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segunda-feira, 29 de junho de 2009

"Fechem" em mim que eu vou chorar


Enfim temos um óbito. A disputa para ver quem entrava em rede nacional e anunciar o morto pela gripe A foi vencida por Passo Fundo. Está nas tevês, nos rádios e jornais. A trilha mórbida que vende jornais e garante índices de audiências venceu mais uma vez. Já tem produtor ligando insistentemente para São Gabriel. E decepcionando-se porque a menina que estava mal, se recupera. “Mas como assim?” bradou, indignada, uma colega de imprensa ao saber da boa, ou sei lá, má notícia.

Os apavorados compram máscaras. Estou só imaginando a cena do meu amigo Rui Felten, desfilando com uma elegante máscara. O Rui é assim. Bastou ler a bula de remédios para sentir todos os sintomas. Mas é um cara fashion. Vai escolher um modelito diferente. O padrão máscara boca-de-pato não se adequaria a ele. Não adianta os médicos afirmarem que as máscaras devem ser utilizados apenas por gente já comprovadamente contaminada. Quem não está gripado, acaba provocando uma louca orgia entre seus próprios germes que passam a se reproduzir alucinadamente entre o nariz e a boca. Então...

Fechem em mim que eu vou chorar! Segunda-feira de perspectivas mesquinhas e sem graça. Nem muito frio, nem muita chuva. Está tudo mais ou menos. São os piores dias. Vocês são mais jovens, talvez não lembrem a história da adolescente norte-americana, Brenda Ann Spencer, 16 anos, que chegou na escola e atirou contra crianças e professores. Quando lhe perguntaram o porque desse massacre, friamente respondeu: “Eu não gosto de segundas. Gostaria de elimina-las da face da Terra”. A jovem psicopata acabou inspirando Bob Geldorf a escrever um dos maiores sucesso dos Boomtown Rats, “I Don’t Like Mondays”.

A turma dos anos 80 lembra da canção. Então nada de pensamentos mórbidos. Mas se existe um dia que não preciso de jornais, ou noticiários de rádio e tevê para ficar assim, é segunda-feira. Só estou postando para disparar minha arma de bom humor e carinho aos tantos que vem me acompanhando aqui. Uma grande semana para todos. Sem espirros, sem mortes (pra desespero de quem acha que manchete boa precisa ter desgraça!)

Putz! Não chorei! Fica pra próxima.
OBS: A frase do título, foi usada pelo genial Paulo Santana em sua coluna de segunda-feira (22)! “Atentado a Vista”. Entre outros venenos, escreveu que o colega Cláudio Brito “é autor da maior frase megalomaníaca da história do jornalismo, diante das câmeras, num desfile de carnaval na avenida, “Fecha em mim que eu vou chorar...”

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Receitas para enfrentar epidemias virais

Você está bem alimentado e suporta as tradicionais gripes de inverno dos pagos gaúchos? Então fique tranquilo que sobreviverá a gripe A (H1N1), a ex-gripe suína. Não é momento para desespero, embora tenha colega editor de jornal - com diploma e tudo - doido por um óbito no Rio Grande do Sul. Sim, existe a possibilidade da gripe A virar epidemia. Mas os casos graves desta porquera viral ainda precisam ser estudados mais profundamente. No grupo de maior risco estão, naturalmente, pessoas com imunodeficiências em alto grau, ou sob algum tipo de medicação que venha a potencializar a ação viral. Ou seja, uma zebra horrível e rara!

Quem já não pegou um gripão? Do tipo que rouba toda energia, transforma narinas em vertentes, não sem antes bloqueá-las? E lá vai o pobre coitado transportando virus que invadem novos corpos e alegram os grandes laboratórios, sempre em busca de caríssimas vacinas. Resguardo é tudo. Eu me resguardo feito um frade. Ou quase, que também não sou de ferro. Mas tem médico alardeando e com razão, de que as tragédias de trânsito ainda são as maiores responsáveis por mortes. E qualquer gripe de inverno é muito mais agressiva do que essa tal A.

De qualquer maneira reforcei em casa meus estoques anti-gripe. Lenha para a lareira, cobertores de lã, edrodons e aquecedores a postos. Na cozinha, legumes para as sopas e um estoque de bons vinhos para um eficiente tratamento preventivo. Duas taças diárias de um tinto com taninos equilibrados atenderão a demanda que o inverno exige. Nas refeições, sucos de frutas. Eu tenho laranjas, limões, abacates no pátio que ilustra a capa desse blog. Nos intervalos, ou antes de dormir, sempre uma bom chá de laranjeira ou limoeiro, com cravo, canela, mel e um beijinho de boa noite. Se possível.

Sair de casa só para ganhar o pão nosso de cada dia. Um certo período de recolhimento é fundamental. Está chato ficar em casa? Ora, carísssimos. Ler faz parte de qualquer tratamento antigripe. Me emprestaram os livros Mentiras no divã, de Irvin D. Yalom e Cartas a um jovem escritor, de Mario Vargas Llosa. Distrairão minha atenção de tanta notícia preocupante e me afastarão, certamente de gente infectada e algumas insuportáveis reprises na televisão.


Leitura cansa? Um bom filme, quem sabe? Alugue um DVD. Escute música. Ir a um show, cinema pode ser bom, desde que o ambiente seja bem ventilado. Todos os virus se atropelam em ambientes fechados. Namorar em períodos de pandemia é possível? Se o casal não andou nestas regiões de risco - México, Europa, Estados Unidos, Argentina, Chile ou São Gabriel (quem diria?) está liberado sem cortes para o que a imaginação sugerir.

Só não vá deixar alguma parte do corpo exposta ao frio. A Terapia do Abraço Antiviral é tudo de bom! Se o corpo doer é do esforço. Se o corpo aquecer, não será febre, com certeza. Arrepios? Pense que está ficando cada vez melhor. E depois de alguns dias e noites, esse novo virus envelhecerá, teremos anticorpos suficientes para neutralizá-lo. Outros virão, mas aí, vocês já sabem, basta seguir e melhorar, a receita acima.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Abrir o inverno com um tinto a moda portuguesa, com certeza

Dica de um bom vinho tinto: Touriga Nacional Dal Pizzol. A mais tradicional uva portuguesa, produzida em parreirais gaúchos adquiriu um paladar persistente, encorpado. Perfeito para acompanhar um bom assado de forno, um queijo bem forte. O preço? Algo em torno de R$ 24,00.

O inverno oficialmente inicia neste sábado, e este vinho de produção limitada é perfeito para celebrar a estação dos dias curtos e noites longas. Quem está sozinho tem um parceiro em taças que relaxa, facilita pensamentos bons e inspiradores. A cor vermelho rubi do Touriga Nacional, com seus taninos equilibrados e persistentes, aquece feito lareira.
Num momento a dois, contribui para ruborizar tímidas bochechas. Profanar os mais íntimos segredos. Tudo de bom! E com um grupo de amigos, mantém sempre a conversa acesa. Outra dica: qualquer bebida alcoólica é perfeita se alternada com taças de água - pura e cristalina - para deixar a turma feliz e hidratada. Vamos lá?

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Alma gêmea na faxina


Ela se preocupava com detalhes e limpeza. Vivia no apartamento típico de revista de decoração. Mas do que  servia tudo isso sem namoro no sofá ultra-aspirado? Rolar sem espirros nos tapetes a prova de ácaros. Sozinha? E os lençóis? Alvíssimos, macios fios egípcios, cheirando a limpeza. E olha que os namorados seguiam rigorosamente um mesmo perfil perfeccionista. Nos primeiros dias, as coisas sempre iam bem. Até a hora dos palpites sobre marcas e métodos de faxina. Como aceitar a dica do novo amor sem estresse? Era assim que, com decepcionante freqüência, suas paixões escoavam pelos ralos polidos.

Deles permaneciam livros, teses e longos papos na madrugada que muitas vezes haviam culminado em excitantes discursos intelectuais. Aqueles  tipo gourmet sofriam mais, precisavam estar atentos às receitas e a limpeza da cozinha. Mas volta e meia, eram tão precisos e previsíveis que tudo acabava feito fricassé de vernissage. Insosso demais. Lá ficava ela, sozinha outra vez, saudosa do amor entre ervas finas, especiarias e detergentes. Sabia que ao entrar na maturidade escrava de suas teses, presa a longos debates consigo mesma, poderia sentenciar-se a solidão involuntária.

Queria lista de enxoval. Roupa nova de cama. Foi aí que surgiu aquele quarentão, divorciado e independente. No catálogo dos deuses, poderia ser classificado na categoria Baco. Bochechudo e simpático. Mas habituada ao tipo intelectual, ele insistia em provocações eruditas em alemão! Tudo que ele sabia do idioma de Goethe era a ressaca horrível de um antigo Liebfraumilch, vinho branco frutado e enganador que o seduzira tantas vezes na juventude.

Eram opostos. Mas como toda fêmea, achou que poderia moldá-lo. Buscava a mais limpa, cheirosa e límpida alma gêmea e caíra na armadilha da simpática imperfeição estética, na sedução do diferente. Quando pensava em reclamar do excesso de farelo, dos pingos de bebida na toalha alva, vinha o beijo carnudo sempre na temperatura ideal.

À noite, tanto amassavam os lençóis passados a vapor que ela temia ve-los inutilizados no dia seguinte. Era jogada de lá pra cá, virada do avesso até pedir pelo amor de Deus que parasse. Esperto, jamais obedecia. Quando ia embora, ainda sobrava uma faxina extra a ser feita. Ele era desregrado demais. E foi apenas por isso que acabou dispensando aquela versão desorganizada de alma gêmea.

No dia seguinte, caprichou na faxina, manchou de lágrimas o lençol que trazia o cheiro vivo e gostoso dele que, por sua vez, insistiu em um último apelo por reconciliação. Argumentou que ela exagerava, que sofria de toque e precisava de tratamento psicológico, Ela permaneceu impassível. "Uma alma gêmea, combina em tudo," respondeu. Ao contrário dos anteriores, que racionalizavam tudo, ele buscou a conciliação em um poema de Manuel Bandeira, que segundo ele, definia o momento que viviam.

 "Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma. A alma é que estraga o amor (...) Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo. Porque os corpos se entendem, mas as almas não."  E foi embora, a espera do retorno que, sinceramente, não sei se aconteceu. O que vocês acham?

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Ciúme é um sentimento burguês?

"Não concordo com a idéia de apego, apropriação. Não existe aqueles que amam o amor dos outros. O amor romântico é próprio, individual, livre. A apropriação do ser amado, nada mais é do que um conceitinho burguês". Ana Maria Bessil, jornalista sobre o post Namorados, Apesar de Tudo, do dia 8 passado.

Ok, Ana. O tema é polêmico quando trata desta questão de amor e posse. Se é burguês, não sei. Mas lembrei a história de um colega que inspira o texto abaixo, baseado em fatos reais. É a angústia burguesa (será?) de um tal "Dorvalino":

Dorvalino sentou-se próximo a um grupo de senhoras que se deliciavam com chá e torta em um dia frio. A confeitaria com seus aromas doces, a música leve e o ar-condicionado o acolhiam no meio de um tarde tensa. O tagarelar animado de suas vizinhas de mesa colocavam aspas nas atribulações pelas quais passara desde que amanhecera. Primeiro a falta de fundos do cheque assinado por seu maior cliente, depois a discussão sem sentido com a esposa que não aceitava esperar mais um dia para juntos, irem ao supermercado. “Está faltando tudo em casa!” esbravejara a mulher.

Tentava escapar das broncas domésticas naquele mimoso lugar. Deleitava-se com a futilidade da conversa alheia. “A Itália continua linda e desorganizada”, afirmava a mais velha da turma. “Mas os homens... Estes são o maior trunfo daquele país”, acrescentava outra, entre olhos maliciosos. “Que teu marido não saiba”, envenenou uma terceira. “Não te preocupa, eu viajo sempre sozinha. Pra que levar sanduíche, quanto tenho pratos mais gostosos para provar lá...” Gargalharam indiferentes as pessoas a sua volta. “Cada qual com seus problemas”, pensou Dorvalino enquanto escolhia alguma coisa para comer. A fofoca alheia lhe abrira o apetite, desviara a atenção de seus próprios problemas para um outro mundo, muito distante do seu, imaginava.

Elas seguiam em inconfidências. Relatos de temporadas gloriosas no exterior, queixas contra a paranóia norte-americana que humilhava em Nova Iorque. “Tenho lá eu cara de terrorista?” inquiriu uma. “Botóx não é explosivo. Você jamais será barrada em aeroportos, querida ”, brincou maldosamente outra. De repente, a mais quieta da turma faz ares de mistério e diz: “Vocês sabem o que fez uma amiga? Primeiro seduziu um colega de aula, do tipo carente, baixa estima e conta bancária em alta. O cara acabou caído por ela. Casada, faz tudo na maior discrição", explicou.

"O marido dela levando calote de clientes, as vendas caíram um monte. Uma tragédia! Para manter o padrão, mantém esse namoro. Às vezes o arrasta até o mercado e ele paga o rancho. A danada enche o carrinho com vinhos importados, especiarias e até as coisas do marido. O que vocês acham disso?”

Antes de ouvir o veredicto da senhoras, nosso amigo pagou a conta e tomou o rumo de casa. Ao chegar não encontrou a esposa. Na mesa da cozinha, um bilhete: “Fui levar nossas filhas na avó que está com saudades. Mas para te poupar, já fiz as compras. Não te preocupa não gastei muito meu único excesso foi contigo: comprei aquele Malbec argentino que tanto gostas. Vamos bebê-lo juntos. OBS: Também te comprei um aparelho novo de barbear. Assim teu rosto fica macio como eu gosto. Um beijo!” Em qualquer outro momento, Dorvalino adoraria tanta disposição para reatar em plena crise. Mas depois daquela tarde...

Quando a esposa chegou, o ciúme o transformara em pálido zumbi. Olhos fixos na tevê. No íntimo queria sumir dali, xingar, expulsar o vendaval que lhe atormentava. Mas sentia-se impotente e atônito. Um diminuto personagem de fofoca. Encurralado, decidiu que não frequentaria mais cafeterias burguesas (?). Não admitia o ciúme. Era um homem moderno. Mas por precaução, as compras da família, a partir de agora seriam sempre feitas a dois, “Afinal, essas coisas chatas temos de dividir, meu bem”, justificou.

A mulher achou melhor não contrariar Dorvalino. “A gente fala sobre isso depois” e correu para a cozinha onde duas taças aguardavam um brinde. “Não está faltando uma?” pensou Dorvalino. Mas optou por recriminar a maldade alheia que lhe envenenara. Dói menos e não é burguês. Quem sabe?

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Namoro em tempos maduros

Renato abriu mais uma garrafa de vinho - melhor alternativa para enfrentar o frio úmido de junho,­ às vésperas do Dia dos Namorados. Laura, riu. Decididamente iria permanecer mais uns minutos ali. Sentia-se confortável e, embora soubesse da má vontade de veterano jornalista com a possibilidade de uma aventura amorosa, fantasiou a possibilidade de utilização daquele “corpo estranho” por um par de horas e depois liberá-lo. Sem esperar por telefonemas, e-mails ou flores. Afinal, não é este o sonho da maioria dos homens? perguntou aos botões da blusa que, a exemplo daqueles cantados na música de Roberto Carlos, mostravam-se dispostos a abrir-se em possibilidades íntimas.

Ele estranhou o olhar pensativo da moça e, querendo fugir do tema trabalho - estavam ali produzindo textos para o livro de um deputado - pateticamente passou a reclamar da inconstância do tempo. Será que vai chover? Laura provocou: “Você escreve sobre meteorologia? Ou é falta de assunto mesmo? Que tal falarmos sobre o presente para a namorada?” Ele esquivou-se. Achava-se velho demais para romances. “Sou um quase cinquentão voltado a coisas práticas. Trabalho, comida boa e viagens quando tempo e dinheiro entram em conjunção astral. Relacionamentos exigem dedicação, o que não estou podendo oferecer”, disse com o ar solene de quem esquarteja segundas intenções. Laura abriu a bolso e tirou um recorte de jornal, com trechos de uma crônica onde o autor definia o amor como um imenso deserto.

Quem vive sob seus domínios deve enfrentar o sol escaldante, as tempestades de areia e o frio de tantas noites solitárias até merecer o oásis do bem viver a dois. O amante prevenido guarda no coração o beijo que sacia a fome da paixão e tatua em sua pele o cheiro, as mãos nervosas que cumprem o percurso do prazer. E transforma os sussurros em música, em hino de uma pátria a ser conquistada a cada novo dia. E assim, com corpo e alma consagrados a um sentimento único retomam a jornada do cotidiano com suas obrigações” citou Laura, surpreendendo Renato.

A vida faz do amor, uma eterna jornada por estas areias escaldantes. Tem o vendaval do dia-a-dia, o bafo morno da rotina, a sacudida das crises, das pequenas traições, das juras secretas que se transformaram em eco diante de um abismo de rancor e crediários. Quantas vezes amor me tens ferido! Quantas vezes, razão, me tens curado, escreveu Bocage". Mas será que vale a pena esta cura? Acrescentou Renato.

Laura, já com as bochechas coradas pelo vinho, fechou a janela da sacada. Lá em baixo, a cidade reduzia seu movimento, alguns faróis ainda varriam as avenidas que escondem sombras, infelizmente, perigosas. Renato perguntou se ela queria chamar um táxi. Laura, de volta à sala respondeu - decidida - que poderia dormir no sofá mesmo. Encerrava-se a discussão. Nada como se preparar para o Dia dos Namorados, improvisando uma paixão, mesmo que de mentira.

Uma sirene da ambulância ecoou sua angústia lá fora. Mas os suspiros emitidos naquele antigo apartamento, no centro da capital gaúcha, sinalizavam a certeza de que a relação amorosa é ainda é um curativo eficiente, goste ou não Bocage. Feliz Dia dos Namorados àqueles que ainda não desistiram e que buscam seu pequeno oásis nos desertos do amor.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Namorados, apesar de tudo


"Arrependo-me dos pratos deliciosos rejeitados por vaidade, tanto como lamento as oportunidades de fazer amor que deixei passar para me dedicar a tarefas pendentes ou por virtude puritana", já que a " sexualidade é um componente da boa saúde, inspira a criação e é parte do caminho da alma... Infelizmente, demorei trinta anos para descobrir isto". (Isabel Allende)

Afrodite, Contos, Receitas e outros afrodisíacos é o livro onde a talentosa escritora chilena Isabel Allende, “solta a franga”, devidamente bem temperada. E por isso mesmo escrevo sobre o tema, enquanto se aproxima o Dia dos Namorados - data comercial, é claro, mas que lida com sentimentos íntimos e por isso, é sempre bom sacudir os casais que enrolam-se em tantos tratos sociais que acabam sem saber realmente aonde estão, o que representam e o que escrever sua história comum. Casal novo, qualquer lembrança é motivo para os folguedos amorosos. Mas e a turma que já está no barco faz muito tempo e enfrentou tanto vendaval que já enjoa tocar-se com medo de transformar marola em tsunami? E os que vivem a solteirice? Os que amam o amor dos outros? Ai, ai. Quão vicioso é o ciclo da vida.


Sabem o que escritora chilena recomenda? Prazer. Carinhos, ternura, sensualidade. Fantasia. Allende diz que não se deve rejeitar nada por vaidade. Fazer amor ainda vale a pena? “Mas ele está um bagaço e eu nem me atrevo a encarar o espelho”, pensará a mulher já na idade madura. E mal sabe ela da força que carrega em si, do poder de transformação que tem ao cerrar os olhos para os medos e abrir a imaginação para a doce fantasia do prazer a dois. Cada história de amor, tem seu tempo e as mais distintas fases. O que não pode acontecer é o lago secar, matando o espelho d’água que refletia céus e paraísos. Somos deuses e fomos eternos muito mais de uma vez. E não podemos esquecer deste detalhe.

Diz o poema da gaúcha Liana Timm: “Hoje, ao invés de opaca, cintilo como humana criatura entre teus dedos. Rasgo as instruções, os resguardos e tomo como minha a tua boca...” Impossível? Então quebremos as rotinas. As loucas terapias do tédio, os compromissos assumidos em nome do sei lá o que e que simplesmente engarrafam os sentimentos e transformam em transgressão o amor maior. Cada um tem seu jeito de ser. Cada um é uma aventura a ser iniciada.

Nesse percurso só não vale ser repetitivo. O único exercício semelhante dever ser o movimento incandescente dos corpos que namoram sob a sombra da excitação, divina tesão. Quem dera todos chegassem a esse patamar sem rugas, sem rusgas, sem calmantes, botóx ou terapia de casais. Só que não é assim. E o fato de estarmos cercados de compromissos, de filhos, netos ou amigos no clube ou trabalho, não significa que não possa existir alguém especial. A qualquer hora, qualquer dia.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Airbus A330, vôo de intensa luz branca na imaginação

Os destroços encontrados não são da aeronave da Air France que desapareceu no Oceano Atlântico. São madeiras de qualquer coisa menos do Airbus A330 engolido pelo mistério. Imagino a angústia, a lágrima suspensa, o adeus sempre postergado dos familiares destas 228 vítimas - gente de tantas nações iluminados apenas por saudade e orações.

Ontem mesmo um amigo metido a ufólogo já levantou conjecturas de abdução por extraterrestres. Alertou que um piloto da companhia espanhola Air Comet viu um clarão “forte e intenso de luz branca”, em trajetória descendente e vertical, na mesma noite e rota em que sumiu a aeronava.

O clarão desapareceu em seis segundos e tem o testemunho do copiloto e uma passageira que estava na cozinha da aeronave. É assunto sério demais para mistificações. Mas bate um certo arrepio, diante da solitária vastidão atlântica, onde tudo pode acontecer. Agora, devemos exigir a lógica, a exatidão científica.
Depois, bem adiante, os discos-voadores que segundo esse amigo, podem ter imensas bases nas profundezas dos mares, deverão pautar matérias especiais em canais como o History Channel, da Sky, por exemplo. Por enquanto, devagar na fantasia.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Uma obra de arte e aqueles lindos olhos azuis

O amor funciona melhor quando se respeitam os gostos e a história anterior de cada um

Estava tudo quase perfeito. Lá fora, frio e chuva. Dentro de casa, uma dessas comédias românticas repetidas mil vezes, era apenas desculpa para as pipocas, rapadurinhas e o chimarrão. No sofá macio, cobertores e afagos mantinham as mãos ocupadas e quentes. De repente aqueles lindos olhos azuis o fitam, questionadores: “Amorzinho, posso te fazer uma proposta? Tu não vai ficar chateado comigo?” E antes mesmo da resposta, virou-se para a parede da sala, apontando o imenso painel em óleo intitulado “Eldorado”, trabalho da artista plástica Dione Veiga e sugeriu: “Vamos tirar daí? Dar para alguém, sei lá...”.


Experiente e por isso mesmo, sem tempo para a perplexidade, reagiu com a naturalidade que o momento exigia. Respondeu - direto e definitivo: Não! Voltou-se ao filme e seus personagens vivendo crises, encontros e desencontros. Preparavam-se talvez para o final feliz. Sessão da tarde necessita de roteiros sem tropeços e trilha sonoras envolventes. Olhou pela janela, a chuva insistia forte. E se estivesse só naquela hora? Ninguém para redecorar a casa, sugerir, indicar, apontar novidades. Mas e o frio?

Sem disposição para a polemica argumentou que o trabalho fora um presente da própria artista. Se não entendia o abstratismo das cores fortes em vermelho e amarelo, usados na pintura que mesclava tintas, areia e pigmentos em ouro, explicaria tudo outra vez. Sim, porque no início do namoro, relatara toda a história daquele trabalho. E de outros detalhes artísticos que ocupavam as paredes da residência. Ela achara bacana. Tempos de champagne, tudo acabava em borbulhas e esquecimento.

Em outras palavras é sempre assim. O começo é uma pré-estréia com tapete vermelho. Qualquer cantinho vira mansão. Não existe o feio na casa da paixão. Aos poucos – e isso é uma característica bem feminina – começam as pequenas intrometidas dicas. O sofá já não é tão legal. Aquelas panelas que foram da tua avó, resistiram a todas ex-namoradas, esposas ou candidatas, correm novamente o risco de serem vendidas a um ferro-velho. Os canteiros cultivados em anos de trabalho, brigas com jardineiros preguiçosos e tias solteiras, voltam a sofrer ameaça de despejo. Até a disposição de porta-retratos, ou a marca de teu desodorante é questionada por sensíveis narinas apaixonadas.

Vida a dois tem um preço alto. Pode acabar em "Vida a um mandando e outro obedecendo". Ilustres leitores deste post, solteiros, casados ou juntados. Em datas especiais – aniversário de convívio, por exemplo - dêem como presente, liberdade e alguma consideração a história individual de cada um. A partir daí, tudo se negocia. Até uma obra de arte pode ser alvo de mudança para uma nova sala, ou troca de moldura. Quem sabe?

Mas para a comédia romântica do cotidiano seguir em frente é preciso tato e sensibilidade. Ou pode acabar em tragédia “shakesperiana”. Aliás, foi o próprio dramaturgo inglês quem disse, “Lutar pelo amor é bom, mas alcançá-lo sem luta é melhor”.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Sonho perdido em uma madrugada no Atlântico

Acordei com um aperto no peito às quatro horas da madrugada fria desta terça-feira. Eu me sentia distante, como se estivesse retornando de uma longa viagem. Voltei a dormir. Sonhei que atravessava um corredor imenso, todo branco, com dezenas de pessoas sentadas na espera de algo que eu não sabia bem o que era. Vestidas em trajes de passeio, rostos sérios, perdidos. Uma delas veio ao meu encontro, apenas me observou. Tinha uma interrogação no olhar. Mas não disse uma única palavra. Tentou falar, as palavras eram engolidas por um vácuo, sei lá.

Havia uma porta, ainda fechada. Tentei abrir, mas estava chaveada. Eu me aproximava deles, que me olhavam. Quietos. Um silêncio, um oco desconcertante me deixava ainda mais angustiado. Quis me aproximar mas o som irritante de uma canção sem graça me despertou. Seis horas, alertava o despertador.

Mal abri os olhos e me veio a lembrança do sumiço, na madrugada de domingo, do Airbus A330 da Air France que fazia o trajeto Rio de Janeiro-Paris. Desapareceu na imensidão do Oceano Atlântico com 228 pessoas a bordo. Não quis relacionar a tragédia a meu estranho sonho, mas aproveitei para rezar. Uma oração sempre vale a pena. Rezei por todos, passageiros e tripulantes que precisam de nossa fé para seguirem sua viagem. Se não os encontrarmos mais vivos, se a aeronave foi engolida pelo vastidão oceânica - ou abduzida por extra-terrestres, que estas 228 almas se reencontrem no plano que Deus lhes designou.