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quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Um descasado e as sereias - Fim de história

Pescar, decididamente, não estava no projeto deste meu amigo descasado. Um típico macho da espécie que, ao chegar à meia-idade, só pensava em festa, para compensar o  passado monótono. Circulou por quase todo litoral sul e não chegou ao porto desejado, Agora retornava de uma  bem sucedida pescaria na Plataforma de Cidreira onde não fisgara nem uma sardinha sequer, mas observara a lua, o mar e o esforço do tio e de Cristina, bonita, mesmo vestindo um velho e surrado abrigo.

Não fugia as suas responsabilidades, sabia que transformar o resultado daquela pesca em alimento era com ele, então, não reclamou na interrupção de sua jornada em busca de sereias festeiras.Preparou um jantar especial, na casa de Cristina. Ouviu histórias de pescador,  outras de vida. Cristina também era divorciada, perdera o marido para um professor de inglês. Disse que não era preconceituosa, mas sentira-se duplamente traída.

O vinho verde português que acompanhou a janta, arejou os espíritos, transformando melancolias em boas gargalhadas. Ao final da noite, o tio, alegando cansaço, voltou para casa. Ele permaneceu, com a desculpa de  lavar a louça e embalar para congelamento os filés de peixe restantes.

Naquela noite e nas duas seguintes, trocaram confidencias de pele, suspiros doces carregados em maresia e suor. Foram à praia juntos. Sem dar as mãos, como se isso representasse algum tipo de compromisso. Um acordo extra-oficial.

Encontrara a companhia ideal, em uma pescaria, longe da tensão frenética dos bares da moda e seus drinks duvidosos. Na hora de retornar – as férias estavam encerradas para ele – ela ainda permaneceria, o sentimento era de uma paz sem bandeira, de um armistício na batalha dos afetos mal-resolvidos.

Embora decidido a não querer mais compromissos duradouros, sentia-se como aqueles peixes rebeldes que lutam contra a linha que os segura, já irremediavelmente fisgados. E só por isso que, com um fio de voz, perguntou da viabilidade de um reencontro.

“Melhor deixar assim. Foi tão bom, tão natural que não precisamos correr o risco de transformar esse momento em rotina, ou desilusão lá adiante. Ficamos só com a parte boa. Nosso vínculo será esse momento, breve, mas gostoso", respondeu Cristina.

Meu amigo, divorciado de carteirinha, macho independente acusou o golpe. Estava sucumbindo a seus próprios e argumentos.Disfarçou com bom humor. “Na semana que vem então, o velho capitão busca outro porto para ancorar”. Nem olhou para trás ao sair. Percebera naquele momento que fora o maior pescado daquela noite na Plataforma de Cidreira.

Ela fazia pesca esportiva. Fisgava só pelo prazer, para depois devolver ao mar. Intacto, embora a marca do anzol, às vezes, não curasse apenas com um beijo de adeus.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Um descasado e as sereias

Um amigo, recém divorciado, entrou verão no típico embalo do "em busca do tempo perdido". Começou no litoral gaúcho, ainda tímido, com festa na casa de familiares.  Em Cidreira, no aniversário de um tio - tios e tias é o que não falta lá - conheceu a filha de um ex-chefe. O ambiente caseiro não permitiu que rolasse nada excepcional. Aliás, “ficaram” e ele compreendeu o real significado deste pré-namoro: beijinhos e abraços, sem grandes avanços. E na retranca, ao contrário do esperado, permaneceu entre o sábado e o domingo.

Descasado em férias ignora as filas no supermercado, a interpraias maltratada das nossas cidades litorâneas e todos os riscos e fiascos típicos da temporada. Só precisa de bebida gelada e é claro, mulheres quentes. Assim, largou o veraneio típico de comilanças, carteado e sol para, na segunda-feira, avançar rumo a praias onde o agito é maior. Em Capão, conheceu uma psicóloga – ou melhor – foi reconhecido por ela que o via com freqüência na clinica onde trabalhava. Ele e a ex-esposa haviam tentado terapia de casais, antes dela encontrar a cura, nos intervalos das sessões, com um engenheiro civil.

A psicóloga era divertida, mas talvez por cacoete profissional,  insistia em analisar cada palavra e movimento deste meu amigo que, como bom divorciado, estava cansado do monitoramento feminino. Mochila nas costas, seguiu para Atlântida. Lá, em sua busca da fêmea ideal, descolada e feliz,  conheceu uma empresária do ramo de cosméticos. Bonita, já madura e com ar de quem não perde tempo, não hesitou em convidá-lo para um espumante ao final da tarde. Tudo corria bem não fosse a descoberta, na pior hora, de que ela era casada. E o marido quase batia à porta!

Escapou porque o sujeito enviou um whatsapp. "Tô chegando amorzão!" Avisar, colegas maridos, sempre pode evitar tragédias ou terríveis constrangimentos!  Desolado, decidiu tentar a sorte nas praias de Florianópolis. Nada de momentos turvos, ondas de chocolate. Desistiu quando uma simpática argentina, em um destes botecos da moda, sei lá em que praia da ilha, insistiu que dividissem uma caipirinha. Mesmo à meia luz,  embora bonita e cheirosa, ela lembrava demais, a avó de um ex-colega de aula.

Ainda experimentou Garopaba. Na casa alugada por amigos, divertiu-se muito. Cozinhou, bancou o DJ na noite, mas como todos eram casados, não atingiu seu objetivo: um rápido namoro de verão. Nos bares, dezenas de outros casais e alguns solteiros, a maioria homens, lhe mostravam um cenário desanimador. Aonde estavam elas, as solteiras, que em seus tempos de casado o furavam com olhares sedutores. Prometiam tudo!

E assim, à moda tatuíra, com quem vai se enterrar na areia da depressão, voltou às praias gaúchas. Ali poderia conversar com amigos e familiares. O tio – aquele de Cidreira – insistiu que o acompanhasse em uma pescaria na Lagoa. Aceitou, por falta de coisa melhor. E foi nesta pescaria que voltou a ver a filha do ex-chefe. Aquela do parágrafo inicial que adora pescar, coisa rara entre mulheres. O que aconteceu neste encontro, eu revelo no próximo post. Aguardem!