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quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

É tarde para pensar, Pedro (por Tárik)

Desculpem bancar o pai-coruja, mas o texto do meu filho Tárik, trabalho de escola, no magnífico Dohms, inspirado em "É tarde para saber”, de Josué Guimarães, está perfeito. Coisa de um guri de 15 anos que vive todas as sensações da adolescência, mas não se aliena, graças ao estímulo à leitura, também possibilitado por seus pais, Ari e Dulci. Quem tiver paciência, por favor, confira. “Deleitem-se!” como sugeriu a professora do Tárik.


Tárik: rock e literatura juntos
“Observava-se a neblina da manhã no Rio de Janeiro. Aquele Pedro acordara sem grandes motivações externas, porém se mantinha empolgado ao planejar um encontro com Mariana. Entrava na sala da casa alugada, um velho sobrado esquecido no meio do subúrbio carioca. Existia lá nos pensamentos dele a justiça e o amor por Mariana, que estava rendido às lutas dele. Senta no sofá, à sua volta todos os companheiros do movimento contra ditadura. Todos lá idealizavam uma revolução que acabaria com o governo militar e os abusados burgueses. Pedro, entre uma paixão burguesa e uma revolução, cumpre seu papel com Mariana e vai até a casa dela desenhar o círculo. O ato foi rápido, o DOPS circulava muito naquele dia, no anterior houve um confronto estudantil e estavam atentos a tudo. Pedro esteve lá e saiu muito machucado. Quando estava a duas quadras do departamento revolucionário, foi surpreendido por um agente infiltrado no bairro, que arrastou-o a um beco e perguntou sobre onde o rapaz ia. Pedro tentou manter a calma, mas a pressão estava grande, teria que ver Mariana e aconchegar seus pesadelos num canto esquecido de sua mente. Por fim estava num carro a caminho do DOPS. Lá permaneceu calado, por uma hora foi devastado por torturas e saiu pela porta, como qualquer um, para ir ao encontro.

Enquanto atravessava a avenida Atlântica era observado por todos, sentia o perigo que corria lá, mas como sempre, deixou de lado as dicas daqueles colegas revolucionários que ele nem sabia o nome para que, por algumas horas, pudesse ver a sua errônea paixão. Podia parecer que ele fosse alguém cheio de dúvidas, mas na verdade, o amor era o motivo pelo qual ele queria fazer a revolução andar. O grupo Comunista queria igualdade, uma liberdade que refletiria na sociedade, acabando com as diferenças sociais sentidas por Pedro. Rapaz de origem humilde, e Mariana, a rica carioca que mora na Atlântida.

Mariana o viu, como sempre chegava reclamando do jeito do relacionamento deles e, no fundo, isso o agradava. Pedro via isso como semelhança, fruto de uma esperança dele. Mariana não gostava do relacionamento deles e ele do jeito do país, quase a mesma indignação. Anoitecia e ele não se interessava mais por ela, o compromisso gritava pela volta dele. Se despediu dela e agora ia ao recanto revolucionário. Foi a pé, quando bateu na porta e logo breve entrou, assustou-se com os colegas que o olhavam. O embaixador estava no segundo andar esperando interrogatório. Preparou o seu jeito grosso e lá questionou. Nada foi dito e Pedro calou o suíço.

A resposta foi negativa e Pedro ainda teve que aguentar as rebeldias de Mariana em relação à vida misteriosa dele. Ele sabia da tensão, e a perseguição aumentava, falou com o chefe, gritou para a imensidão e no tempo que passava aconteceu a invasão. A porta arrebentada e o DOPS no primeiro andar do sobrado já dava tiros. Pedro sabia que era o fim, e nos últimos pensamentos que restavam –lhe lembrou que Mariana foi de táxi até o local na noite anterior, teria ela dado a localização?! Pensou nisso, nessa dúvida, pranteou, morreu e virou notícia de jornal”

Um comentário:

Caren Mello disse...

Ai, meu Deus.. onde é que vai parar isso.....