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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Minha laje, minha vida


Nas comunidades, toda laje pode virar um novo lar

Enquanto ouvia a homenagem às 239 vítimas da boate Kiss, li a postagem, no Facebook, do meu amigo, ex-editor, Amauri Mello, lá do Rio de Janeiro, a sugerir uma pauta preventiva à imprensa sobre as casas nas favelas-comunidades que, segundo ele, crescem cada vez mais graças aos preços módicos do material de construção e, segundo ele, “acabam virando um belo negócio”: O cidadão constrói sua casinha. Em seguida, vende seu “espaço aéreo”, ou seja, o ar sobre a laje. O novo dono conclui a obra e também autoriza outra casinha a um terceiro que, de repente, oferece a outro. “Tem na Rocinha, na Maré, no Vidigal”, garante Amauri, em postagem no Facebook.

Sem projeto arquitetônico, licença ou alvará, esse tipo de edificação acontece assim, na moita, irregular, embora a luz do dia, talvez com vista para o mar. E se um dia a casa, ou melhor, o poleiro habitacional cair? Alguns morrerão, liberando o espaço aéreo para imagens candentes de indignação em horário nobre. A paisagem recupera seu vazio assim como vazio é o debate que se divide entre o jogo de empurra entre políticos e órgãos fiscalizadores que se acomodam entre a incompetência e a omissão.

Lágrimas e aquela dor que só pune os incautos, promessas de “nunca mais”, em seguida dão lugar a constatação de que em outro lugar, ou quem sabe, próximo dali, outra aberração estrutural e arquitetônica ganha forma no céu aberto. É só acalmar a onda fiscalizatória que saciar a mídia, permitir que as agências criem novas e impactantes campanhas públicas que tudo volta ao princípio indissolúvel da impunidade. Fiscalizar, rotineiramente, com a lei debaixo do braço, dá muito trabalho. Rouba votos e tampouco gera boas imagens. Talvez por isso, nem pauta seja!

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

O melhor sabor da amizade

Os chefs Ari e Léa, no capricho
Salmão assado no forno, arroz com alho poró, uma salada ultra colorida e a maravilhosa companhia da homenageada Caren Mello (autora do registro), da Magali Beckmann, da Carol e da Léa Aragon, que nos emprestou a cozinha e ainda mostrou que não se aperta no fogão.

Como escreveu Caren,"A amizade pode aumentar em até 50% a taxa de sobrevivência de um indivíduo diante de adversidades à saúde física e mental, de acordo com uma pesquisa norte-americana." Bem temperada, a convivência é um ótimo alimento para o espírito.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Seja careta, em nome das vítimas da Boate Kiss


Quer prestar uma homenagem às vítimas da boate Kiss, de Santa Maria? Vá para o feriadão de Carnaval com um manual de bom-senso ao lado. Cumpra as mínimas regras de civilidade em todos os locais públicos possíveis. Nem vou comentar que, se você for proprietário de uma casa de espetáculo, a mídia está lá fora doida para fazer o maior carnaval – afinal é tempo de folia – contra tragédias evitáveis. Alguém aí vai criticar? Dizer que é exagero? Ou será que o certo é dar um jeitinho, acomodar de alguma maneira a irregularidade e torcer para que nada aconteça de pior?

Segurança não é despesa, é investimento. Em todos os níveis possíveis. Agir com prudência no trânsito, respeitar as pessoas, não furar nem aquela fila que circula aos gritos de “a-la-la-ô” pelo salão do Clube é fundamental. Tudo de alguma maneira se enlaça na hora da crise. Um amigo voltou do litoral catarinense impressionado com a quantidade de droga que se consome livremente em todos os lugares. É gente boa, guris com formação universitária, chefes de família que pensam apenas em “relaxar” e depois voltar para casa de cabeça feita. Não estou aqui para bancar o moralista. Cada um sabe de sua vida, mas eu pergunto: foi liberado o uso de drogas e eu não fui avisado?

Enquanto isso, os “empresários” do crime organizado, desafiam as autoridades, incendeiam dezenas de veículos de transporte coletivo, em Florianópolis, indiferentes à população acuada. São facções rivais, outras unidas querendo mais “conforto” nos presídios, de onde monitoram os seus muitos negócios, entre eles a venda de drogas, sempre muito lucrativa na alta temporada. Como dormir em paz sabendo a origem dos fornecedores de seu pequeno e fugas prazer? Sabe-se lá quantos morreram para se conseguir aquele produto? Exagero? Pura realidade. O conceito de ilícito não surge assim, de uma nuvem de ranço ou autoritarismo. E as leis, as centenas de milhares de regras, procuram tornar a vida mais organizada.

Mas somos educados para isso? Ou aprendemos no dia a dia, a lição do descaminho, a alternativa de “molhar a mão’ de quem fiscaliza para se driblar a regra? Se ela é eficiente, ou te prejudica, reclame na instância certa. Poucos minutos antes de iniciar esse texto, assisti a uma cena muito esclarecedora. Um motoqueiro passou em alta velocidade entre os carros engarrafados na Avenida Castelo Branco (Porto Alegre). Alguns metros adiante ele bate com o braço em um espelho retrovisor e quase dá um rasante no chão. “Tu não sabe dirigir”? grita ao atônito motorista, como se este tivesse alguma responsabilidade com o acidente.

Por isso, repito: a melhor homenagem aos jovens sacrificados pela irresponsabilidade de terceiros, não é deixar de pular o carnaval, mas ir à festa decidido a não colocar em risco a própria vida e, principalmente a de terceiros. Não é careta, não é chato: na verdade é assim que enchemos nossos olhos de imagens bonitas, felizes. Aquelas que levaremos para a velhice, como exemplo do verdadeiro bem viver.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Os mortos de nossa irresponsabilidade


A morte um dia nos levará, eu sei. Não é contra esta rota natural que me rebelo. Aprendo a administrar as dores da idade, a transformar as rugas em alertas sobre algo muito mais importante e que preciso aprender a cultivar debaixo da frágil pele, a aproveitar os gestos mais lentos que a natureza te impõe para meditar sobre a direção que nossas mãos deverão tomar. Antes do soco, o afago, sempre! Na hora de assinar qualquer termo, conferir se meu nome e sobrenome não irão validar uma carta aberta a delitos de qualquer natureza. Por favor, não sejamos mesquinhos!

Após toda desgraça saímos a correr contra os culpados, que naturalmente tentam escapulir. Ah! A tal responsabilidade passar a queimar a consciência de quem tem. E nós que votamos, temos documentação em dia, nós que recebemos algum tipo de educação, dificilmente lembramos-nos do instante obscuro em que talvez, tenhamos tentado driblar alguma norma. “Não vai dar em nada”, pensamos. E quando o caldo fervente se volta contra nós, repassamos a responsabilidade que é só nossa. No início do mês, um querido amigo, o Eudorico Morejano, faleceu enquanto se recuperava de uma cirurgia, vítima de uma dessas bactérias comuns a hospitais. Quem é o responsável pela frágil esterilização no milionário ambiente hospitalar que, por lidar com moléstias de toda a natureza, contamina-se com muita frequência?

Não podemos proibir nossos filhos de frequentarem festas. Não podemos evitar um tratamento médico. Adquirir um automóvel, por exemplo, é uma possibilidade de conforto e bem estar para toda a família. Mas aí, tem quem compre a habilitação, e saia cego de experiência e amor próprio, a dirigir pelas estradas, sem respeitar as leis de trânsito que ignora. Quantas vezes não fomos a eventos festivos e constatamos “se isto aqui pegar fogo, morremos todos”. A insegurança é tão visível que assusta a nós, leigos, como então, passou por uma fiscalização? Triste cegueira ética.

Por enquanto, rezemos pelas vítimas de tantas fatalidades. Não voltarão a vida. Mas nós podemos evitar novos acidentes fiscalizando, cobrando das autoridades públicas e observando nosso próprio comportamento nos pequenos detalhes do cotidiano. Tão minúsculos às vezes, quase imperceptíveis no cotidiano, mas fundamentais ao definir o caráter de um povo. Esquecemos em nossa pequenez que não somos apenas uma peça, somos A Peça!

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Cuidado com a obra do cão

Talvez cansado das muitas obras caninas que borravam em cores pesadas e odores fétidas a sua calçada, o Sr. Cidadão, com uma boa dose de humor, resolveu fixar pregos em uma frondosa árvore para incentivar os proprietários e recolherem e, quem sabe, penduram os saquinhos plásticos com a produção de seus bichos de estimação. Ficou esquisito, mesmo assim, ver é melhor do que pisotear.