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segunda-feira, 28 de março de 2011

Outono, enfim




São Lourenço do Sul, Outono de 2010
 
Na semana passada a previsão do tempo anunciava: 2011, será de um outono frio, mas seco. E olha o aguaceiro desabando por aqui. Mas com ou sem enxurradas, outono é a minha estação favorita.  Alegria e melancolia, encharcam as paisagens, a luz do dia, o ar da noite que pedem vinhos mais encorpados, cervejas escuras. Começa a ficar mais difícil a hora de levantar. Alguns - tios como eu - se tornam mais sentimentais e isso não tem nada a ver com quedas hormonais ou pressão arterial. É a movimentação do ar, dos ventos, das questões interiores, da natureza que sutilmente se transforma.

Outono e especialmente o inverno, exigem um pouco mais de todos nós. Assim como o corpo quer rações calóricas, o espírito também precisa de um sopão aromático, onde a essência que lhe dará tempero será a energia acumulada nos dias anteriores de verão, quando a luz era farta. Uma amiga, me segredou que sonha ter alguém - com carinho e afeto quentes. Mas antes disso, reconhece, precisa remover as resistências, os medos. Outono é ideal para essa troca de folhagem existencial, despindo os mais empedernidos, da insegurança que atrapalha um breve,  mas decisivo, momento de ousadia.

É bom ter alguém que nos aqueça. Não importa a motivação: amor, identidade ou interesse simplesmente.  Um cobertor leve e macio, livros, revistas e uma seleção de filmes não-depressivos. Aquele jantar quentinho com os amigos, chá com a mãe, domingo à tarde, e uma fatia daquela torta, receita antiga da família.

Isso é outono puro. O tom amarelo-dourado das folhas, a ilustrar instantâneos magníficos. Lembro meu pai, na sacada, logo após o almoço. Permanecia ali, atento, emoldurando pensamentos bons e retornando alguns minutos depois para o interior da casa, sempre com seu melhor sorriso outonal.

Aproveitemos então, neste outono, as memórias sem dor, os projetos sem prazo, os dias amenos e a brisa que varre a estética bonita das folhas secas. Vamos fingir que reinventar a vida é simples. Que conseguiremos decifrar o que ainda nos angustia e, examinado a fundo, com todo o rigor, não deve ter a menor importância.

Um comentário:

Anônimo disse...

Este texto é um convite à troca de folhagem existencial Muito bonito. Parabéns! (Jomar Martins)