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quarta-feira, 14 de julho de 2010

Crônica da liberdade ornamental

Conversei pelo Skype com um amigo tiozão como eu, que enfrenta  uma longa crise em seu relacionamento. Anos de convívio, ambos presos a monotonia de uma história que se repete da mesma forma todo dia. E começa a incomodar. Permanecem juntos, sem alçar outros vôos. Um evita machucar o outro. Iguais a estas aves, permanecem bonitos, implumados.  Os faisões são criados praticamente soltos, nunca escapam porque um deles está sempre preso ao viveiro. Por solidariedade, aquele que teria tudo para a partida, permanece ali, ignorando o apelo da mãe natureza.

Quem sabe esse princípio não seja igualmente a base de muitos relacionamentos entre humanos? Um solto e o outro preso a acordos e tratados. A parte livre não abandona o cativeiro por uma questão de lealdade. Ambos na verdade, presos. Enfeites do cotidiano.

Sacodem as penas coloridas das vaidades que, em outras palavras os confundem entre a liberdade e a prisão. As relações surpreendem por suas arapucas. Lhes assusta imaginar-se agarrados às grades finas dos viveiros, a implorar liberdade. E em meio ao temor, não percebem que bastaria a um deles virar as costas e alçar vôo para libertar seu fatigado par.  Quem sabe uma última prova de afeto. 

2 comentários:

Jairo Silva - Uruguaiana disse...

Pior, o mais chato é quando achamos que a vida se resume a um cotidiano sem graça... sem amor.

Solidão a dois é a pior de todas as pragas

CarolBorne disse...

Como diria Cazuza, 'o teu amor é uma mentira que a minha vaidade quer...'
Triste sina.