter salvo as praias no último furacão que dizimou várias cidades costeiras. Trocamos novamente de embarcação e passamos a navegar num barco tipo Mississipi com enorme pás em forma de roda na parte traseira. Singramos um lindo vale emoldurado por vegetação fechada e vislumbramos luxuosos condomínios com inúmeros campos de golfe. De longe vimos as mansões de Shakira, Julio Iglesias, Vin Diesel e da família de Michael Jackson enquanto brindávamos à vida com espumante francesa.

Compras: Outro pequeno roteiro, ao custo de 40 dólares por pessoa, foi feito numa tarde a três shopping centers. Mas cá entre nós, devo admitir que apenas um conjunto destas lojas valeu a pena porque possui lojas das principais marcas mundiais, como Chanel, Dior, Gucci, Prada, Lacoste, Diesel, Adidas, Louis Vitton, Nina Ricci e Kenzo entre outras. Confira em http://www.viajenaviagem.com/2011/01/compras-em-punta-cana/;

Internet: O sistema do hotel é intencionalmente concebido para que se possa usufruir da ampla e variada estrutura existente. Minha mulher levou o netbook (contra a minha vontade) alegando que gostaria de, pelo menos, avisar a gurizada lá de casa que tínhamos chegado bem. Descobrimos que o custo para usar a internet é de 15 dólares por dia, com pedido mínimo é de dois dias, além da caução de 100 dólares na retirada do modem. Mesmo assim o acesso não é facilitado e constante.

· A (boa) fama do Brasil e dos brasileiros: O povo da República Dominicana tem uma certeza: nós, brasileiros, somos ricos! O guia que nos levou ao passeio de barco pelo Caribe justificou:

- Há dois ou três anos havia no máximo quatro brasileiros num ônibus de 40 lugares. Hoje temos passeios exclusivos para vocês que lotam os nossos hotéis. É por isso que todos têm inveja de vocês! – esclareceu.

Tentei convencer um vendedor ambulante de que tínhamos pago a nossa viagem em 12 vezes, mas ele não se deu por vencido:

- Pelo menos vocês têm emprego para pagar as 12 prestações. E nós. que nem isso temos? – devolveu.

A jornada de trabalhos lá é de 11 horas. A cada 12 dias trabalhados eles têm três de folga. A maioria reside em cidades distantes 80, 90 quilômetros da zona hoteleira. Por isso, muitos moram nos alojamentos dos hotéis, fazendo “bicos” para turistas para engordar o orçamento. O salário, em média, é de 120 dólares mensais.

O momento de crescimento econômico do nosso país não é absorvido apenas pelos dominicanos. Falei com 3 haitianos que fugiram do país por causa da miséria e dos conflitos. Ele foram unânimes:

- Queremos aproveitar o intercâmbio entre os dois países para trabalhar na construção civil, nas obras da Copa do Mundo e do PAC – contaram todos eles.

· Solidariedade, marca registrada: Impressiona a nós, famosos pelo calor humano, mas nem sempre tão solidários, o espírito humanitários que move aquele povo humilde e sempre sorridente. O guia turístico informou que 23% do Produto Interno Bruto (PIB) da República Dominicana é oriundo do turismo, o que não surpreendeu. A segundo maior fonte da entrada de divisas (17%), no entanto, é oriunda de recursos enviados ao país por dominicanos que residem no Exterior. Este dinheiro é destinado para familiares, amigos, vizinhos e ex-colegas de trabalho que estão desempregados. Alguém imagina gesto semelhante no Brasil?

· Os norte-americanos: A maioria dos dominicanos detestam os filhos do Tio Sam. - Eles só querem o nosso dinheiro, não dão gorjeta, nem conversam com a gente como vocês brasileiros fazem. É um povo arrogante! – desabafou um guia sem esconder a ojeriza ao povo que mais dinheiro despeja em seu país.

Já os brasileiros são adorados. Dizem que nos conhecem porque puxamos conversa e, como eles, sorrimos muito. Os garçons dançam e cantam músicas caribenhas, nem se importam em trabalhar de calça e mangas compridas num calor de 32°C!

domingo, 12 de agosto de 2012

Deixem-nos sermos simplesmente pais!

Querem um bom presente para o papai? Que tal permitir-lhe o direito de exercer a paternidade da forma mais verdadeira possível? A antropóloga e escritora Mirian Goldenberg escreveu sobre o tema no jornal Folha de São Paulo, no início da semana, “como uma homenagem aos pais” e alertou: “no centro do palco da maternidade, a mulher não quer dividir o poder e trata o homem como mero figurante”. A autora, por exemplo, se diz perplexa diante da lei em vigor sobre a licença-paternidade que reserva ao pai apenas cinco dias para dar atenção ao recém-nascido, enquanto a licença-maternidade é aplicada por quatro meses. “Cuidar de um bebê é muito mais do que garantir a ele o aleitamento materno”, alerta, ao lembrar que os meses iniciais de contato necessários para que tanto o pai quanto a mãe estabeleçam com a criança o vínculo afetivo que será fundamental ao seu desenvolvimento emocional e social.


Cabe ao pai apenas “ajudar” a mãe, considerada pela sociedade como a detentora exclusiva da arte de criar um filho. E lembro do quarto de meu terceiro filho, onde acima do berço, jazia uma imensa foto da sua mamãe, ainda o levando na barriga, entre tecidos leves com ar angelical. O pai estava aonde? Dirigindo o carro à maternidade, inspecionando a temperatura da sala, da mamadeira mais tarde. Um típico ajudante. Segundo a antropóloga, muitas mulheres vivem a maternidade "como um poder que não se compartilha", portanto, nós homens, acabamos como meros "coadjuvantes “ou "figurantes em um palco em que a principal estrela é a mãe e, depois, as avós, as tias, as babás e as empregadas domésticas.”

Assim, limitados a um involuntário secundarismo, os papais acabam com a fama de imaturos, ausentes, irresponsáveis e incompetentes quando não se encaixam ao formato serviçal. As meninas treinadas a serem mamães de suas bonecas reforçariam a natureza feminina destinada à maternidade que acaba por empurrar, futuros pais ao quinto escalão da relação afetiva com o filho. Segundo Gondenberg, não existe nada no jeito de ser masculino que o impeça de ir além e assim cuidar, alimentar, acariciar, acalentar e proteger seu filho.

E conclui a antropóloga: “se as crianças aprenderem que o pai e a mãe podem ser igualmente disponíveis, atenciosos, responsáveis, protetores, presentes e amorosos, é possível que, em um futuro próximo, exista uma maior igualdade entre homens e mulheres e a crença de que em nenhum domínio (público ou privado) um dos gêneros é superior ou mais necessário do que o outro.”

Ou seja, se elas dizem que somos “atrapalhados” com crianças, provemos que não dependemos do porte de um super-homem ou mero faz-tudo. Basta aceitarmos a paternidade com amor e devoção e exercê-la além do protótipo “natural” que nós mesmos, coartífices da família no formato que ainda impera hoje, ajudamos a estabelecer. Obrigado Mirian, me senti presenteado com tua opinião.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Tombo as pés do pódio


Em Londres, depois de ter sido eliminada dos Jogos Olímpicos, a judoca brasileira Rafaela Silva admitiu ter errado. Horas depois, na internet, a atleta não lidou nada bem com a frustração. Criticada no Twitter, respondeu com palavrões cifrados e bateu boca com seguidores. Já a judoca gaúcha Maria Portela também eliminada logo na estreia dos jogos de Londres, da categoria médio (até 70kg), derrotada por ippon pela colombiana Yuri Alvear assumiu os erros e com extrema humildade fez uma autocrítica pungente e comovedora sobre sua atuação. “Joguei fora a chance de minha vida”, lamentou entre lágrimas. E aí entramos nessa linha fina que nos divide entre a insensatez e o equilíbrio. Muito mais do que saber perder é fundamental estar preparado para a vitória.

Rafaela Silva é o talento que emergiu das comunidades carentes do Rio de Janeiro e merece todo o reconhecimento pela superação que a colocou em um patamar diferenciado. É exemplo! Errou, reconheceu a derrota e depois saiu a chutar o balde com grosserias, como se estivesse de volta aos grotões do vale tudo social de onde foi resgatada. Não sei das origens de Portela. Sei que perdeu o controle emocional do jogo e, aos prantos, nos comoveu com uma análise pesada e dolorida sobre sua derrota. Ambas tinham seus corpos preparados, a técnica apurada e talvez estivessem em choque com o espírito que lá no fundo não se preparara à altura, e titubeava diante da possibilidade da conquista.

E fico pensando das vezes em que eu mesmo, próximo a atingir uma meta e diante do desafio, por pouco não desisti porque, mesmo com todo conhecimento e preparo, acordava nas madrugadas suando, apavorado, inseguro duvidando de minha própria capacidade. Sem treinadores, sem acompanhamento psicológico, apenas com o instinto ou apegados a um débil sentimento de amor próprio, acabamos forçados a reconhecer, entre lágrimas, que não podemos seguir adiante, ou pior, culpamos terceiros, xingamos o mundo cruel.

Para não sofrermos um ippon do cotidiano, precisamos estar sempre bem preparados em tudo, o que inclui, além da capacitação técnica, uma preparação íntima, lá dos interiores da alma. Uma faxina nos traumas, nas convicções tortas do passado, nas inseguranças adquiridas. Ninguém é fruto de uma bolha de pureza existencial. É assim que aprendendo a respeitar adversários reconhecemos nossas próprias limitações e confiamos, sem reservas, na capacidade individual de superação. Com certeza, as chances de voltarmos para casa com alguma medalha se tornam muito mais nítidas. As derrotas não serão mais tratadas com fúria ou culpa, mas como lições de vida. E no fundo, tudo que se aprende com os tombos é sempre um prêmio.