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quinta-feira, 28 de abril de 2011

Eu vi o que a Bahia tem


Gilberto Jasper/Especialíssimo para o Concriar

Preocupada com minha saúde física (e principalmente mental), minha mulher, a também jornalista Cármen Jasper, armou uma surpresa: reservou passagens e uma estada de uma semana em Porto Seguro, na descontraída Bahia, terra de todos os santos.

Confesso que fiquei desconcertado ao receber a notícia, Mas depois de sete dias de muito peixe, mar azul-esverdeado e cerveja gelada. Ah...e com o celular esquecido propositalmente em Porto Alegre. Reconheço que foi o melhor presente que a “patroa’ me deu ao longo de quase 30 anos de convivência.

Não pretendo imitar os cadernos de turismo, mas como não resisto a tentação de compartilhar com os amigos leitores minhas impressões, dicas, observações e até críticas a partir de um olhar turístico-jornalístico.

Viagem: Partimos de Porto Alegre na sexta-feira (15/4) no início da tarde e chegamos à noite a Porto Seguro, com escala em Guarulhos (SP). Tudo tranqüilo, dentro do horário. A surpresa foi o modesto aeroporto de Porto Seguro: acanhado, com apenas três lancherias, meia dúzia de cadeiras e sem ar condicionado

  • Hotel: Ficamos hospedados no resort Costa Brasilis (http://www.gjphoteis.com.br/  ou http://www.costabrasilis.com.br/), localizado em Santa Cruz Cabrália, distrito distante 27 km de Porto Seguro por uma rodovia asfaltada. Para chegar ao hotel usávamos uma balsa que opera nas 24h do dia. Foi uma volta à infância para mim e uma novidade para minha mulher.
  • Passeios: Compramos apenas um pacote através da CVC, operadora de turismo que domina o mercado, quase um monopólio. Conversamos com hóspedes, pegamos dicas de nativos da região e montamos nossos passeios. Usamos ônibus de linha (R$ 3,50 até Porto Seguro). De lá partem quatro balsas para praias paradisíacas como Arraial D’Ajuda e Trancoso, além da Praia do Espelho. A tarifa (R$ 3,50) é paga somente na ida.
  • Kombis: Ao desembarcar da balsa se vislumbra uma fila enomre de kombis de cor branca com um friso azul. Parte delas leva turistas ao parque aquático de Trancoso (atração de destaque em todo o Nordeste) e parte faz o transporte para as inúmeras praias.
  • Acaso: Entramos na primeira caminhonete que apareceu sem perguntar para onde ia. Depois de sacudir por 20 minutos, finalmente os 13 passageiros chegaram à praia da Pitinga: águas claras, espreguiçadeiras com colchonete à beira mar, música ao vivo e passeios de cavalo nos aguardavam. Acampamos na Barraca Maré (http://www.barracamare.com.br/). Imediatamente identificados como gaúchos – minha esposa pelo sotaque e eu, claro, pela cor da pele quase transparente – fomos brindados com uma garrafa de um litro de cerveja Polar, uma raridade na terra do acarajé!
  • Comida: O peixe, claro, é o carro-chefe do cardápio baiano. Sou um carnívoro assumido. Reluto diante de frutos do mar e outros quetais, mas me rendi – por exemplo - ao filé de dourado (do mar) preparado com uma crosta crocante de óleo de linhaça. Show de bola! Camarões, lagostas e outras especialidades são abundantes a preços civilizados.
  • Passarela do Álcool: É um dos principais cartões-postais de Porto Seguro. Tem uma deslumbrante vista do cais, separando, de um lado o encontro do Rio Buranhém com o mar e, de outro, o casario colonial do Século XVII. Tombado pelo Patrimônio Histórico, essa região histórica cresceu em torno do comércio, da pesca e da construção. É uma mistura de boemia e centro comercial, com dezenas de lojinhas coloridas que vendem todo tipo de lembranças, artesanato, cachaça e temperos. Imperdível!
  • Ponto obrigatório: O primeiro passeio que fizemos por conta própria foi à praia de Coroa Vermelha, uma enseada localizada à beira da Avenida Beira-Mar que liga Porto Seguro à Santa Cruz Cabrália. Foi lá que Pedro Álvares Cabral atracou em 22 de abril de 1500. Por isso é conhecida como a Praia do Descobrimento. Foi ali, ainda, que o Frei Henrique Soares de Coimbra celebrou a primeira missa no Brasil, a 26 de abril de 1500. Tudo está lá, registrado com monumentos, marcos e imagens onde tirar fotos é uma obrigação!
  • Índios: Em Coroa Vermelha também se encontra a reserva indígena Pataxó com um povoado de nativos que oferece artesanato legítimo. Tivemos tanta sorte que nossa estada nesta praia ocorreu justamente em 19 de abril, Dia do Índio! Inúmeras atividades marcaram a comemoração da data, com a instalação de ocas, danças típicas e competições. É impossível ficar indiferente ao apelo histórico e à beleza do lugar.
  • Churrasco: Para quem não consegue ficar longe da carne vermelha tostada na brasa vai outra dica: existem pelo menos três churrascarias. A maior é a Barraca do Gaúcho (www.barracadogaucho.com.br) localizada na Praia de Taperapuan, entre Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália. Segundo o taxista que nos levou do hotel ao aeroporto – e que trabalhou 25 anos como mâitre em vários hotéis do Nordeste – é o melhor churras da cidade. Foi fundada em abril de 1989 pela família gaúcha Miola e idealizada pelo patriarca que era caminhoneiro.
  • Presença gaúcha: Outra atração gaudéria em terras baianas é o vinho. Marcas como Miolo e Valduga estão em quase todos os restaurantes com preços nem tão apimentados e safras honestas. A Serra – principalmente Canela, Gramado, Nova Petrópolis, São Francisco de Paulo, Caxias do Sul e Bento Gonçalves – estão na boca de todos os turistas, a esmagadora maioria do interior de são Paulo e de Minas Gerais. Fizemos amizade com um casal de uma pequena cidade paulsita que, em sete anos, esteve cinco vezes em Gramado. Ele bem que tentou passar a Páscoa na Serra novamente, mas foi ameaçado de separação pela esposa que queria temperaturas mais amenas...
  • Música: Há cerca de três anos estivemos em Salvador. Chamou a nossa atenção a maciça difusão de músicas (e músicos) da terra. Não se ouvia rock, MPB, pagode ou samba porque havia predominância única do axé e suas variantes. Desta vez, no entanto, notamos que a música sertaneja predomina ao ponto de uma turista paulista que viajava conosco numa van à praia de Trancoso brincar com o motorista: “Moço... a gente tá na Bahia ou no interior de São Paulo?”, provocou com bom humor.
  • Opções para todos os bolsos: Porto Seguro é a maior concentração fora das capitais São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador. Segundo dados oficiais, possui 35 mil leitos distribuídos em 600 hotéis e pousadas. Existem opções para todos os orçamentos: de resorts cinco estrelas a pequenas e aconchegantes pousadas e até quartos avulsos.
  • Alta e baixa temporada: Findo o feriadão de Páscoa, se inicia a baixa temporada. A retomada, no entanto, não tarda. Nas férias de julho a cidade é invadida por mais de 15 mil adolescentes de todo o país. Depois, até o final do ano, inúmeros eventos, congressos e encontros – nacionais e internacionais – se sucedem e mantém hotéis, restaurantes e locadoras de automóveis em permanente efervescência. No feriadão de Páscoa havia 35 mil evangélicos num único evento!
  • Gentileza e bom humor: Os próprios baianos fazem troça com a fama de malemolência que os caracteriza. “Aqui tudo é uma questão de talento: tá... lento pra chegar o garçom, tá... lento pra trazer a cerveja, tá... lento pra fechar a conta e assim por diante”, costumam dizer. Mas compensam com gentileza, paciência e presteza. Estão sempre dispostos a fornecer dicas de passeios, lojas, promoções, restaurantes e barbadas em geral. Adoram bater papo. Pechinchar é obrigação de todo turista. Isso nos poupou muitos reais.
  • Clima: Chove, em média, três vezes por dia em Porto Seguro e região. Chover é um exagero porque são pancadas intensas que duram de 10 a 15 minutos e rapidamente dão lugar a um sol escaldante. Isso exige muito cuidado com a pele. Usei protetor solar com fator 50 todos os dias. Mesmo assim a saliente barriga mantida com pilhas de latinhas de Skol ficou sapecada por duas vezes.
  • Dica final: Se for possível pague seu pacote antes de viajar para evitar preocupações na hora de comer bem, fazer compras ou locar um carro. Ou seja: a consciência (e o bolso) estarão bem mais leves sabendo que toda (ou parte) da despesa com hotel e passagens está quitada.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

De casa, assisti o feriadão estressar os outros


A vida em zona rural é assim... agitada. Nos feriadões chuvosos, um horror
 Quarta-feira passada, vi a rodoviária de Porto Alegre congestionada - como nunca! Depois a mídia me exibiu o longo e inédito engarrafamento da BR 386, que seria meu caminho natural para visitar a sogra e familiares e percebi que não era de graça o desânimo que em mim se abatera.

O feriadão esticado motivou o povo a agendar todo tipo de passeio e aí, as estradas que já são complicadas em sua rotina, tornaam-se no inferno que assistimos. E voltaram as chuvas torrenciais e os deslizamentos de terra. Mais mortes e uma tristeza que não merecíamos.

Como eu moro em um sítio, a coisa fica mais fácil. É claro que com todos os filhos na estrada entre o Uruguai e Santa Catarina, bate uma expectativa que dê tudo certo, que aproveitem e sejam abençoados na ida e na volta. O resto dos dias permaneci entre a cozinha, a sala e o quarto. Não necessariamente na mesma ordem. 

Cuidados com o lar... a limpeza também dá uma certa alegria. Ver tudo limpinho... Coisa de pobre, dirão meus amigos abonados.  Mas entre o estresse das rodovias, a multidão amontoada nas ruas da Serra,  decidi curtir a chuva de casa mesmo. E quando o domingo abriu em sol e temperatura civilizada, fiz minha caminhada matinal ainda no chão úmido, pensando em qualquer nova receita de bem viver. Regada a um bom vinho tinto, é claro.

Boa semana à todos!

quinta-feira, 21 de abril de 2011

E a Sexta-Feira Santa à moda antiga?

Todo bom cristão sabe que a Sexta-Feira Santa, lembra o julgamento, crucificação, morte e sepultura de Jesus Cristo. Quando eu era guri, as rádios tocavam somente música erudita em árias melancólicas e fúnebres.

Os católicos tinham a obrigação de uma reflexão sobre a paixão de Cristo em seu calvário. Comíamos peixe, em pequenas quantidades. A Igreja recomendava jejum. Hoje, tudo mudou, tem  feira de peixe em todas as cidades, pequenas ou metrópoles. A paixão de Cristo virou um grande negócio.

Mais parece uma "celebração" a base de frutos do mar e vinhos, principalmente. Tem algo estranho em tudo isso, ou o cristianismo moderno já não é mais o mesmo?

Um show inesquecível de Roberto Carlos nos anos 70

Início dos anos 70 e lá estava eu, meio perdido entre a vocação para o jornalismo e a pressão da família a insistir que esta vocação era sinônimo de pobreza. Meus ídolos estavam igualmente amadurecendo. O rock britânico perdia os Beatles era o sonho que se acabava. No Brasil, os baianos Caetano e Gil, a revolução pop dos Mutantes, faziam minha cabeça, entre outros, como Chico Buarque e alguns discos de rock argentino que chegavam de amigos que visitavam Buenos Aires.

Outro ídolo de infância, Roberto Carlos, entrava em uma fase romântica, mas ainda com pique frenético.  Canções como Sua Estupidez, As Curvas da Estrada de Santos, por exemplo, tinham uma sinceridade fantástica, uma coisa meio de rasgar a alma e se expor, embora a contraditória atitude contida do artista. Nada de modismo, apenas versos sinceros. Por um acaso destes, acabei assistindo a um show do Rei no Canecão, uma imensa choperia da moda de um Rio de Janeiro ainda apaziguado e lindo como sempre.

Confesso que fui levado, sem muita empolgação, por amigos. E jamais esqueci o profissionalismo, o carisma de um Roberto Carlos inovador. Alguns anos antes, durante sua participação nos festivais de San Remo, na Italia, RC assistira, em Paris, a um show do francês, Johnny Haliday e ficara fascinado com a superbanda que o acompanhava. De volta ao Brasil, fez o mesmo. Acrescentou sopros, vocais e um som mais pesado a suas performances. Nesse estilo gravou discos, como “O Inimitável Roberto Carlos”, onde o hit “Ciúmes de Você” era a síntese maior deste Roberto Carlos swingado.

Este show no Canecao, tinha a entrosada RC7, banda que o acompanha ainda hoje. O Canecão, acredito eu, marcava o padrão de apresentações que leva até hoje. Contava algumas piadas, enaltecia os amigos da Jovem Guarda, especialmente Erasmo Carlos e Wanderléia. E em determinado momento, ao cantar “Meu Pequeno Cachoeiro”, canção em homenagem a cidade onde nascera, cita pela primeira vez o acidente de trem que lhe decepara pedaço da perna direita. O trauma, a dor do menino que não poderia mais jogar futebol e a volta por cima, com a música. Eu e todo público, comovidos com as memórias do cantor.

Saí de lá impressionado, as roupas pretas (RC ainda não sofria com os transtornos que o levam a vestir somente azul e branco), o estilo que misturava baladas, rock e uma pegada vigorosa – não lembro o nome do fantástico baterista – mas ele sentava a pua. Maravilha! Foi nesse show que iniciou a fase mística, com a canção Jesus Cristo, talvez inspirada no mega hit My Sweet Lord, de George Harrison. Saí do show convicto de que Roberto Carlos estava a caminho de tornar-se um dos maiores artistas da América Latina. O que se confirmou. Gravou em espanhol (com um sotaque horrível, no início) e vendeu milhares de discos nos países vizinhos.

Mas aquela noite, no Canecão, ficou para sempre como uma lembrança feliz. De um artista humilde, que canta com o coração e por puro prazer. Seus milhares de fãs não exigem tanto assim. Portanto, o errado deve ser eu que estou aqui a celebrar – com atraso – os 70 anos de um cara que, afinal das contas, fez minhas tardes de domingo, na adolescência, serem mais felizes. E isso, em períodos de ditadura representava muito.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Exageros da mídia na tragédia do Rio de Janeiro

Por Gilberto Jasper
Especial/Concriar
Não defendo a divulgação somente de informações positivas para apresentar diariamente uma espécie de “noticiário cor-de-rosa da vida”. Há muitos anos se instalou uma polêmica a respeito da cobertura jornalística de qualquer natureza: o consumidor (leitor, ouvinte, internauta e telespectador) adora de tragédias e por isso os veículos de comunicação optam predominantemente por este tipo de conteúdo ou os jornais, rádios, sites e televisões manipulam a opinião pública para fazer deste conteúdo a preferência da maioria?

Faço esta introdução para confessar que, como jornalista profissional há mais de 30 anos, estou envergonhado com a massacre que as emissoras de televisão impingiram à audiência em relação à chacina que resultou na morte de 12 jovens numa escola do Rio de Janeiro. O programa Fantástico do último domingo foi repugnante. Assisti apenas à parte que falava de um pretenso “manuscrito” que, por enquanto, é um conjunto de folhas rabiscadas por um demente porque estava à espera dos gols da rodada.

É necessário mostrar uma criança baleada
na cabeça deitada numa cama de hospital?
Entrevistar crianças baleadas – como um menino atingido no peito, mãos e cabeça – deitadas num leito de hospital é apelativo para dizer o mínimo. Longe de mim ser puritano, mas é preciso respeitar alguns limites mínimos sob pena de transformar o país num espetáculo dantesco onde a dignidade humana não vale um centavo. Dirigentes da Rede Globo costumam endereçar farpas contra a Rede Record pelo gosto duvidoso de divulgar “notícias de sangue”, predominantemente policiais, de cunho violento, apelativo e de baixo nível.

Desde a divulgação do massacre do bairro carioca do Realengo, a Globo se transformou numa cópia do Programa do Ratinho. Montou um estúdio defronte à escola onde ocorreu a chacina e bombardeou o telespectador com todo tipo de conteúdo apelativo da madrugada à noite. Não poupou sequer pais, professores, parentes e as próprias vítimas. Aquela imagem capturada do circuito interno da escola que exibia um menino agonizando, baleado e caído no chão, extrapolou qualquer medida de bom senso.


Fazer jornalismo é mostrar a realidade. Ok, mas há limites para tudo.
Até mesmo na luta pela audiência é preciso equilíbrio.

Imagino que um batalhão de repórteres e produtores da Globo bateu de casa em casa na vizinhança do colégio em busca de “imagens inéditas”, verdadeira obsessão da rede plin-plin.

O impacto do massacre na escola foi tão grande
que algumas imagens eram desnecessárias

Será que o episódio em si mesmo já não seria motivo suficiente para gerar a revolta de todo o país e do mundo? É necessário exibir à exaustão cenas de crianças ensanguentadas correndo desatinadamente porta afora da escola ou depois sentada na calçada, aos prantos, à espera de socorro?

A noite de domingo piorou diante das feições pungentes, de dor e revolta, de Zeca Camargo e Patrícia Poeta e, logo em seguida, grandes sorrisos para anunciar a reportagem sobre a perda de peso dele e de Renato Ceribelli. Como acreditar em tamanha charlatanice de sentimentos de quem faz de tudo para vender audiência de qualquer custo?

Muita gente me achará reacionária. Dirá que a censura acabou, que há total liberdade de expressão no país e que se deve mostrar “a vida como ele é”. Lamento, amigos, mas eu não compartilho deste ponto-de-vista. O respeito à vida e à dignidade das pessoas foi invocado milhares de vezes desde os assassinatos. Ao vivo e em matérias gravadas, porém, o que houve foi um vale-tudo por pontinhos do Ibope.

Depois de mais de três décadas como profissional da informação, confesso que continuo envergonhado. Tenho filhos, adoro crianças e aprendi que respeito é bom e tudo mundo gosta.

Menos os canais de televisão, ao que parece.

Leia mais sobre o assunto em http://viadutras.blogspot.com/2011/04/roteiro-previsivel-da-tragedia.html

domingo, 10 de abril de 2011

Domingo é sempre assim

Não distribuirei essa postagem. Pode ser que permaneça perdida, presa as ferragens digitais do blogspot. Pode ser que outros se identifiquem com o meu estado de espírito neste final de domingo, 10 de abril de 2011, e postem alguma solidariedade. Mas não é isso o que busco.

Simplesmente não quero ser o único a achar uma chatice o desperdício de um dia tão ensolarado – ou tão chuvoso, se for o caso – em troca de muito pouco em termos de satisfação. Quem sabe alguém digite uma das palavras que ajudaram a construir esse texto e surpreenda-se com a constatação óbvia: segunda-feira é perfeita para dar uma nova ênfase às rotinas, mas na maioria das vezes as mantemos assim mesmo, rotineiras.

A culpa é da forma errada que, na maioria das vezes, aproveitamos o final de semana. Eu, por exemplo, desde sábado acompanho as mudanças típicas da estação. Chuva, sol, frio e calor, revezando-se como meu senso de humor. É mais fácil quando se vive em meio a natureza. Alegre e de repente, quase triste. Motivos para queixas são muitos: o que tenho recebido em troca de tanta dedicação existencial? Tanto respeito? Tanta solidariedade? Não revelarei os resultados que o pessoal de minha contabilidade entregou. Não vale a pena.

O que realmente importa é que não tenho ligado muito para meus amigos, meus bons amigos. Aqueles que, volta e meia, falam mal de mim, mas botam a mão no fogo quando necessário. Cadê a confraria? Vinhos, queijos e cervejas especiais? Era um sucesso até eu desistir, sei lá por que. Os passeios culturais, as taças em bares bacanas com gente que busca coisas semelhantes, são memórias passadas. Em resumo, estou me reservando a um conservadorismo burocrático. A um tédio com cara de auto-exílio.

E as semelhanças são a roupa íntima para as diferenças que separam a grande massa pensante. Clube de futebol, partido político ou gênero musical, entre outros gêneros, enfim. No momento estou semelhante aqueles que no domingo cuidam bem da casa, organizam o roupeiro, dormem um pouco mais e será que alguma coisa muda? Mudar é importante.

Faz tempo que decidi ser menos conformado e rotineiro, no sentido acomodado da palavra. As boas rotinas, as que fazem um domingo ser menos depressivo, sempre serão bem vindas. E toda segunda-feira, também terá uma cara mais bonita.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Verso (idéias soltas em espanhol)


Versos que para uma canção da BandAbsurda que não saiu do primeiro acorde


El verso es irreal. En lo mínimo, divisa.

Busca em el dia-a-dia, el alimento de las ideas.

En el papel, transforma todo. Delírio hambriento de verdade.

En el, pulsa la angustia de la rima obvia.

Queda en el lodo de la imaginación.

El verso es un paseo nocturno en una calle qualquiera.

Suicida y matrera. Peligrosamente lindo!

Tanto amor, tanto ódio.

Haya métrica para toda agonia. Toda controversia.

Si la felicidade huye del espejo. El verso

Depende del amor en el mundo material.

De la passion sudada. Desnuda.

Da la ambguedad del gemido convexo.

El amante torturado em el lecho.

Padre, hijo. Santo espiritu.

Tren repetiendo el camino dramático de las safenas.

Explota hipertenso.

Tanto ai... tanto trillo.

Va existir siempre alguien que tema ese viaje.

Cambie la aventura por la ventura del equilíbrio.

El paso cierto, resbalar sin riesgo em la navaja.

Siempre invertebrado. Canalla.

Sin el tal verso. Sin inspiracion.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Qual o vinho ideal para o outono?


Um bom vinho é bom o ano inteiro, mas alguns são perfeitos no outuno
 Está decidido: a chuva desta sexta-feira, Primeiro de abril, Dia dos Bobos, se não for um trote da natureza, promete um final de semana típico de outuno: quase frio, com com céu tinto a sugerir, ou melhor ainda, exigir uma boa garrafa de vinho, "harmonizado", como é da moda afirmar-se, com pratos mais encorpados. E quais são os melhores variatais para esta época? Como não tenho a competência de um autêntico sommelier, mas me garanto no bom gosto e sensibilidade nesta área, sugiro aos meus amigos, castas viníferas como o merlot, o cabernet sauvignon, tempranillo, a portuguesa touriga nacional – juntas, ou separadas, sem problemas.


Ainda não está na hora dos tintos encorpados como os tannat ou malbec. Mesmo o delicioso carmenère ainda pode esperar um pouco mais, com seu corpo macio e aroma com toques de baunilha e amendoas (torradas na Europa Meridional, é claro). Quem sabe na Páscoa, acompanhado de um voluptuoso risoto de bacalhau. Mas voltemos ao outuno. Em relação a marcas, não indico muita coisa. Não tenho acompanhado os lançamentos. Faltam recursos financeiros para provar tudo que aparece, lamentavelmente. Mas, os chilenos continuam maravilhosos, a Argentina corre logo atrás, qualificou bastante seus vinhedos nos últimos anos e, entre os gaúchos, continuo fã da Vinícola Dal Pizzol, que nunca dá um passo maior que as pernas e tem produtos muito bons para quem deseja prestigiar a produção de vinhos do Rio Grande do Sul.

Cuidado com os vinhos europeus. Nos supermercados eu vejo dezenas de vinhos normais, de mesa, com mais de quatro anos. É um perigo, pois somente vinhos típicos de guarda, ou seja, feitos para tomar bem “velhinhos”, devem ser adquiridos. Certa vez comprei um “Periquita”, português, já com sete anos na garrafa e tive de encarar aquele sabor de rolha mofada, azeda. Espertezas do Velho Continente. Europeus, só um bom Santa Cristina, da família Antinore, vinho com a leveza da Toscana, um espanhol fantástico, Gran Feudo Reserva Viñas Viejas e da terrinha, Portugal, meu favorito, o Herdade do Esporão, com sua aromática mistura entre o Syrah, Aragones, Trincadeira e Alicante Bouschete.

Mas sem devaneios, um bom tinto destas cepas, que não custe muito abaixo dos R$ 12 já fará a festa. Experimentem e depois me enviem relatos.