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sexta-feira, 26 de julho de 2013

Mick Jagger e os roqueiros setentões

Velho? Sim, mas sem desafinar
Eu sei que o tempo não perdoa.  Os excessos que a juventude antes me permita, hoje são duramente castigados com dores no corpo e ameaças terríveis que podem  deixar a vida bem mais difícil, ou encerrá-la definitivamente. Até mesmo os papas – vejam Bento XVI – pedem aposentadoria. A diferença é que cuidar do corpo e da mente, nestes novos tempos, não significa uma aposentadoria caquética, mas um tempo para outras atividades que mantenham a mente ocupada, a alma feliz e o corpo protegido. O Papa Emérito agora medita recolhido para estudos sobre a Igreja. Um trabalho intelectual importante.  O argentino Francisco, seu substituto, que também é veterano, tem vigor de menino e cumpre seu papel com eficiência, e energia. Provou isso essa semana, no Brasil.

O que nos diferencia no tratamento com os velhos, nos dias de hoje?  Com certeza não são as expressões do tipo “melhor idade”.  A palavra “idoso”, embora sua origem em idade, tem uma conotação que segrega. Não considero meus 60 anos a “melhor idade”, no sentido do vigor que se vai, mas uma vantagem, com certeza, no quesito amadurecimento. Mas como tem muito velho com mentalidade infantil por aí, eu definitivamente não acredito nestes eufemismos. Coisa bem cínica. Dói tudo, os joelhos exaustos do sobrepeso, os músculos exigem menos sedentarismo – corpo de velho precisa de movimento – e ainda estou a pagar, literalmente, pelos erros cometidos na juventude afobada que tive. Minha alma sim está mais leve, mais bonita. Vê o mundo com a tranquilidade que nunca tive.  

Tenho certeza que é essa leveza espiritual que move velhos ídolos dos anos 60. Mick Jagger, nesta sexta-feira completa 70 anos! Ringo Starr, baterista dos Beatles já vai pros 72! E está firme, dizendo que os tambores são a sua “loucura”.  Assisti Paul McCartney em Porto Alegre, um guri aos 68 anos, tocando por três horas seguidas e levando o público às lágrimas de pura emoção. No Brasil, Caetano Veloso reclama das dores da idade, mas tornou-se um poeta menos preocupado com a fama e mais concentrado na musicalidade de seus versos do que as caras e bocas do passado. Gilberto Gil, Chico Buarque de Holanda, Paulinho da Viola, são mestres e ainda lotam teatros.  A arte, quando autêntica é elixir da juventude.

Retomo a pergunta: o que nos faz diferente dos velhos de antigamente? Fundamentalmente, fomos retirados da redoma de falsa proteção e adoração que nos mantinha enclausurados nos mais terríveis covis do tempo. Minha bisavó Rita, era cercada de cuidados. Não deixavam a pobre velha fazer nada por ser...  Velha. Como se a idade avançada a tornasse um bibelô trincado pelo tempo. É claro que ela morreu encurvada, paralisada pelo excesso de ajuda. Todo esse cuidado com os anciãos de outrora,  também cansava os mais jovens que lá fundo, às vezes nem tão fundo assim, consideravam  seus velhos um estorvo.

O século 20 passou rápido demais. Novas tecnologias, a vida urgente, compromissos, a indústria, o comércio a exigir mais e mais do corpo. Tudo virou negócio e, quem cansava mesmo aos 40, tornava-se dispensável. Hoje, no século 21, aos poucos, percebemos a diferença gritante. Velhos são os que não têm luz própria, que se focam em um único objetivo. Esses consomem toda sua energia no estalar de dedo que representa uma existência.  

Nós, veteranos modernos exigimos respeito. Mas nunca a reverência cínica dos que nos queriam mandar para um asilo. Hoje nós decidimos ir ao asilo como forma queremos seguir produzindo,  aposentados do trabalho, mas nunca da vida.  Não precisamos ser úteis, mas nunca inúteis trastes. Os velhos passam a ser fonte de consulta, de lições de vida. Mick Jagger, quando sobe o palco, mostra que a vitalidade está no espírito, que lhes ensinou a domar a rebeldia, mas nunca sufocá-la.  Cada show destes veteranos é uma aula de resistência, de amor a vida! E quem ama, eterniza-se. Por isso, iremos ao infinito e além!

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Meu lugar no Dia do Homem

Tem lugar no tal Dia do Homem para aqueles que brigam com a balança? Aqueles que já levaram tantos tombos que já carregam mais cicatrizes do que medalhas?

Tem lugar para aqueles sujeitos que engolem sapos, mas não desistem da nobreza mesmo em trajes de liquidação?

Tem lugar para aqueles que economizaram pra comprar um anel para a amada e a grana virou feijão com arroz quando a crise apertou?

Tem lugar para os que viraram uma foto desbotada no álbum de casamento, mas não abandonaram a família? Se existir essa brecha, a homenagem é justa. Mas homem que é homem de verdade, não liga para essas coisas.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Modo Shuffle

Por Roberto Quintana | Especial 

Así amó, sin pasión, ausente de su propio cuerpo. Como si fuese máquina, bien dijo Chico Buarque. Se volvió de lado y estiró la mano, pero detuvo el gesto apenas recordó que Lidia no le permitía fumar en la cama, para qué comenzar una pelea el último día.

Siguió tirado boca arriba. Pegado a Construção irrumpieron los Beatles, con Yer Blues. Antes Barrio De Tango por Goyeneche y antes de eso Sting y Ella Fitzgerald, o al revés. Caprichos del iPod conectado en modo “shuffle” al equipo de sonido. Roberto nunca estuvo de acuerdo con esa forma anárquica de escuchar música, seguía prefiriendo el CD, lo tranquilizaba que las canciones se sucedieran en el orden correcto. Pero sabía que si lo dijera, Lidia lo acusaría de pensar como un viejo. Ambos habían conocido el disco analógico, sin embargo para ella, aún el digital ya era antiguo.

Lidia, la flaca Lidia, con la que habían bailado apretadísimos en una fiesta del colegio y de la que no había tenido noticias desde la graduación. Hasta que veinte años después, se reencontraron por casualidad en una conferencia y sin mediar palabra terminaron lo apenas insinuado en otra época. Roberto saliendo, muy a su pesar, de un matrimonio de más de quince años. Y Lidia, que ostentaba una larga lista de romances efímeros, pero estaba convencida de que esta vez, quería una relación sólida y duradera.

Mientras la miraba vestirse, las frases de Chico Buarque seguían sonando en su cabeza. Allí estaba, convertido en un paquete flácido después de tropezar en el cielo, igual que el obrero de la canción. Como en su adolescencia, cuando el lunes siguiente a la fiesta, vio a Lidia salir del colegio abrazada a Carlos, el de Sexto B, ese arrogante al que dos días atrás, entre risas, ambos habían apodado “El Príncipe Carlos”.

Por lo menos esta vez Lidia tuvo la decencia de comunicarle que se había enamorado de otro y que lo dejaba, pero que sería hermoso pasar esa última noche juntos. Roberto aceptó, al fin y al cabo eran gente civilizada. Ahora se daba cuenta de la torpeza cometida. Hubiera sido preferible una escena a los gritos, con reproches, portazos y lágrimas antes que ese último polvo melancólico.

Se asomó a la ventana y la vio cruzar la calle “con su paso tímido”, otra vez Chico Buarque, no había caso. Buscó el CD, lo colocó en la bandeja, apretó Play y encendió, ahora si, un cigarrillo. Terminó de escuchar el disco tirado en la cama. Todo sonaba en el orden correcto, sin sorpresas, en esa rutina que, antes de la llegada de Lidia, sentía como un bálsamo y que ahora podía disfrutar nuevamente. Pero ya no era lo mismo.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Velhice

Por Gilberto Jasper

“China cria lei que obriga filhos adultos a visitar os pais”. A manchete do rádio parecia irreal. Eram 6h da manhã, eu recém acordara, tudo parecia absurdo. Passei o dia com a manchete na cabeça até recorrer ao Google e ver que a notícia era verídica. A Lei do Direito dos Idosos entrou em vigor esta semana para tentar minimizar o crescente problema de isolamento dos velhos. Em 2010 aquele gigantesco país possuía mais de 178 milhões de pessoas com mais de 60 anos; A previsão é dobrar até 2030.

Trata-se de um alerta para o Brasil considerado um país jovem. Dados recentes, porém, revelam que o país possui 23 milhões de pessoas com mais de 65 anos, ou seja, aproximadamente 10% da população. Em 2020 o total de idosos brasileiros deve alcançar 30 milhões de pessoas.

Além dos notórios problemas de assistência à saúde de um país continental, nossos idosos deparam com o abandono de filhos e familiares. Todos conhecem casos de famílias onde pais e avós sobrevivem graças a amigos ou vizinhos. Os episódios se agravam quando envolvem doenças crônicas.

Autoridades chinesas reconhecem os obstáculos para a aplicação da Lei do Direito dos Idosos, mas dizem que um dos objetivos é mandar uma mensagem educacional. Ao contrário do Japão, onde os mais velhos são figuras proeminentes na hierarquia familiar, é difícil encontrar países onde a atenção ao idoso é prioridade. Mais do que a preocupação física com os idosos, o abandono afetivo machuca profundamente aqueles que legaram valores, tradições e a nossa própria vida.

Parece longínquo imaginar-se com 60, 70 anos quando somos jovens ou “adultos novos”. Os avanços da Medicina, somados à massificação de hábitos de saúde prolongam sistematicamente a expectativa de vida. A expectativa de vida no Brasil é de 68,6 anos, ou seja, 2,5 anos a mais que no começo da década de 90. É um avanço significativo, cujas consequências – lamentavelmente – significam o aumento do contingente de idosos desprovidos de atenção, carinho, cuidados e respeito humano.

Na media em que envelhecemos desperta a curiosidade sobre os antepassados e no resgate da árvore genealógica que nos trouxe até aqui. O crescimento dos filhos, o flerte com a aposentadoria, o cerco das doenças e as dificuldades em acompanhar a velocidade do mundo desorienta.

Sentir-se vítima do “descarte humano” certamente é um sentimento insuportável se somado ao abandono de nossos filhos e netos.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Medievais nós somos

Um dos relatos mais dolorosamente tristes que ouvi nesta semana, foi o do casal de bolivianos que assistiu o assassinato do próprio filho porque, assustado, o menino irritara com seu choro, os ladrões que saqueavam o pouco que tinham. Os bandidos queriam mais! A criança algum segundo antes, ingenuamente, lhes oferece as moedas que guardava no bolso. Mesmo assim, não foi poupada de um tiro fatal na cabeça. Decididamente, queriam mais.

Não precisamos filmes de horror. O cotidiano é criminoso, uma verdadeira aula em 3D do pior que a mente humana pode gerar. Estes estrangeiros tentavam escapar da miséria em um sonho brasileiro. Mesmo trabalhando de forma irregular para a indústria de confecções (roupas que compramos muitas vezes em elegantes shoppings), tinham encaminhados a legalização. Enquanto isso não chegava se mantinham expostos à violência. E esta os devorou.

Mais do que reclamar contra a FIFA, contra a falta de passe livre no transporte coletivo, temos de clamar, com toda a força de nosso peito cidadão, por educação para nosso povo. Educar gente é dar instrução suficiente para um mínimo de vida digna. Nas escolas, nos lares, as pessoas que recebem um mínimo de cultura, aprenderam a conversar, a discernir o mínimo sobre o que é certo ou errado.

Vivemos tempos medievais em plena era da nanotecnologia. Temos redes sociais ágeis, mas que atingem um número pequeno de pessoas. Esses poucos botam a boca no trombone contra os desmandos, os descasos de uma sociedade inculta, doente e viciada no desvio das normais que são boas, mas que poucos conhecem ou a sabem interpretar.

Ainda hoje, em Porto Alegre, dezenas de pequenos comerciantes protegem as vitrines de seus estabelecimentos com madeira compensada que, desculpem o trocadilho, os preteje contra manifestantes descompensados. Essas diferenças, esses medos, acabam sempre na questão da educação. O ensino sucateado, a família desestruturada, formada no susto, por gente que não estava preparada para gerir seu próprio destino, imagine o que farão com os filhos que colocarão no mundo.

Vamos bradar por escolas como aquelas onde se aprende a amar a vida. Além do A-B-C se encaminhe valores básicos, sem cismas, sem preconceitos, mas centrada no respeito humano. Dessa maneira todos nós seremos realmente semelhantes e os que se assemelham, saberão conter àqueles que por má índole, insistem na egoísta e autoritária prática do mal. Desculpem se escrevi uma bobagem delirante, mas nunca estive tão pé-no-chão, como agora.