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quinta-feira, 2 de abril de 2015

A Grande Beleza

Somente na semana passada consegui assistir, do princípio ao fim, sem atender telefone ou mirar a rede social, o vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro do ano passado, “A Grande Beleza”. O longa dirigido por Paolo Sorrentino, trata das reflexões sobre a vida do escritor, Jep Gambardella (Toni Servillo), ao completar 65 anos. É verão em Roma, ele mora em um elegante apartamento, no coração da capital italiana, mas está inquieto.

Na verdade, o personagem é autor de um grande e único sucesso, o romance “O Aparelho Humano”, que escrevera décadas atrás. Envolvido com a vida mundana, não conseguiu concluir nenhum outro livro, dedicando-se a uma bem sucedida carreira de jornalista social, onde decide quem é quem nas altas rodas, usufruindo dos privilégios de sua fama.

Mas a repentina volta à lembrança de um primeiro amor, ainda na juventude, o leva a questionar o mundo dos que o cercam e que, antes, assistia com indiferença ou cinismo. Homens e mulheres, empresários, a nobreza falida, os religiosos, são vistos de uma maneira aguda por Jep, em sua busca, não pelo tempo perdido, mas pelas coisas que realmente importam. Aos 65, percebe que aceitar o que não lhe agrada, é um perigoso tempo perdido.

O diretor Sorrentino - assim como não se preocupou com as comparações ao trabalho do mestre Fellini - também não emite julgamentos. Deixa para quem assiste a melhor interpretação das cenas, às vezes delirantes do filme. E ainda nos permite um olhar atento, às nossas próprias vidas. Não precisamos estar em Roma para agir feito os romanos. Aqui mesmo nos deparamos com gente e vidas semelhantes. Quantos projetos perdidos, quanta palavra desperdiçada em troca do reconhecimento que vira uma imagem desbotada, logo ali adiante.

“Viajar é útil, exercita a imaginação. [...] Aliás, à primeira vista, todos podem fazer o mesmo. Basta fechar os olhos. É do outro lado da vida,” afirma o trecho do escritor maldito Louis-Ferdinand Céline, que abre o filme e utilizo aqui, para encerrar este artigo. Viver é mais do que ser apenas correto ou valorizar a estética da vulgaridade que confunde fortuna com poder.  A verdadeira beleza está em nos apresentarmos o mais semelhantes possível a nós mesmos. Sem perder a elegância, a leveza do espírito.
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