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sexta-feira, 22 de março de 2013

Voem, crianças, voem!

Gosto dos filhos contestadores, que ousam transformar sonhos em realidade. Que escutam os pais, mas não aceitam tudo assim, como presos ao rebanho guiado por cães ovelheiros. Eu os vejo na minha e em outras tantas famílias onde pais e mães bonzinhos, ranzinzas, indiferentes ou extremamente dominadores se colocam como exemplo. Às vezes ajudam, às vezes atrapalham, mas são gente de carne e osso e tem todo o direito de tentar acertar.

Admiro os filhos que rompem preconceitos, que lutam por suas causas, sempre justas, mas não o fazem de olhos fechados, seguindo a tribo. Investigam criteriosamente os gurus momentâneos que as redes sociais disponibilizam a cada instante ou mesmo, os mesmo os pensadores que lhes apresentam nos bancos escolares. E tomam seus próprios rumos, assumem a sua vida e escolhas.

Domingo passado, meu filho mais velho partiu para realizar um sonho no estrangeiro. Participei desta opção como pude. Ele, muito reservado tomou conta do projeto a sua maneira e coube a nós, pais, avós, familiares e amigos, acompanhar e torcer pela trilha que decidiu tomar. Tenho uma filha nutricionista que também segue um caminho diferente ao título de bacharelando que conquistou com muito sacrifício.

Mas ela é quem deve saber o que é bom para seu futuro e felicidade. Meu outro filho, o caçula, é das letras, escreve poesias, tem alma de artista e uma vasta cultura. Não será, talvez, o advogado que sonhei, mas o caminho que o conduzir deverá ter a estrela do sucesso, porque o faz com amor, igual a seus irmãos mais velhos.

Escrevo tudo isso, não para fazer publicidade doméstica – detesto falar de minha família em crônicas – mas para colocar outra história, triste, infelizmente, que ouvi. Um velho conhecido meu, ao saber que seu filho iria casar-se e, junto da esposa, mudar-se para os Estados Unidos, brigou com o guri. Disse que os estavam abandonando, que o estrangeiro é longe demais! Foram grosseiros e irascíveis.

Vejam: o jovem casal não embarcou em uma aventura (e teriam todo o direito de viver uma experiência deste tipo). Ambos estavam contratados a convite de uma grande empresa! O pensamento mesquinho, o amor malvado destes pais e mães me irritou profundamente.

Lá se foram eles, convictos de que faziam o melhor para suas vidas – mas com um fio de culpa – porque seus velhos, que deveriam ser o suporte, o almoço domingueiro para uma volta nas férias ou aquela saudade gostosa, entregaram o pior de si.

Espero que o tempo os faça perceber o erro cometido. Que a luz, a essência de suas vidas não se resuma a uma vela derretida em um candeeiro, onde o pavio queimou-se no fogo da ignorância.

Eu olho para trás, e vejo que a maior herança deixada por meus pais, foi o livre arbítrio. E também seus acertos e erros, transformados em exemplo. Mas a trilha, esta fui quem determinou.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Sem aliança


Por Gilberto Jasper
Depois de 25 anos estou sem aliança na mão esquerda. É uma sensação estranha, nova, diferente. São mais de duas décadas de uso – em novembro tinha completado 25 anos de casamento – além de quase dois anos em que o anel de compromisso foi usado na mão direita, sinalizando nosso noivado. Sim, é coisa de quem é “da velha guarda”.

Como manda o figurino da época cumpri todas as etapas exigidas pelas “famílias de bem” até então. Inicialmente flertei no portão, aliás, no meu caso foi na praia para depois pedir licença aos pais da felizarda para namorar. Passado algum tempo pedi a mão da moça em noivado para finalmente oficializar o pedido de casamento com o enxoval praticamente completo. Incluindo o apartamento.

Confesso que sinto falta da joia de ouro 18 quilates que ostentei por tantos anos, apesar de uma inusitada sensação de liberdade. Costumava batucar ao bater o dedo anular em superfícies sólidas cujo ruído ecoava. Dava até para marcar a cadência de um samba. Isso já se transformou num cacoete, uma mania. No carro, no elevador, em casa, na mesa de trabalho, no teclado do computador. Tudo servia para “tirar um som”, o que deixou de acontecer há cerca de um mês.

Mesmo que eu quisesse seria impossível disfarçar o fato de ter usado aliança por muito tempo. Uma vistosa marca branca, exatamente no formato da aliança, contrasta com a pele mais escura das minhas mãos. Resultado de 10 dias de sol intenso das férias tiradas em janeiro numa praia catarinense.

Aliança, gravata e óculos emprestam um ar de seriedade impressionante

Pouca gente se deu conta da novidade. Apenas uma colega de trabalho segurou minha mão, passou o dedo para se certificar do que via, mas parecia não acreditar. Estupefata e de olhos arregalados me fulminou:
- Giba, o que aconteceu?  Disse que mais tarde falaríamos sobre o assunto, já que eu estava muito ocupado com o trabalho.É impressionante o fenômeno que uso de certos símbolos em nosso cotidiano provoca.

Anéis, gravata, óculos, paletó, por exemplo, são adereços que emprestam ar de seriedade, gravidade, notoriedade às pessoas. Jamais esquecerei de quando comecei a usar terno. Nas lojas ficava constrangido porque os vendedores abandonavam outros clientes para me atender.Agora já não ostento mais o símbolo de “homem sério”. Somente no dia 3 de março irei à joalheria para buscar minha aliança que será polida para voltar a brilhar em minha mão esquerd