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sexta-feira, 5 de julho de 2013

Velhice

Por Gilberto Jasper

“China cria lei que obriga filhos adultos a visitar os pais”. A manchete do rádio parecia irreal. Eram 6h da manhã, eu recém acordara, tudo parecia absurdo. Passei o dia com a manchete na cabeça até recorrer ao Google e ver que a notícia era verídica. A Lei do Direito dos Idosos entrou em vigor esta semana para tentar minimizar o crescente problema de isolamento dos velhos. Em 2010 aquele gigantesco país possuía mais de 178 milhões de pessoas com mais de 60 anos; A previsão é dobrar até 2030.

Trata-se de um alerta para o Brasil considerado um país jovem. Dados recentes, porém, revelam que o país possui 23 milhões de pessoas com mais de 65 anos, ou seja, aproximadamente 10% da população. Em 2020 o total de idosos brasileiros deve alcançar 30 milhões de pessoas.

Além dos notórios problemas de assistência à saúde de um país continental, nossos idosos deparam com o abandono de filhos e familiares. Todos conhecem casos de famílias onde pais e avós sobrevivem graças a amigos ou vizinhos. Os episódios se agravam quando envolvem doenças crônicas.

Autoridades chinesas reconhecem os obstáculos para a aplicação da Lei do Direito dos Idosos, mas dizem que um dos objetivos é mandar uma mensagem educacional. Ao contrário do Japão, onde os mais velhos são figuras proeminentes na hierarquia familiar, é difícil encontrar países onde a atenção ao idoso é prioridade. Mais do que a preocupação física com os idosos, o abandono afetivo machuca profundamente aqueles que legaram valores, tradições e a nossa própria vida.

Parece longínquo imaginar-se com 60, 70 anos quando somos jovens ou “adultos novos”. Os avanços da Medicina, somados à massificação de hábitos de saúde prolongam sistematicamente a expectativa de vida. A expectativa de vida no Brasil é de 68,6 anos, ou seja, 2,5 anos a mais que no começo da década de 90. É um avanço significativo, cujas consequências – lamentavelmente – significam o aumento do contingente de idosos desprovidos de atenção, carinho, cuidados e respeito humano.

Na media em que envelhecemos desperta a curiosidade sobre os antepassados e no resgate da árvore genealógica que nos trouxe até aqui. O crescimento dos filhos, o flerte com a aposentadoria, o cerco das doenças e as dificuldades em acompanhar a velocidade do mundo desorienta.

Sentir-se vítima do “descarte humano” certamente é um sentimento insuportável se somado ao abandono de nossos filhos e netos.

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