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quarta-feira, 13 de junho de 2012

Um dedo atrevido no bolo de noiva

Tudo no seu devido lugar. A casa linda, os filhos criados, um carro sempre novo na garagem e um casamento muito próximo à perfeição. Férias no exterior, datas especiais sempre acompanhadas de mimos gentis e, na maioria das vezes, adornadas pelo brilho intenso de pedras preciosas. Bilhetes recomendando cuidados contra os excessos: os pães calóricos, os refrigerantes e as sobremesas. Ai! A volúpia do açúcar! Toda manhã, por volta das seis da manhã estão prontos para a caminhada. Em dias de chuva, ela quer mais alguns minutos na cama, mas ele, voluntarioso, a incentiva ao exercício na esteira defronte a imensa janela da sala, onde a chuva e o frio convidam à preguiça. É uma relação tão estreita, tão zelosa que chega a incomodar. E este sentimento – a chateação – é um voraz cupim em casamentos exemplares.

Na verdade, ela nunca questionara seu cotidiano. Nos últimos dias é que percebeu algo a roer-lhe por dentro. Mas não se atreveu a questionar a relação que vive. Um casamento de véu e grinalda no melhor estilo bolo de noiva, não merece, por exemplo, que algum aventureiro passe o dedo intruso só para lamber o glacê. Mas algo a leva a enjoar os confeitos de seu bolo amoroso. A casa cheia de zelosos lembretes do marido, dos filhos com suas agendas e dietas e mesmo assim, lhe falta algo. É bom, mas existe espaço para mais. “Melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho (Eclesiastes 4:9-12). A citação bíblica, encontrada no blog de uma amiga, de certa maneira a ajudou a entender o que se passava.

Percebeu que vivia uma das fases mais complexas da vida conjugal: a mulher a desejar um parceiro eternamente romântico, e este voltado ao aconchego da família, que não a exclui, mas também não atende a outras tantas carências. Eram dois? Ou apenas um? Talvez por tudo isso, nos últimos dias, aquele antigo cliente tenha lhe chamado a atenção: primeiro pela semelhança com o marido no jeito família de ser, segundo por um detalhe que, a seu ver, faz toda a diferença: ele ainda escreve bilhetes românticos à esposa! Coisas simples – “estás linda hoje” – ou envia flores, sem motivos aparentes. Era pai, avô e principalmente, namorado da esposa, “a felizarda!”

Aos poucos, deixou-se levar por sonhos de muita luz, em noites onde se envolvia com um misterioso parceiro sem rosto, mas irresistível em afagos e palavras que nunca imaginara ouvir. Acordava tensa e abraçava o marido. Buscava o conforto de uma relação antiga. Mas essa já não passava de frios avisos em imãs na geladeira, caminhadas saudáveis e carinhos fugazes, ralos, não raros. Transferia o calor de seus desejos a outros mundos, onde não importava mais ser invasora ou coadjuvante. E a partir daí, conquistou dias de súbita euforia e excitação. E deu início a uma aventura de onde nunca se retorna igual, seja para o bem, ou mal. O parceiro amoroso do sonho ganhava contornos...

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