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sábado, 24 de março de 2012

Contrição e festa

Coelhinhos, cestas de vime, ovos coloridos. É tempo de Páscoa, outra vez. As datas festivas se repetem quase instantaneamente. O Natal passou, ficaram as dívidas parceladas no cartão. A criatividade é saber evitar o conflito entre prestações natalinas com outros tantos feriados e datas especiais. “É tudo despesa”, argumentou a jovem mãe a reclamar dos altos preços, enquanto passava por um daqueles “túneis” de confeitos que os supermercados organizam. E aí vem aquele discurso contra o mundo material, que não valoriza a verdadeira mensagem de cada uma dessas datas.

Por experiência própria, ouvia atentamente o que dizia minha mãe sobre o significado da Páscoa para judeus e cristãos. Achava tudo muito bonito, mas esperava ansioso pelo ninho, no domingo, que meu pai escondia sempre em algum lugar diferente. A alegria das crianças está nas cores, no aroma e sabor de tanta guloseima. E associar ovos coloridos e coelhos, com a fé, passa a ser missão para familiares e professores. Cristãos celebram a ressureição, judeus, a libertação e comerciantes, as vendas. Ainda terão pela frente as datas das mães, dos pais e dos namorados.

Uma amiga, que participa destas feiras de artesanato, afirma que a Páscoa é especialmente boa porque facilita o comércio de produtos manufaturados. Cestos, envelopes, bonecos, doces e chocolates (embora o calor a derreter ovos e coelhos). A Semana Santa, que antecede a comilança, em tese seria de contrição e jejum. Mas tudo acaba em banquetes caseiros. E aí? Vamos condenar esse povo?

É chance das feiras municipais literalmente “venderem seu peixe”, muitos integrando cooperativas de piscicultores que oferecerão carpas, tilápias e outros peixes de água doce que não têm o mesmo espaço e preferência, se comparados aos que vêm do mar. Amigos e familiares estarão reunidos. E isso, em tempos de tanta desagregação, já é uma grande vantagem, neste mundo velho de tantos ódios, tanto isolamento, apesar dos magníficos novos espaços virtuais.

Confesso que eu sofria quando era obrigado a ficar só ouvindo música erudita, réquiens cheios de dor infinita naqueles tempos. Hoje, podemos dedicar algumas horas, minutos, para a meditação, mas não vamos deixar de celebrar a capacidade humana de renascer para o bem viver. Apesar de tudo. É uma forma de entender a Quaresma.

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