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sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Tombo as pés do pódio


Em Londres, depois de ter sido eliminada dos Jogos Olímpicos, a judoca brasileira Rafaela Silva admitiu ter errado. Horas depois, na internet, a atleta não lidou nada bem com a frustração. Criticada no Twitter, respondeu com palavrões cifrados e bateu boca com seguidores. Já a judoca gaúcha Maria Portela também eliminada logo na estreia dos jogos de Londres, da categoria médio (até 70kg), derrotada por ippon pela colombiana Yuri Alvear assumiu os erros e com extrema humildade fez uma autocrítica pungente e comovedora sobre sua atuação. “Joguei fora a chance de minha vida”, lamentou entre lágrimas. E aí entramos nessa linha fina que nos divide entre a insensatez e o equilíbrio. Muito mais do que saber perder é fundamental estar preparado para a vitória.

Rafaela Silva é o talento que emergiu das comunidades carentes do Rio de Janeiro e merece todo o reconhecimento pela superação que a colocou em um patamar diferenciado. É exemplo! Errou, reconheceu a derrota e depois saiu a chutar o balde com grosserias, como se estivesse de volta aos grotões do vale tudo social de onde foi resgatada. Não sei das origens de Portela. Sei que perdeu o controle emocional do jogo e, aos prantos, nos comoveu com uma análise pesada e dolorida sobre sua derrota. Ambas tinham seus corpos preparados, a técnica apurada e talvez estivessem em choque com o espírito que lá no fundo não se preparara à altura, e titubeava diante da possibilidade da conquista.

E fico pensando das vezes em que eu mesmo, próximo a atingir uma meta e diante do desafio, por pouco não desisti porque, mesmo com todo conhecimento e preparo, acordava nas madrugadas suando, apavorado, inseguro duvidando de minha própria capacidade. Sem treinadores, sem acompanhamento psicológico, apenas com o instinto ou apegados a um débil sentimento de amor próprio, acabamos forçados a reconhecer, entre lágrimas, que não podemos seguir adiante, ou pior, culpamos terceiros, xingamos o mundo cruel.

Para não sofrermos um ippon do cotidiano, precisamos estar sempre bem preparados em tudo, o que inclui, além da capacitação técnica, uma preparação íntima, lá dos interiores da alma. Uma faxina nos traumas, nas convicções tortas do passado, nas inseguranças adquiridas. Ninguém é fruto de uma bolha de pureza existencial. É assim que aprendendo a respeitar adversários reconhecemos nossas próprias limitações e confiamos, sem reservas, na capacidade individual de superação. Com certeza, as chances de voltarmos para casa com alguma medalha se tornam muito mais nítidas. As derrotas não serão mais tratadas com fúria ou culpa, mas como lições de vida. E no fundo, tudo que se aprende com os tombos é sempre um prêmio.

Um comentário:

Flávio Dutra disse...

Belo texto,comentario oportuno. Voto com o relator.