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quarta-feira, 20 de junho de 2012

Café com sonhos ou feijão com arroz?

“Te perdôo
Por contares minhas horas
Nas minhas demoras por aí
Te perdôo
Te perdôo porque choras
Quando eu choro de rir
Te perdôo
Por te trair”
(Chico Buarque)

Atendeu ao telefone e a voz que ouviu – inacreditável – era a dele! Aquele flerte que no passado não convencera e nem permitira nenhuma conclusão do tipo, bom ou ruim, com a mesma voz sedutora, convidava-a para um café. O chão tremeu a seus pés, os olhos enxergaram mil possibilidades, mas como todo na vida, a razão fulminou-lhe a fantasia. Homens! No momento mais carente de sua vida, ele sequer dera retorno às suas ligações. Agora estava casada, ou quase isso: vivia um gostoso "feijão com arroz", dizia. E ele a sugerir “café com sonhos”. Pé no chão, guria! Com esforço, voltou ao trabalho.

Nestas horas gostaria de ser dona do pragmatismo masculino, que separa sexo e amor e não enfrenta tantas culpas. Conhecia o perfil meio cafajeste deste que lhe voltava a assediar. “Ele sabe que estou em uma relação legal. Ou seja, sem carências. Mas também está consciente de que me atraía muito. Aquela coisa química. Daí... Mas não cederei!”. E foi assim, boa menina, que voltou para casa. À noite, ajeitou-se carinhosamente nos braços de seu amado. A tentação do ocorrido horas antes, misturou-se ao afeto seguro que lhe envolvia e dormiu serena.

Pela manhã, a dúvida. Mais do que isso, a curiosidade voltou a lhe tirar a paz. “Só bater um papo não arranca pedaços”, justificava-se. Qual é o mal de ser, ou melhor sentir-se desejada? Iria simplesmente “conferir” como fazem seus colegas casados, quando as mulheres os assediam. Almoçou com uma amiga divorciada que, ao contrário do esperado lhe deu o conselho definitivo: “A angústia da culpa, é muito maior do que o prazer da relação às escondidas”. E lhe sugeriu usar “a razão e o afeto” contra a euforia, o arrepio do furtivo e proibido. E exagerou: trai hoje, repete amanhã, como um vício.

Impressionada, reconheceu que poderia se classificar como uma mulher feliz, bem sucedida na relação que vive. Pouca coisa lhe alteraria o curso. “Chega da confusão”, sentenciou. Não é isso que todos, homens ou mulheres buscam? Uma história de cumplicidade e respeito? Sentir-se desejada é um bálsamo para o ego. Faz bem para qualquer um. Mas levar um flerte a sério é permitir o risco de tudo ir água abaixo. Não vale a pena, concordou, meio a contragosto, consigo mesma. 

Uma boa relação se fortalece exatamente com essas pequenas renúncias. Café com sonhos, só aqueles feitos carinhosamente em Santo Antônio da Patrulha, os outros, tornam-se imediatamente indigestos.

Um comentário:

Anônimo disse...

O que acontece com quem mora longe de Santo Antônio De Patrulha? :)))