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sexta-feira, 10 de julho de 2009

Mais um a morrer na vala comum da BR 290


"Não sou nada.Nunca serei nada.Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.(…)
Conquistámos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordámos e ele é opaco, Levantámo-nos e ele é alheio,

Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.(…)
Come chocolates, pequena;
Come chocolates!

Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates."
Fernando Pessoa, 1888-1935, poeta português, Tabacaria

Morreu mais um motorista na BR 290. Ele saía de Porto Alegre, no sentido de Eldorado do Sul e destrui seu carro moderno e importado na árvore nativa que o esperava, entre o fosso da rodovia. Eu ia para o trabalho, nesta úmida manhã de sexta-feira.

A névoa cobria tudo, abria apenas - igual a um efeito especial -, no entorno do acidente. Permitia a nós, que dirigíamos no sentido contrário, a trágica visão dos metais retorcidos, do corpo estendido no chão, dos policias federais desviando o trânsito, mandando seguir à frente os que tem a mórbida mania de espiar a desgraça alheia.

Ainda se aprendessem... Triste é que a maioria retoma seu curso em maior velocidade ainda para recuperar o tempo perdido, como se assim preenchessem o vazio que os irresponsáveis abrem entre lágrimas.

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