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terça-feira, 6 de setembro de 2011

Feijão com arroz e um amor injuriado

Quando falta tempero, é hora do adeus?
Tudo ia às mil maravilhas quando ela, em uma noite quente de sábado, perguntou com aqueles olhos grandes, cheios de devoção se ele a amava mesmo. Assim, sem ressalvas, apaixonadamente. Ele, bom marido, pai exemplar, com aquela franqueza que sempre se dividia entre a rudeza e a inocência, disparou: “Amor de paixão, sei lá, é difícil medir, mas acho que não sinto mais.” Foi o que bastou para ela, injuriada, ferida em seu orgulho despachar, sem chances de reversão, naquele momento mesmo, o cara que tinha como seu para o "resto da vida". Resto que ela agora varria, entre lágrimas e o dedo em riste a indicar a porta da saída. Até hoje não entendo o porque dessas perguntas dispensáveis – especialmente pelo lado feminino da espécie – quando as coisas aparentemente vão bem. Outro dia, a mesma situação se repetiu, porque no amor não existem roteiros originais desde os tempos de Adão e Eva.

Desta vez, o ilustre marido, casualmente também em um final de semana, de uma hora para outra ajeita a mala com um kit básico de roupas e, ao contrário do que a esposa esperaria ouvir, tipo uma viagem urgente de negócios, diz que está abandonando a vida a dois. Entre lamúrias, diz sofrer com lembranças de uma ex! Sim, aquela mesma “safada” que o transformara em um "molambo desengonçado da afetividade humana", conforme suas próprias palavras. Em todo tempo juntos, a ex aparecia em pensamentos que, naquele instante delicado, não sabia definir como saudade ou paixão mal-resolvida. Aliás, esta a causa mais provável. Como se poderia prever saiu de casa no domingo e na segunda, já estava mergulhado no vácuo dos que não sabem bem o que desejam da vida, ou no mínimo, de seus amores.

Voltava depois de alguns anos para o velho quarto de infância, na casa da família. E lá lá, ouviu dos pais que tudo o que pretendia ouvir: que agira afoitamente, misturara sentimentos e magoara a mulher que verdadeiramente o amava. Mas jamais a traíra e ela sabia disso. Assim, depois de esfriar a cabeça, decidiu pedir para voltar. Com aquele típico discurso de arrependimento. Queria mais uma chance o que, em outras palavras, significa um novo acordo. Com as regras dela, sabia. Afinal, o erro fora dele. Mas a moça, intempestivamente, não o aceitou de volta. Nem pensou duas vezes. Disse que doía ainda a humilhação inesperada, sentia-se “uma idiota após esse tempo todo juntos.” Justo ela, 24 horas honesta e também fiel.

A vida oferecia o prato mais simples: o feijão com arroz das soluções existenciais. Mas ela decidira, por sua vez, complicar a receita com um toque pessoal. E no amor, assim como na culinária, uma pitada a mais é sempre um risco. Engrossou o caldo e não o aceitou de volta. Se me tivesse pedido uma opinião eu responderia com outra pergunta: Ainda sente amor por ele? Ele te tratava com carinho e afeição? Em caso positivo, troque o orgulho ferido – pela afeição que sempre é transformadora e positiva. Até porque o inverno ainda está aí e aquele lado frio da cama faz mal a quem se habituou ao calor do ser amado. E que pode sim, apesar de toda devoção, ter seus momentos de insegurança e infantilidade. Alguém aí do outro lado é perfeito?

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