quinta-feira, 29 de maio de 2025

Até que a instabilidade os separe

Ela era uma das maiores divulgadoras de jogos de azar no país, ele filho de Leonardo e igualmente intérprete sertanejo.  Eu me refiro à influenciadora Virginia, que nessa semana anunciou a separação de Zé Felipe, prometendo que serão “apenas amigos”, aquele lugar comum de todos  divorciados que se esforçam em manter a elegância, apesar do roteiro de “sofrência” que costumam cantar. Ganharam notoriedade por serem famosos, mas li nos jornais que, no ano passado, houve um aumento nos divórcios no Brasil, marcando um recorde de 420 mil casos. 


O amor para todo o sempre, está cada vez mais finito, atarefando cartórios na discussão de sentimentos e partilhas, às vezes, nada amistosas. Sim, desse total,  340.459 foram realizados por meio judicial e 79.580 de forma extrajudicial. O número de casamentos, por outro lado, apresentou uma queda, refletindo a tendência de diminuição contínua desde a pandemia. É o amor perdendo para a paixão? Meu coração romântico ainda tenta uma salvação para as ditas uniões estáveis, cada vez mais sujeitas a chuvas e trovoadas. 


Talvez a sertaneja Virginia tenha confundido a moral dos relacionamentos com a do jogo que divulgava em redes sociais. Mas o “Amor não é jogo de azar”, já alertavam os igualmente sertanejos Bruno e Marrone. Quando termina, por esse ou aquele motivo, deixa lá seus rastros de bons momentos, mas principalmente, muita mágoa e frustração por tantas promessas e juras corrompidas.  Eu sei do que falo, estou em um terceiro relacionamento e, desta vez, mais curtido e experiente com a vida à dois, sei que ela deve ter um bom acordo e regras para depois não ficar naquela discussão tipo “a culpa é tua”. 


Tenho um amigo que, nos longos anos em que convivemos, já deixou o lar umas dez vezes. Um quase recordista da rendição. Atualmente vive próximo a ex mas se diz independente. Livre! Pensa que me engana, eu sei das visitas íntimas sorrateiras que promovem. Meu pai dizia que o mundo da tecnologia, da cultura de massa e o número avassalador de divórcios, não acabaria com os casamentos, mas o tornaria flexível na mais ampla leitura dessa palavra. Entre tapas e beijos é o que tenho percebido.  Estarei errado?


quinta-feira, 15 de maio de 2025

A salvos no pleno outono

 

Outono é minha estação favorita. E não é apenas a sensação térmica amena que me seduz, ou os doces aromas de chocolates quentes,  a volta dos assados, o calor do forno. Manhãs frias, tardes quentes, noites que pedem um cobertor. Existe algo a mais na troca de estações. É uma predisposição a misturar alegria e melancolia, a pedir vinhos mais encorpados e cervejas escuras. A exigir minutos a mais na cama na hora de levantar. Algo acontece e não tem a ver com quedas hormonais ou  pressão arterial. Sim, o vovô está a salvo. 


Um amigo viúvo, diz que a antecipação do outono o faz lembrar o passado, com a falecida. "Era o período em que estávamos envolvidos com nós mesmos e tudo parecia conspirar a favor”. Hoje tem uma namorada, mas a relação deles é tipicamente de verão. Viajam juntos, curtem praia, bares e fazem amor até cansar. E acho que ele cansa mais, do que faz. Depois, a coisa volta à rotina, como se uma barreira invisível os colasse ao cotidiano. Sozinho, percebe a movimentação do ar, dos ventos, das questões interiores, da natureza que sutilmente se transforma.


Outono e especialmente o inverno,  exigem um pouco mais de nós. Assim como o corpo pede alimentos calóricos, o espírito também precisa de um bom cobertor, de um sopão aromático onde a essência que lhe dará tempero será a energia acumulada nos anteriores dias onde a luz era farta. 


Outra amiga, me segreda que sonha em ter alguém com carinho e afeto quentes. Mas antes disso, reconhece, precisa mover as resistências geladas que a abraçam. Os medos, a perda do espaço. Mas o outono é mais leve justamente para ajudar nessa troca, digamos assim, de folhagem existencial e quem sabe,  liberar os empedernidos a essa busca.


É bom ter alguém para aquecer. Não importa a motivação: amor, identidade ou interesse simplesmente. Não é esse o outono que você idealiza caro solteiro convicto? Abandonar as redes sociais e por algumas horas se refugiar em um bom e macio cobertor. Livros ou uma seleção de filmes não-depressivos, ajudam muito. Um jantar quentinho com os amigos. Um chá com familiares domingo à tarde e uma fatia daquela torta, receita antiga das tias e vós. É outono puro. 


Época linda para se observar os campos, paisagens urbanas, especialmente no pós tragédia climática que nos atingiu. O tom amarelo-dourado das folhas, ilustram instantâneos magníficos. Lembro do meu pai, na sacada, logo após o almoço. Permanecia ali, atento, emoldurando pensamentos bons e retornando alguns minutos depois para o interior da casa, sempre com seu melhor sorriso outonal.


No verão, é diferente, você quer se integrar à paisagem. Assumir os tons criados pelo sol. No inverno, a chuva e a geada nos obrigam a cerrar o olhar e as cortinas. Observamos a vida através das janelas. Muitas vezes a tristeza aperta. A primavera é linda, mas ligeira. Aqui no Sul, chove muito e lá se vão as flores e as cores vivas. A primavera é perfeita demais para garantir-se a eternidade.


Aproveitemos então, neste outono, as memórias sem dor, os projetos sem prazo, os dias amenos e a brisa que varre a estética bonita das folhas secas. Vamos fingir que reinventar a vida é simples. Que conseguiremos decifrar o que ainda nos angustia e que, examinado a fundo, com todo o rigor, não deve ter a menor importância. 

Até que a instabilidade os separe

Ela era uma das maiores divulgadoras de jogos de azar no país, ele filho de Leonardo e igualmente intérprete sertanejo.  Eu me refiro à infl...