Um pacote de fralda por uma reputação |
Na semana passada eu vi, ninguém me contou, uma jovem grávida pegar um pacote de fraldas descartáveis no supermercado e surrupiá-la para a sua bolsa. Esses pequenos furtos, essas distrações éticas, ao se tornarem rotina, cobrem tudo no frágil glacê da desculpa pobre: “Não vai fazer falta, afinal eles são poderosos”, e lá vai ela, com seus conceitos simplistas, levando na barriga um ser que deveria, em tese, educar e dar exemplo, para uma vida exemplar. Quem sabe essa futura mamãe recrimine duramente os desvios em verbas públicas, reclame do celular que promete ser 4G e não completa a mais básica ligação. “Em que mundo nascerá meu filho?” Esquece que o ladrão não se reconhece pelo tamanho do furto.
Segundo psicanalistas, fatores como a hereditariedade, experiências a partir da primeira infância e o ambiente familiar, determinam a formação de uma criança que, ao sair da fase inicial do egocentrismo, onde tudo gira em torno de seu lindo umbigo, precisa da presença dos pais para ensinar coisas básicas, como ser nada legal tomar para si, objetos alheios.
Como controlar esses impulsos, se a mão que embalou o berço é mesma que não tem escrúpulos para pequenos delitos? Se a criança, inicialmente nada sente ao se apropriar do que não lhe pertence, a reação dos pais é fundamental, para demonstrar o quanto pode magoar terceiros. Sem excessos, para não traumatizar, mas com exemplos tirados da experiência própria de vida.
Que a família crie suas próprias fábulas, onde a dignidade não seja algo elástico e adaptável às ocasiões que fazem o ladrão. E que um mínimo senso ético, não desapareça, vergonhosamente, em uma fralda de bebê furtada às pressas. Isso é muito feio. E nocivo.
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