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sexta-feira, 29 de julho de 2011

Help! Os 46 anos do filme que antecipou a MTV

No dia 29 de julho de 1965, foi lançado o segundo filme dos Beatles. Help! "Uma aventura surreal," segundo a crítica da época, com cenas em Londres, Bahamas e Alpes Suíços e uma estética que influenciou, definitivamente, o estilo de clips, tal qual conhecemos hoje. Aliás, o diretor Richard Lester, é considerado o "pai da MTV".

No filme os quatro cabeludos sofrem com a perseguição de membros de um culto indiano que precisa do anel de Ringo para seu culto. Tem versão remasterizada nas locadoras. Lembro que no Brasil, o filme chegou quase um ano depois... Eles já haviam lançado Rubber Soul, preparavam o fantástico
Revolver e nós gaúchos, nos conformávamos com os cartazes do filme, a amarelar nas galerias dos cines Imperial e Guarani, na Rua da Praia.

Hoje, antes mesmo de chegar às telas, já temos as cópias pirateadas dos grandes lançamentos em filmes e música. Quando me dou conta disso, me sinto o próprio homem das cavernas, recém saído da idade da pedra. Que coisa! Mas na verdade, os anos 60 representaram a abertura de portas para esses tempos digitais. Havia ânsia pela revolução do novo.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Guia caseiro de compras e diversão em Rivera


Gilberto, Henrique, Carmen e Laura: um brinde a Rivera!
Por Gilberto Jasper/Especial Concriar

Fazer um passeio à fronteira do Rio Grande do Sul é sempre bom. Para a alma, para o espírito e, porque não, também para o bolso... Desde que se faça compras - como diz o comercial - “... com moderação”. No último final de semana fui novamente a Santana do Livramento. A esposa e os dois filhos adolescentes (15 e 17 anos) acordaram cedo (sem reclamar) e ás 5h30min estávamos na estrada e pouco antes do meio-dia chegamos. (dicas anteriores sobre Rivera, clique aqui)

Abaixo algumas dicas que, eu espero, sejam úteis para aproveitar as compras no Uruguai, evitar contratempos e perda de tempo na estada pela fronteira da paz:

| Viagem: Procure elaborar um planejamento mínimo. Por exemplo: chegamos perto do meio-dia e decidimos almoçar cedo para evitar otumulto entre 13h e 14h30min quando restaurantes, bares, lancherias e congêneres estão superlotados. Ao terminar a refeição, fomos às compras com o movimento em baixa e revigorados da jornada de quase sete horas de estrada.

| Viagem II: Como contei no depoimento anterior, antes de sair de casa costumo passar no supermercado e comprar refrigerante, frutas, água mineral e barras de cereal. As bebidas são colocadas numa bolsa térmica com gelo. A cada hora e meia paro para esticar as pernas, espantar o sono e ir ao banheiro. Vale a pena! Serve como prevenção e para curtir o visual do pampa gaúcho.

| Hotéis: Os principais são Portal, Verde Plaza e Jandai,tradicionais que possuem preços semelhantes, mas existe uma infinidade de hotéis menores, pousadas e hotéis fazenda na entrada da cidade.

| Hotéis II: Os tradicionais têm apartamentos de luxo casal ao custo aproximado de R$ 200,00 e de solteiro por R$ 150,00 com pequenas variações. De segunda a quinta-feira os preços são bem mais atrativos, sem falar no movimento da Avenida Sarandi – onde se concentra a maioria dos free shops - que é menor e os balconistas dispõem de mais tempo (e simpatia) para fazer um atendimento personalizado. Evite viajar sem reservas antecipadas! O roteiro para Livramento está super aquecido, inclusive no meio da semana. Nos feriadões o movimento chega a 30 mil turistas!

| Pesquisa: Na minha opinião não adianta pesquisar muito, ainda mais para quem  tem pouco tempo. A diferença entre os preços é mínima. Geralmente onde o valor cobrado é bem menor existe a grande possibilidade da cotação do dólar em relação ao real estar acima da média. Abra o olho!

| Variedade: A diversidade de produtos de todos os tipos chama a atenção. Existem muitas mercadorias não encontráveis por aqui, inclusive de marcas renomadas. Isso vale para eletroeletrônicos, bebidas, cosméticos,perfumes, alimentos, roupas pesadas de lã e couro e quinquilharias em geral (apetrechos para chimarrão, copos e braseiros de inox usados para acomodar aparrilla, tênis, entre outras atrações).

| Alimentação: Na hora do meio-dia devoramos duas ala minutas ao custo de R$ 45,00 cada. Foram porções generosas por um entrecot macio, acompanhado de fritas, arroz, salada mista e ovo frito, regada com cerveja da melhor qualidade porque não iria dirigir mais naquele dia: Norteña, Patrícia ou Pilzen - pequenas, medias ou de litro. Praticamente todos os restaurantes mantêm uma vasta carta de vinhos a preços mais baixos que os cobrados pelos similares gaúchos nos restaurantes de Porto Alegre. Graças à ausência ou taxação reduzida.

| Alimentação II: Se você viajar com crianças ou adolescentes procure opções que ofereçam carnes, massas e pizza para atender a todos os gostos. O Hotel Uruguai-Brasil, localizado no coração da Avenida Sarandi, é uma boa opção, apesar da desorganização. Em nenhum estabelecimento é observada a ordem de chegada ou distribuída senha para a chamada dos clientes. Dica: Observe uma mesa onde as pessoas já estão no cafezinho ou sobremesa, puxe assunto com elas e fique por perto. Quando levantarem, peça licença e sente rapidamente!

| Vinhos e bebidas: A loja Barão, uma das principais – em preços e variedade – está concluindo as obras e possui uma das sessões de Rivera. Vasta, espaçosa e onde as promoções chamam a atenção. O honesto carmenère chileno Cassillero Del Diablo custa 8,30 dólares, mas há desconto para compras acima de duas garrafas. Há cervejas de vários países, tequila, absinto, vodkas espetaculares, energéticos de diversas marcas,espumantes (as champanhes) de países inimagináveis e várias atrações.

| Vinhos e bebidas II: O que facilita a compra é que as bebidas são entregues diretamente no hotel. É uma cortesia oferecida por todas as lojas. Basta acompanhar o carregador que não cobra gorjeta, mas fica feliz ao recebê-la. No final de semana foi impressionante a procura por vinhos – argentinos, uruguaios, italianos e chilenos – principalmente. Mas observe a cota máxima que é de 10 litros (e não 10 garrafas) por pessoa para evitar complicações em caso de fiscalização da Receita Federal. Esta quantia deve estar dentro da cota máxima por pessoa de 300 dólares.

| Outras opções: Chocolates suíços, queijos de todas as variedades (inclusive ralado), azeite, alfajores, temperos variados, o irresistível dulce de leche (doce de leite), balas coloridas (xodó da gurizadinha!) estão entre produtos de excelente qualidade e preços atrativos.

| Fiscalização: A Receita Federal mantém permanentemente um treiler na entrada de Livramento, junto à Polícia Rodoviária Federal. Nunca fui parado, mas os veículos grandes – especialmente as picapes – são alvos preferidos dos patrulheiros. Evite exagerar na compra de eletroeletrônicos (como splits eaparelhos de som), e pneus. O excesso geralmente não é perdoado. E a burocracia para regularizar a situação é lenta, sem falar da despesa...

Outras dicas:
  • Evite dirigir com sono: a viagem tem inúmeros trechos feitos de longas retas que são traiçoeiras sem a noite foi mal dormida;
  • Revise o veículo antes de pegar a estrada.
  • Cheque principalmente freios, faróis, estepe e não se esqueça de calibrar os pneus. Há grandes extensões de rodovia sem postos de gasolina, oficinas mecânicas e borracharias.
  • Fique de olho na previsão do tempo. Viajar sem chuva ou neblina é sempre mais prazeroso e     menos cansativo.
  • O pagamento com dinheiro vivo – dólar ou real – permite maior barganha. A maioria das     lojas mantém preços diferenciados
  • Evite andar de carro em território uruguaio. Nos finais de semana o movimento é intenso e a probabilidade de pequenos acidentes é grande, o que causa muitas dores de cabeça aos motoristas porque a burocracia dos hermanos é implacável.
  • Se for necessário faça várias “viagens’ ao hotel para levar sacolas.
  • Todas as lojas (à exceção da Siñeriz) mantêm armários na entrada para guardar compras. Eu costumo deixar o carro na garagem do hotel na chegada e retirá-lo somente na hora do retorno.
  • E por último: se você não quiser se incomodar com amigos, parentes e conhecidos, evite divulgar que viajará para fronteira. Do contrário, sua cota máxima de compras será     preenchida somente com emcomendas...
 Boa viagem!

domingo, 24 de julho de 2011

Amy, e o soul cantando agora livre

Eu ouço Amy Winehouse sempre com uma sensação de aperto no peito. Com Janis Joplin era a mesma coisa. Canções rasgadas em emoção - ora irônicas, ora despudoradamente apaixonadas - mas sempre com um pé na cova, a cavar tragédias só pra ter motivo para mais uma dose...

Agora que ela se foi, e com certeza, onde estiver deve estar finalmente em paz. Quem sabe ao escutar seu belo timbre de voz, consiga aproveitar melhor aquelas melodias - modernas - embora a ambiencia dos arranjos à moda do soul music de minha infância.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Escândalos para inglês ver

Será que o escândalo das escutas telefônicas promovidas às escondidas pelo News Of The World servirá de exemplo e acabará com essa imprensa antiética e medíocre, que alimenta-se do pior da raça humana? O semanário inglês de 168 anos fechou as portas esta semana. Os grandes grupos tomarão mais precauções, e continuarão com seu noticiário de fofocas, deduções instáveis e calunias sobre gente inocente ou ávida por promoção. Mesmo assim, acabam invadidas em sua intimidade por fotógrafos e redatores sem escrúpulos. O público leitor, a grande massa que consome tragédias para sublimar as próprias mazelas, consome avidamente esse tipo de jornalismo.

Eles ficam à espreita, vigiam artistas, políticos e outras figuras ilustres sempre esperando o erro fatal. Sim, Amy Winehouse é uma grande cantora, de vida atribulada e tragicômica, mas só acompanhar seu trabalho não adianta. É preciso acompanhar o mico, às vezes escatológico, outras vezes deprimente. Jogar a condição humana na vala mais suja, como a repetir: olhem aí seus ídolos de barro!

Conservadores, somos todos. Moralistas de bombachas que, na maioria das vezes, pisam no próprio pala e aí gritam, desesperados, contra a “falta de profissionalismo” das publicações sensacionalistas. Os fãs de musas criadas pela mídia, como Britney Spears, não se contentam com suas canções de fácil disgestão, ou clipes ultraproduzidos, querem as imagens distorcidas dos paparazzi que as flagram sem calcinhas, em boates da moda, ou de amasso com outras celebridades, em excessos que envolvem drogas e álcool.

Escândalo só não é bom quando bate a nossa porta. Aí a casa cai! De resto, estamos de portas abertas aos programas de fofocas, às revistas coloridas com notícias sem cor, sobre a fulana que ficou com este, esta e aqueles tantos outros. É um resurmir-se a tão pouco que chega a envergonhar (quem tem a vergonha no lugar certo, ou seja, muito acima do local focado na maioria das vezes).

É justa a condenação, o rigor na punição aos que foram longe demais. Mas entre os bretões toda a nudez será castigada. Aqui, se desnuda o crime, mas existe sempre uma maneira escusa de se defender o indefensável. Quem mandou se expor? “Se age assim, é porque quer aparecer”. Mas quantos casos sérios, sequestros ou assassinatos misteriosos, foram atrapalhados por “investigações” sensacionalistas?

A ressaca da musa, o affair gay de um galã é só a camada mais fina deste submundo que se diz jornalístico. Mas é apenas panfletagem rala em papel caro. E aí, vamos continuar assinando estas publicações?

quinta-feira, 7 de julho de 2011

A economia nossa de cada dia


Lidar com as finanças é uma arte
Assisti a palestra de Gustavo Cerbasi, quarta-feira (6), à noite, promovida pela corretora Geração Futuro, em Porto Alegre. É uma dessas ocasiões em que tomamos uma injeção de ânimo e renovamos o compromisso com nós mesmos de economizar mais pensando no dia seguinte. Muitos saíram de lá motivados, e se conseguirem superar a rotina do desperdício e desequilíbrio, seguirão adiante. Cada uma a sua maneira e dentro de sua própria realidade.

O ideal, como insiste a economista da família, Magali Beckmann,  por acaso minha esposa, é evitar o lugar-comum de nos depararmos de com um daqueles monstros típicos do mau uso do dinheiro e, diante de problemas quase insolúveis, nos boicotarmos com pensamentos do tipo: “Mês que vem compenso e deposito um pouco mais.” Sabemos que esse dia nunca vem e caímos na boca de outro monstro, maior ainda.

Cerbasi é um profissional pragmático, que viu nas maçantes aulas de análise fundamentalista que proferia, a oportunidade de tocar num assunto que ainda é restrito nos lares domésticos: a educação financeira. Com os pés no chão, e adaptada a realidade de cada um, ele diz que é possível sim conquistar a independência financeira.

“O primeiro milhão parece impossível? Comece com a metade”, diz ele, inspirado pela própria experiência: aos 37 anos, está “aposentado”, mas trabalha só por prazer. Aí você pensa: “por que não guardei dinheiro quando era jovem?” O próprio Cerbasi lembra que hoje, vivemos muito mais. E assim, não faltará tempo para uma virada, especialmente para nós, 50tões que, em nossa juventude enfrentávamos o descrédito das instituições financeiras. Bolsa de Valores? O que era isso em 1950 ou 60? Dinheiro era aquilo que a inflação devorava. Feliz a geração da estabilidade destes novos dias!

Quem é Gustavo Cerbasi:
Mestre em Administração/Finanças pela FEA/USP, formado em administração pública pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), com especialização em Finanças pela Stern School of Business - New York University e pela Fundação Instituto de Administração (FIA).  Leciona em cursos de pós-graduação e MBAs pela Fundação Instituto de Administração, além de diversos cursos ministrados in company. Com experiência prática e acadêmica em finanças dos negócios, planejamento familiar e economia doméstica, desenvolve treinamentos, palestras e consultorias para diversos públicos por todo o Brasil.

Bibliografia:
  • Casais Inteligentes Enriquecem Juntos
  • Dinheiro – Os segredos de quem tem
  • Filhos inteligentes enriquecem sozinhos
  • Finanças Para Empreendedores e Profissionais Não Financeiros
  • Investimentos Inteligentes
  • Investimentos Inteligentes (Guia de Estudo)
  • Mas Tempo, Mas Dinheiro
  • As Mulheres e o Dinheiro
  • Cartas a um jovem investidor
  • Como Organizar Sua Vida Financeira
  • Guia para Investir em Ações
  • Investimentos inteligentes

terça-feira, 5 de julho de 2011

Acelerados na cidade nervosa

Havia uma cidade onde todos tinham muita pressa. Levantavam uma hora antes, afobados. Tomavam café às pressas, vestiam as crianças em segundos, os que tinham crianças a cuidar e lhes alimentavam de um desjejum instantâneo, sem sabor, porque saborear exige tempo. Em seguida, estavam na porta da casa, do ônibus escolar ou na recepção da creche. Mãos nervosas a acenar beijos tensos. Precisavam estar à frente, antecipar-se ao engarrafamento, evitar as filas. Porque tinham de estar lá, precisamente na hora certa. Ou melhor, muito melhor, alguns bons minutos antecipados. Assim, corriam para pegar o ônibus, ou abrir a garagem, para antecipar segundos, buscar um desvio, escapar do sinal fechado, avançavam faixas de pedestres. Cometiam deslizes, em nome do compromisso, esqueciam os bons modos e reclamavam de quem lhes atrapalhava o ritmo. Se havia fila, davam um jeito de furá-la. Que feio!

Esta cidade sofria com altos índices de intolerância. Todos chegavam praticamente juntos para disputar os espaços, cada vez menores, no ônibus, no trem ou nos pontos dos táxis, onde motoristas neuróticos odiavam os roteiros em vias congestionadas. Mas lá, existiam apenas avenidas modernas, entupidas de gente e veículos. De todos os tipos, modelos ou cores. Sempre a mil. No trabalho, lutavam por mesas, computadores, telefones e cargos que acelerassem seus processos. A ânsia de poder, não os permitia perder tempo para o questionamento abstrato, que de uma maneira ou outra, poderia encaminhar soluções menos sofridas. Mas a vida naquela cidade era para ser rápida feito seus lanches, seus cafés em pó e sua fugaz alegria.

Eles riam nos bares, ao final do expediente. Misturavam bebidas e enérgitos para acelerar o prazer como quem busca recompensa por uma missão que não se definiu ainda o sentido. Voltavam para casa dispostos a dormir o quanto antes e assim, no caminho, não percebiam a cidade aflita por uma noite sem sirenes, ou mortes gratuitas. Apenas uma noite para sonhar. Mas sonhos não eram mais permitidos, porque lhes obrigariam a pensar, interpretar as mensagens de seus subconscientes. Então, tomavam pílulas para dormir e, ao acordar, pílulas para lhes bloquear o apetite, pílulas para motivar a repetir a rotina da pressa.

Lembro que no dia em que parti desta cidade funesta. se formara um grande congestionamento nas principais vias. Todos, exceto alguns poucos excluídos, haviam se deslocado exatamente na mesma hora. Haviam caminhado os mesmos passos afobados, percorrido as mesmas ruas na mesma louca velocidade e, desafortunadamente, cometido as mesmas pequenas contravenções para chegarem, é claro, antes.

Assim, de uma forma inédita trancaram ruas, calçadas, elevadores e todos os espaços públicos possíveis. Ainda consegui ver a minoria lenta circulando por vias alternativas. Evitavam assim a neurose dos semáforos de três estágios, a zanga dos jogavam - uns contra os outros seus parachoques - e frustrações. Escapavam da fobia dos que não sabiam admitir que, às vezes, mudar o rumo evita um grande problema e cria uma nova alternativa. A cidade de uma hora para outra, estava entupida de gente afobada.

Gente que não conseguia desligar. Que pensava na aposentadoria que viria um dia, ou no final de semana que passaria rápido demais, entre o shopping, o cinema e quem sabe um pouco de amor, eterno dentro de alguns minutos. As buzinas soavam como somente o coral do desatino poderia soar: aos berros. Os gritos, os desaforos e as ambulâncias misturavam-se em outros tons, sem saber a quem  socorrer. Era um engarrafamento monstro de ansiedade bruta. De monolítica ignorância entre tantos cidadãos com diplomas, títulos de nobreza e uma não declarada vontade de sumir o mais rápido possível.

A minoria lenta seguiu pacientemente a desviar dos grandes corredores, das perimetrais e túneis que a cidade grande construía para causar uma falsa sensação de agilidade, de leveza urbana e trancar tudo metros adiante, em seus funis de concreto. E foi assim que esta destemida minoria lenta chegou lá. Ainda a tempo de bater o ponto sem angústia. Aproveitar o aroma gostoso do café recém-coado e observar, da janela, o movimento das pessoas nas calçadas, desta vez, cada um a seu ritmo, com um toque inédito de civilidade e paz. Pontuais, como sempre poderiam estar.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Eu, Roberto e Julio Iglesias en la noche


Faz tempo, Julio...
 Estávamos eu e meu amigo e parceiro musical, Roberto Quintana – isso lá nos anos 80 – a jantar em um restaurante situado bem na esquina da avenida José de Alencar, com Praia de Belas, (em Porto Alegre, é claro), quando percebemos que, de uma hora para outra, centenas de mulheres passavam a circular nas ruas, vindas de não sei onde, em uma espécie de procissão noturna. Aos poucos percebíamos que a grande maioria era formada por senhoras de meia-idade e todas, traziam nos olhos, aquele ar apaixonado de menina adolescente que namorou no portão.

Grande parte delas acabou ocupando as mesas restantes do restaurante onde estávamos. E tivemos a oportunidade de perguntar-lhes de onde vinham: “Vocês não sabem do show de Julio Iglesias?” Era  o auge do fenômeno español romântico-brega, com suas canções em arranjos pasteurizados para corações femininos apaixonados. Lembrei disso nesta sexta-feira, porque pela manhã, no rádio, ouvi sobre o lançamento de uma coletânea com os grandes clássicos de Julio Iglesias e, não faz muito tempo, minha mãe assistiu a um concerto do cantor espanhol, desta vez em um teatro de Porto Alegre.

Ela embora tenha todos os CDs em espanhol (porque nem as mais fanáticas agüentam o português do Iglesias), detestou. Segundo palavras dela, assistira ao espetáculo decadente “de um homem que não aceitava o passar do tempo.” O Julio Iglesias eternamente bronzeado, se encolhia no palco, encarquilhado física e espiritualmente. No intervalo das canções, era uma pífia lembrança do astro sedutor.

Reclamava da vida, demonstrando que não conseguia mais vender a imagem do amante cheio de paixão e, diante de suas antigas fãs, desfiava um cordel de lamúrias muito semelhantes a que elas, todo santo dia, ouviam dos maridos ranzinzas em casa. Mas ali, pagavam - e caro - ingressos pela fantasia do macho que, pelo menos, deveria ter amadurecido com charme.

O relato de minha mãe me remeteu a uma antiga coletânea de Iglesias, quando ousou transformar tangos clássicos em lamúrias cantadas ao fundo de uma parede maciça e repetitiva de violinos tediosos. Seria este decadente Julio Iglesias uma vingança de Gardel? Este sim, eternamente romântico e com a verdadeira representação, não do homem ideal, mas acima de tudo, do homem que se entrega, sem medo, a dor do mais intenso amor.

Lembro que, naquela noite, no bar lotado de fãs, eu e Roberto, acompanhamos atentos os comentários daquelas sensíveis senhoras. Concordamos com tudo que diziam, mesmo nos elogios aos dotes de intérprete do cantor. Contrariar mulheres em êxtase, jamais!