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domingo, 2 de agosto de 2015

Dieta para casar a filha

Sou um pai de noiva que precisa emagrecer o suficiente para entrar em um terno novo e bem cortado, até o dia do casamento. Isso será no final de outubro. Ainda tenho um certo prazo, mas o corpo reage lentamente. É inimigo do tempo, se abraça em calorias, como se dependesse delas para fazer andar o relógio da vida. Meu cérebro, esse mala, também não parece muito convencido de minhas verdadeiras e honestas intenções. Teima em insuflar a gula que ultrapassa todos os limites do pecado.

No frigir dos ovos (com guarnição de arroz, creme quatro queijos e suculento bife de filé) nós os gordinhos, sofremos muito mais do que os “normais”, ou magros. Nos olham atravessado em muitos momentos da vida. Se estamos comendo um hambúrguer, afirmam: “depois não quer ganhar peso”, como se fosse só isso que torna alguém obeso. Fatores hereditários, por exemplo… Deixa assim. Não vou entrar na pauta que dirão ser desculpa de gordo.

Nas lotações, nos ônibus e aviões, reclamam quando ocupamos mais espaço nos bancos. Ora que reclamem de quem projeta tudo pelo mínimo. Grandes magazines criam constrangedoras peças GG mínimas. É verdade! Nesse inverno vesti uma jaqueta GG que serviu perfeitamente em minha esposa, magra (como todas as mulheres, mesmo as que não o são).

Nos resta o carinho das cozinheiras caseiras, das avós e das tias, das mamães à moda antiga. Disputamos avidamente o último bolinho de bacalhau, aquela torta esquecida na geladeira ou o resto no prato das crianças (que escapam dos legumes que detestam). Somos a alegria das sobras, das invenções gastronômicas fracassadas. Nós comemos de tudo e tudo.

Quem não sabe que existem magros muito mais glutões? Somos apenas os de metabolismo lento. E as advertências apavorantes sobre doenças terríveis? Ameaças pavorosas como, por exemplo, sermos obrigados a comprar em lojas especializadas de roupas tamanho extra grande. Só de olhar essas vitrines me bate ansiedade, que é quase sinônimo de fome.

Não existe gordo elegante, boa pinta. Eu sei que, especialmente em nosso caso, beleza não põe mesa, mas somos vistos simplesmente como glutões simpáticos. Além disso, é nosso dever ouvir todo tipo de "conselho", que se fosse bom, eliminava os obesos do Planeta, além de aceitar dicas de profissionais e dietas mágicas, instantâneas. Nos empurram shakes, academias e o escambau, que aceitamos sempre com um ar compungido e falsamente agradecido.

 Como ser alto-astral se durmo e acordo preocupado com a balança? Até outubro, meu prazo definitivo, vou me entregar às frutas, hortaliças e carnes magras.  Adeus risotos, cremes, filés ao molho de natas, Quero voltar ao mundo dos seres que não tem apelidos constrangedores e ainda, são livres para traçar feijoadas, pudins ou carboidratos mil sem parecer um extra-terrestre adiposo.

O terno está encomendado. O casamento é, para sorte de todos, confirmadíssimo. Agora, a dieta. Ai! Vai depender de muita boa vontade, muita caminhada que não seja em direção às panelas, aos bons restaurantes ou meus vinhos e cervejas artesanais.

Espero que filha e genro reconheçam esse esforço de atingir um nível aceitável de elegância no dia mais importante da vida deles. E que seja para toda a vida. A união deles e meu peso reduzido, é claro. Bonito não dá para ficar. Mas magro, isso é sim, é possível.

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