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sexta-feira, 31 de julho de 2009

As férias da Insatisfação Absoluta

O que me dói
É que quando está tudo acabado
Pronto pronto
Não há nada acabado
Nem pronto pronto
Pintou-me a casa toda
Está tudo limpado
O armário fechado
A roupa arrumada
Tudo belo, perfeito.
E no mesmo instante
Em que aperfeiçoamos a perfeição
Uma lasca diminuta, tênue, microscópica,
Não sei onde,
Está começando
Na pintura da casa
E as traças, não sei onde,
Estão batendo asas
E a poeira, em geral, está caindo invisível,
E a ferrugem está comendo não sei quê
E não há jeito de parar.
Millôr Fernandes

Estou aproveitando os últimos dias de férias caseiras. Outra vez, não foi possível viajar, fiquei em casa como um servente para serviços de carpintaria, elétrica e hidráulica. Não acaba nunca, e o poeminha do Millôr diz tudo. Era tanta coisa para se fazer e na medida em que concluía uma etapa, outra aparecia imediatamente. Consertava a chave, a porta estragava. Trocava o fio e a lâmpada queimava. É o mofo, a ferrugem e o dinheiro ficando curto para tanta demanda.

Queria ter ido a lugares próximos e bonitos. Moro próximo a Região Carbonífera, cercado pelas águas da “coisa” Guaíba (será um rio? Um lago? Um estuário? Será o Benedito?) e do Jacuí, que fica a um 15 quilômetros de minha casa. Pretendia fotografar as casas antigas de Triunfo, tão bonitas em seu estilo português.

Mais adiante, em General Câmara, o distrito de Santo Amaro. Lindo! Infelizmente, o atendimento ao turismo é muito fraco nestes locais, mas um jornalista nunca se aperta quando precisa buscar informação. Mas não deu. Fiquei entre o reparo da torneira da água quente e as fotos. Venceu o banho quente. Aliás, não encontrei o tal reparo. Será uma missão para as próximas férias?

Nesse meio tempo deu pau no computador e nem o blog pude cuidar direito. As fotos da geada, lindas imagens do gelo lá no meu Guaíba Country Club ainda estão guardadas na memória da máquina. Computador consertado, volto a digitar e... Opa! Escuto um pinga-pinga na cozinha. Já volto! Ai...

terça-feira, 28 de julho de 2009

Inconformidade gástrica

Minha filha, nutricionista, exige: evite calorias, excessos alimentares. Tens que perder “alguns” quilos! O filho mais velho, fisioterapeuta, faz ampla análise dos danos que o peso excessivo provocava no corpo e principalmente, exercícios e caminhadas mal orientadas determinam aos penalizados ossos dos gordinhos. Finalmente, o filho mais novo, ainda sem titulação, decide passar alguns dias de férias para que possamos conversar mais e ele, assim, dar uma vigiada no pai.

Moral da história: depois de passar por uma gripe forte, decidi dar um tempo na minha pecaminosa relação com as calorias. Até a taça diária de vinho foi banida. É remédio eu sei, mas eu não queria abusar no álcool. Sábado, como estaria com faxineira em casa, optei por um almoço simples e tradicional: feijão bem temperado, sem lingüiças ou bacons e um simplório, mas eficiente arroz com frango. Sem pele, sem ossos ou cartilagens. Nada de frituras, acompanhamento apenas de saladas de alface e tomate. Estava com orgulho de mim mesmo. O gordinho aprendera a lição!

O almoço foi um sucesso, modéstia à parte. O suco de laranjas colhidas no pomar da casa, foi minha única bebida. Aliás, única para todos. Feita a digestão, fomos eu e meu filho mais novo, buscar gravetos para a lareira. Havia um ventinho gelado e a sensação térmica reduzia os cinco graus para bem menos. Foi por volta das 17h que começaram as fisgadas no abdômen, enjôo e aquele desconforto típico de quem se excedera no almoço. Não era o caso.

Até o início da noite eu já estava a base de chás digestivos. Boldo, especialmente. Aliviaram a dor, mas a náusea permaneceu forte. Só fui melhorar na madrugada de domingo. Mais um dia restrito a raspas de maça, sucos e chás. Nem sopa ralinha me animava. Só melhorei ontem e hoje estou postando esse texto diretamente da casa da dona Hedy, minha mãe. Pelo cheiro que vem da cozinha, teremos um assado bem temperado, feijão carregado de carnes e embutidos. E nem me atrevo a imaginar outras misturas.

Desculpem meus caros nutricionistas, fisioterapeutas e curiosos. Mas vou sair da dieta para não continuar enjoando. Estou achando que comida muito leve, provoca uma espécie de inconformidade gástrica no sistema digestivo. E não posso enjoar justamente hoje dia em que trocarei duas torneiras em casa. Ah! E ainda terei de fazer uma caminhada com meu cão, um pastor alemão que se recupera de uma lesão na pata traseira.

Tanta atividade vai me exigir energia. E não posso ficar com enjôos típicos de grávidas. Fala sério. Além disso, o filho mais novo que ficaria me vigiando, já debandou para a casa de um amigo onde tem jogos eletrônicos, sinuca e adultos bem mais tolerantes a administrar as atividades. Férias tem que relaxar mesmo. E estou completamente, sem saco para ser metódico. Pelo menos até a semana que vem quando retornarei ao trabalho.

Até lá, pode servir que vou provar. Com ou sem culpa.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Mulheres, cheguei!

O pessoal com mais quilometragem existencial conhece o "Zé Bonitinho", personagem cômico do rádio e TV brasileira que personificava o galã a partir dos anos 60. Cabelo lambido de goma, bigode fino, terno bem passado e com ombreiras exageradas. Aliás, tudo ali era excesso. Lembrava o tipo dos atores canastrões da Holywood antiga. Muitos, bichas não assumidas que viviam da imagem e não conseguiam representar direito dentro ou fora das telas.

“Câmera, Close!”, é o bordão que marca o sedutor personagem, criado por Jorge Loreno, veteraníssimo ator e criador do genial personagem. As mulheres sentem-se envolvidas pelo charme, ele se admira em um espelho, ou no reflexo do olhar das gurias. E nunca, nunca fica com elas. Está sempre cansado, elas cansam a beleza dele!

Eu gostaria de saber mais sobre esse ator, que pelo que sei, se vivo ainda está, deve ter mais de 80 e tantos. Assisti, certa vez um documentário no GNT sobre ele. Era dirigido por por uma mulher. Não lembro o nome! O genial Selton Mello, que é fã de cadeirinha de Loreno, dirigiu um curta "Quando o Tempo Cair", com um personagem criado especialmente para ele. Se algum de vocês souberem onde consigo uma cópia, por favor. Me avisem!

Estou postando na esperança de achar!

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Prá turma jovem, em férias de inverno


Tantas alternativas absolutamente novas. Tecnologias fantásticas, oportunidades únicas para a gurizada que se aventura no mercado de trabalho. Duro, competitivo, selvagem como sempre – seja ele de direita ou esquerda. Quando imaginaríamos tantos cursos, tantas faculdades e possibilidades de mestrado? Estudo no exterior não é mais um bicho de sete cabeças. Tem cinco ou seis, reconheço, mas a maioria dessas cabeças podemos degolar com uma razoável equalização financeira e fluência em idiomas.

Austrália, Canadá, Portugal, Espanha, Alemanha são alguns dos países onde filhos de amigos meus foram buscar especialização, experiência de vida e algum dinheiro. Mesmo assim, com todas essas possibilidades e talvez, em função de tamanha abertura, vejo muitos jovens travados. Inseguros, diante do universo que se abre, sejam médicos, jornalistas ou técnicos em informática.
Não é fácil. O novo exige dedicação, confiança e uma capacidade enorme de superar a competição, cada vez mais acirrada entre eles mesmos. A gurizada que se dedica está a mil! Mas na maioria das vezes, não confia muito em seu potencial, ou confia demais. "Se acha" como eles mesmos dizem. Assistem outros a dominar alguma tecnologia de ponta, ou freqüentarem mais especializações e acabam levando medo, ou tendo a absoluta certeza de que tudo o que havia antes será apagado a partir de agora.

Nós, pais conhecemos perfeitamente nossos rebentos. Sabemos de suas qualidades e, quando somos atentos, das limitações também. Mas mesmo assim é difícil acalmar a fera do medo que os assusta nos momentos mais íntimos. Será que valeu a pena tudo isso? Essa especialização vai me abrir portas? Se eu for para o exterior, poderei voltar? E o pai e a mãe? E os amores?

Assim nos resta mostrar que acima dos cursos, das especializações está o sentimento. A capacidade de improvisar mesmo onde aparentemente tudo é claro e perfeito tecnicamente. Acima de tudo, devemos ensinar que amor próprio não é arrogância. Humildade, também não é sinônimo de submissão.

Não queremos uma geração de narcisos apaixonados e consumindo-se com a própria imagem. Os queremos dispostos a serem admirados pela capacidade de servir. Somente assim qualquer profissional conquista espaço e faz de sua labuta um exemplo de sucesso. E garante a façanha de ser único entre iguais.

sábado, 18 de julho de 2009

Chão de Fábrica

Hoje é sábado e mesmo assim, desde as cinco horas da manhã estou acordado. Um enjôo terrível provocado por esta gripe absolutamente cruel me tirou o sono. E o que faz um autêntico chão de fábrica quando está de folga, mesmo motivado por doença? Pensa no trabalho, é claro. Imagina como foram enviadas as matérias para o interior, qual será a agenda da semana e como estarão as coisas com a turma que segue no batente. Viro para o lado e chiado desconfortável no peito não me deixa sonhar com o sol da Bahia em pleno julho. Sim, existem lugares melhores para se passar 15 dias.

Viro para o lado esquerdo e me assusta a imagem do gerente de minha conta aconselhando a quem sabe, refinanciar o juro do saldo negativo, em condições melhores. Assim poderei gastar mais, e pagar mais também. As contas! Sim, o crédito de um autêntico chão de fábrica - como costuma dizer meu amigo Itamar Aguiar - é elástico e assim, aparenta ser algo eterno, infindável. Mas sem ele como se vive? Os bancos adoram!

É claro que acabei levantando para o primeiro chimarrão do dia. Estou aqui, cevando as idéias e desejando que os poucos, mas valorosos que me acompanham aqui, estejam ainda dormindo.

Sem sonhos de pobre, por favor!

(OBS: No fogão duas panelas exigem um esfregão de aço para voltarem a brilhar. A faxineira, só na segunda-feira! Lavar louça, gripado? Isso tá virando um pesadelo matinal. To fora!

quinta-feira, 16 de julho de 2009

(A) gripe me pegou

Foto posada do virus da gripe A Simplesmente não estou conseguindo escrever ou falar. Usar os neurônios muito menos. Uma avassaladora gripe, de febre alta, dores em todo corpo, me derrubou. Tudo o que faço ou é dormir ou permanecer quieto, em um estado letárgico. Meio zumbi. Maldosos podem dizer que esse é meu estado normal. Pior é pressão da família: vai a um médico! Pode ser a gripe A. Que nada, é "A" gripe! Eu sabia que os sintomas eram diferentes. Mesmo assim, passei no posto médico próximo de minha casa. Passei, mas não entrei. O corredor lotado de gente, de espirros e bactérias me dizia que não precisavam de meus vírus para tornar tudo mais caótico.

De qualquer forma tenho anotados sete telefones de médicos - pneumologistas, cardiologístas e clínicos gerais - e uma quantidade ainda não avaliada de receitas para reduzir a febre, aliviar a irritação na garganta. Ganhei inclusive uma muda de guaco de meu amigo Borges, ilustre governador de Rotary que entre tantos afazeres, me deu uma receita centenária que passarei adiante assim que lembrar de tudo. Memorizar receitas abaixo de febrão é impossível.

Permanecer em casa doente é terrível. Falta ânimo para fazer tudo aquilo que a gente curte. Os livros, as revistas e a televisão. Ouvir notícias, no meu caso, me angustia. Assessor de imprensa fica sempre analisando os fatos, imaginando que poderia dar lá, sua contribuição para isso ou aquilo. Mas eu estou aqui.


Minha maior contribuição a sociedade em instantes como esse é não contaminar mais ninguém. Sufocar o virus com mel, chás, guaco, paracetamol, antiinflamatórios, pastilhas, pecolina em gotas e torcer para que tudo funcione sem provocar desarranjos inesperados.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Hoje ainda é dia de Rock

Antes de Chuck Berry e Little Richards, só para citar os caras que, em minha opinião fundaram esse tal rock and roll, o mundo tinha o swing bacana das big bands, o jazz e seus virtuoses - irretocáveis - e uma música popular para o meu gosto, muito careta e com histórias de amor complicadas demais em boleros rasgados e tangos sofridos. Eu era uma criança e entendia tudo, conforme contou com precisão o tremandão Erasmo Carlos. Sofria demais com tanta perfídia!

Elvis, Beatles, Stones e dezenas de outros grandes bandas fazias deliciosas canções em três acordes. Não eram músicos brilhantes como os jazzistas, mas colocavam uma energia quase primitiva em seus versos e refrões. A música ganhava uma agressividade que, para muitos como eu, adolescente em um país dominado pela ditadura, permitia o grito a plenos pulmões, afinal, eramos reis, sim reis do ié, ié, ié!

Hoje que sou adulto e não entendo nada, faço do rock a busca de entendimento. O rock dos anos 60 evoluiu, muitos ficaram pelo caminho, outros se tornaram virtuoses em seus instrumentos. Graças aos deuses do rock, sempre haverá uma garotada achando que tudo é muito careta e da garagem, ou dos estúdios de aluguel dos tempos modernos, botam os diabinhos para fora e fazem do cinquentão rock and roll, o ritmo da juventude eterna. Então, viva o Dia Mundial do Rock! Yeah!

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Mais um a morrer na vala comum da BR 290


"Não sou nada.Nunca serei nada.Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.(…)
Conquistámos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordámos e ele é opaco, Levantámo-nos e ele é alheio,

Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.(…)
Come chocolates, pequena;
Come chocolates!

Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates."
Fernando Pessoa, 1888-1935, poeta português, Tabacaria

Morreu mais um motorista na BR 290. Ele saía de Porto Alegre, no sentido de Eldorado do Sul e destrui seu carro moderno e importado na árvore nativa que o esperava, entre o fosso da rodovia. Eu ia para o trabalho, nesta úmida manhã de sexta-feira.

A névoa cobria tudo, abria apenas - igual a um efeito especial -, no entorno do acidente. Permitia a nós, que dirigíamos no sentido contrário, a trágica visão dos metais retorcidos, do corpo estendido no chão, dos policias federais desviando o trânsito, mandando seguir à frente os que tem a mórbida mania de espiar a desgraça alheia.

Ainda se aprendessem... Triste é que a maioria retoma seu curso em maior velocidade ainda para recuperar o tempo perdido, como se assim preenchessem o vazio que os irresponsáveis abrem entre lágrimas.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Quando a ex se torna um sucesso literário.


Dulci e o poeta Luis Coronel durante a sessão de autógrafos

Minha amiga, a jornalista Patrícia Alquerque, passava por um das boas livrarias do centro, hoje à tarde e me ligou: "Vi o livro de tua ex-mulher. Estava em destaque na lista de mais vendidos. Que chique!" Percebi o leve tom de provocação mas pensei: porque não permitir à última cena de uma relação amorosa um final feliz? Preservar a saudade das coisas boas. Desencontros fizeram seu estrago, determinaram a separação. “Minha Nudez”, o livro da escritora Dulci Matthes, tem dedicatória para o titular deste blog, para o filho que teve com ele e filhos de meu casamento anterior. Porque vou torcer contra o sucesso de quem fez de sua história um relato tão bonito?

Através de “cartas a um amigo”, Dulci aborda as expectativas de uma mulher sobre o amor em todas as suas vertentes. O resultado ficou tão bom que desde seu concorrido lançamento, na Livraria Cultura do Bourbon Country, em setembro e logo após na 54ª edição da Feira do Livro, transformou-se em um dos destaques da editora AGE. Tanto que meus colegas já o percebem nas vitrines.

Adorei o livro - que tive o privilégio de ler antes da publicação assim como também gosto da relação que hoje tenho com a Dulci. Um exemplo do bem. Rancor zero, tolerância dez! É a maior prova de que nossa história a dois, realmente se encerrou. Viveremos felizes para sempre, ora! Esses que permanecem eternamente às turras, esses não souberam amar e por isso - suspeito - nunca realmente iniciaram a relação. Viveram um trailer onde não existe inicio, meio e fim. Apenas uma mostra. E só.

De qualquer maneira, a Dulci está aí, vendendo livros, conquistando merecido prestígio, fazendo do adeus um reencontro com a vida em sua visão bem feminina. Muito mais digno e honrado que a histeria egoísta de quem não sabe lidar com perdas.

Se outrora toquei a pele da amante apaixonada, hoje experimento a sensação do livro acetinado, Do perfume do papel impreso, das páginas que se abrem em revelações impossíveis em tempos de convívio a dois. O mistério se esvai mas quem sabe, deixa um novo em versos livres. De sábia métrica.

Parabéns, Dulci!

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Coisa, palavra que puxa o trem da ignorância

Lembram da piada do mineirinho na estação ferroviária? O filho pedia um refrigerante lá vinha um "trem de beber", batia fome e comprava um "trem de comer". Na hora do pito, acendia um "trem de fumar" . Na chegada do verdadeiro trem, saudou: "Óia! Lá vem a Coisa!" Tenho reparado que ao contrário do mineirinho, muita gente faz o inverso. Tudo é coisa! Roupas, comidas e sentimentos. Coisas! Falta vocabulário. Tem gente fazendo aula de inglês e, passada fase "the book is on the table", se volta à última flor do Lácio expressando-se através de qualquer coisa - Thing - em inglês.

Falta leitura. Palavras e expressões idiomáticas inteligentes e criativas - de bons autores, inspiram idéias, ilustram diálogos com sinônimos e adjetivos bem colocados. A palavra coisa, por exemplo, é uma das mais vagas e gastas de nosso alfabeto. Genérica, aceita qualquer companhia, não tem obrigação de respeito a conceitos ou virtudes. Coisa é a banalização da essência. É um trem vazio, diria o mineirinho da piada. Um trilho abandonado.

Percebo que estamos em processo de “coisificação” institucional. Gente, bichos, conceitos, ideologias transformados em coisas. Sem rosto, ou pior, com um rosto único e cruel na maioria das vezes. Michael Jackson, perdeu-se em sua própria ausência e virou coisa! O amor da filha Paris, o levou ao Paraíso, com certeza.

Roubar para matar, matar para comer, comer até morrer e viver sem ter qualquer noção de civilidade virou mandamento porque as pessoas, os valores que as formam transformam-se em coisas inexplicáveis. Coisas necessárias e consumíveis. Precisamos de dinheiro para qualquer coisa! Mas se for para um projeto vivo, específico e relevante, igualmente fazemos qualquer coisa para consegui-lo. A coisa é um vácuo que nos engole e mata virtudes. E aí é que a coisa fede.

Está na hora de se pensar antes de se abraçar qualquer coisa que não tenha sentido ou, ao contrário, tenha vários, dezenas de motivos que, no fundo, não encontraram ainda seu mais perfeito sentido. E é preciso que tudo faça mais sentido ou seja menos “coisificável”.

Eu vi dois guris atirando pedras em lâmpadas na rua onde moro. Perguntei porque faziam aquilo e o mais velho disse que não tinham coisa nenhuma para fazer “a prefeitura é rica, pode comprar qualquer coisa”, respondeu. A coisa está lá, latente em seu poder destruidor.

Ninguém lhes ensinou que há dezenas de atividades que não são coisas, ou são coisas boas de se fazer. No momento em que deixam o limbo da ignorância passam a ter nome próprio. Um jogo que lhes estimule a imaginação, um livro que dê vocabulário, criatividade e senbilidade. Encontrariam mais sentido e o prazer de atirar pedras, viraria connstragimento.

Ao tratar gente como coisa difícil, coisa ruim, ao negar oportunidades de cultura, trabalho, ao trocar educação por coisas, se permite a indiferença e o radicalismo. Coisa é tudo e não é nada. É um soldado atirando contra a multidão, porque seu dever ora, é proteger alguma coisa. É o bandido matando para obter alguma coisa de valor.

Melhor deixar as coisas às claras, dar-lhes um sentido menos genérico, por mais difícil que possa parecer. Em nome de alguma coisa maior que talvez vocês saibam o que é. Por enquanto a minha cara de tacho não virou qualquer coisa. Afinal, é um tacho! E reflete perplexidade, diante da ignorância que interessa a um tipo de poder corrupto e corporativista e faz da vida uma coisa sem sentido. Que coisa!

terça-feira, 7 de julho de 2009

Fora suicidas! Viva e deixe chover!

Adoramos reclamar de autoridades públicas. Se a fila do caixa não anda, botamos a boca também. É um direito nosso. As ruas esburacadas são temas recorrentes. Nas rádios, nos jornais e nas imagens de tevê lá estão as crateras no asfalto, ou a falta de placas de sinalização. E reclamamos. Afinal pagamos impostos, aquela margem que não se pode sonegar, no caso de alguns. E essa cota pesa!

Eu, feliz morador de um sítio na região Metropolitana de Porto Alegre, hoje quero reclamar desses tais que adoram queixar-se dos governantes, gerentes de cinema, garçons e afins. Chove bastante desde o início da noite passada. E os motoristas da capital e entorno, não ligam para isso. Apesar da recomendação dos técnicos em trânsito para reduzir em até 30% a velocidade, tem gente que ultrapassa a mais de 100 kms por hora! Nessas mesmas estradas que vivem reclamando estarem em estado irregular.

Somos cidadãos de quinta categoria. Motoristas medíocres, gente de má índole que adora culpar terceiros em problemas e dramas criados a partir de sua própria irresponsabilidade. A BR 290 nesta manhã parecia uma imensa pista de corridas. E o que se via eram veículos de motorzinho mil, com pneus gastos, mal calibrados, suspensão meia-boca, alguns completamente lisos, voando!
Entre eles devem estar os doidos de medo de contrair a gripe A. Que não frequentam locais fechados e com certeza, cancelariam passeios a Buenos Aires ou Montevideo. Mas voam em suas naves de quatro rodas, na pista molhada, feito patinadores suicidas! Maridos, esposas e filhos que detestam, com certeza seus familiares. Odeiam a humanidade! E os caminhões? Meu Deus! Faróis apagados, ultrapassam com a mobilidade de baleias na cristaleira de suas avós e ainda grudam os parachoques duros - talvez a única coisa rija que possuem - nos veículos que tentam manter velocidades cautelosas.
Se a maioria age desta maneira, a minoria que se cuide. Eu continuarei atento, dando passagem aos velocistas da chuva e rezando para que não me envolvam em seus métodos doidos de dirigir. Aliás, tem pedestre que atravessa a rua sem olhar para os lados. Tem gente, novo e velho, andando na chuva sem proteção. Capa, guarda-chuvas, sei lá. Nunca vi tanta gente molhada nessa semana. Querem a gripa A, B, C e F? A gripe do alfabeto vil? Dos Alfaburros!

Vai chover mais alguns dias. Eu amo a minha vida. E quero continuar assim, porque tenho muito o que fazer e melhorar. Recomendo, mesmo assim, que pisem menos fundo. Que se cuidem melhor e vivam mais. Vale a pena, pô!

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Cachorrinho carente procura família


Apareceu lá em casa, perdido ou jogado fora por alguém, essa fera mínúscula e extremamente simpática. Interessados em adotá-lo, saibam que não identificamos uma raça definida no bichinho. É preto, peludo e muito inteligente. Já deu pra perceber que estou a referir-me sobre o animalzinho que está no colo do Tárik, que está longe de ser um cachorrinho abandonado. Muito pelo contrário. Os interessados podem entrar em contato por esse blog mesmo. Vou entregar o bicho vacinado, sem vermes e nutrido. É isso aí!

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Muito além do cárcere


No governo Britto, eu era um humilde assessor de imprensa quando a Brigada Militar assumiu no lugar dos agentes penitenciários. E é claro, como bom carregador de piano, lá se foi o Arizinho a Charqueadas acompanhar o processo e recepcionar a imprensa. Acabei obrigado a circular por aquele mundo sombrio. Leis próprias, motivações independentes de qualquer julgamento e ações práticas que a sociedade que optamos por viver, não entende e tem dificuldades em frear.

Quem trabalha lá, em menor ou maior grau, acaba infectado pelo ambiente pesado, de expectativas sombrias. Cruzo diariamente a BR 290 em meu caminho para casa, algumas vez dei carona para os brigadianos que encerravam plantão nos presídios de Charqueadas. A maioria saía de lá angustiado, “Nos sentimos como se cumpríssemos pena também. Só que sem cometer crimes”, disse um deles uma vez. Muitos relatavam cenas chocantes, como a do apenado que, ao se recusar a participar de ações criminosas organizadas no presídio, foi obrigado a “ceder” a esposa, ou ele mesmo seria escravo sexual das lideranças de sua galeria.

Quase enlouqueceu ao ver a mulher servir aqueles homens. Morta viva, humilhada. Tão arrasada estava que, dias depois, implorou aos policiais que matassem seu marido para não precisar voltar. O suor dos homens que a tinha abusado, não saía da pele, os rostos secos, carregados de um desprezo egoísta e cruel a massacravam em pesadelos. Tinha uma filha jovem e bonita, temia que a descobrissem. Não queria ve-la herdar um castigo que não era seu.

A tortura está presente a todo instante. Eu sei, agentes penitenciários devem ser punidos quando abusam da autoridade que a sociedade lhes ortougou. Mas acho que lá igualmente cumprem uma espécie de pena. Mesmo sendo profissionais assalariados e treinados, têm a espinhosa missão de cuidar de gente que não aprendeu a ser gente quando criança. Será que aprenderão agora?

A questão carcerária vai muito além deste post, ou do clamor da sociedade que se considera livre. Dos formadores de opinião que vão às rádios bradar críticas, defender direitos dos que se encontram sob custódia do Estado. Mas quem afinal é o sujeito encarcerado? Tomar conta de presídios, em minha visão, é quase como assinar um pacto como o diabo. Por isso, não levanto bandeiras, a não ser a branca, é claro. Paz! O resto é um grito perdido no vácuo do coletivo.