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sexta-feira, 2 de março de 2012

Ressaca, abstinência de coisas boas

O que é ressaca afinal? É uma espécie de síndrome de abstinência dos excessos que sacrificaram o pobre fígado em seu exaustivo trabalho de filtragem. É o pedido por mais um gole para reiniciar o que fora tão intenso anteriormente. Na vida afetiva é mais ou menos assim também. Os amores, por exemplo, quando acabam, deixam aquele vazio horrível. Você pode ser um pote até aqui de mágoas que, mesmo assim, bate a depressão, a vontade de repetir, querer mais e por isso mesmo muitos trocam apenas as embalagens e caem de novo na volúpia das paixões. Se vai acabar em amor, relação estável é outra coisa, precisam alimentar o vício.

Ao conversar com uma colega de trabalho, ouvi que ela não conseguia dormir direito desde que voltou de Salvador, na Bahia, onde passara o Carnaval. A folia cansa, mas vicia. A rotina de festa, mar e muitos aperitivos cria uma espécie de dependência. E a realidade é bem diferente. O chope de qualquer hora, viva a “hora alegre” do final da tarde. E peixinhos fritos, pescados ali, na sua frente, se tornam impossíveis por essas bandas gaudérias. Férias viciam. Assim como o trabalho, quando feito em ambiente acolhedor, na função que se gosta de verdade, também vira uma cachaça. Quantos aposentados acabam morrendo por abstinência de cartão-ponto? Estavam lá, entre o banco da praça e as mil pílulas da sobrevivência e pimba! Juntaram os pezinhos sem dar um único adeus no escritório.

Uma amiga, ao divorciar-se de um grande mala, mesmo assim, por um lado aliviada, por outro, enfrentou brutal depressão. “Como acabou?” Ela não conseguia conformar-se com a nova condição. Queria o sujeito irresponsável, inconsequente e totalmente desinteressado porque simplesmente ele ainda habitava sua rede afetiva. Vivia a ressaca de um grande porre dividido a dois. Hoje está por aí, recuperada, de namorado novo e espero, desta vez, menos dependente. Apaixonada, sim. Mas com firmeza, amor próprio em primeiro lugar para não cair nos exageros escravagistas que tornam um verdadeiro porre qualquer relação.

Este será o primeiro final de semana pós-temporada oficial de veraneio para a grande maioria dos brasileiros. Eu sei que meus leitores não têm nada a ver com a minha vida privada. Mas divido essa pequena alegria: esta será, depois de quase quatro anos juntos, nossa primeira ida – não a trabalho – à praia para um final de semana. E não somos infelizes, nem nos desgastamos com picuinhas e culpas. O trabalho, a obrigação que dá sustento financeiro à vida a dois está em primeiro lugar. Depois, o prazer da folga. O lado positivo é que fizemos de nossa casa um lar. Nos finais de semana, sempre curtimos amigos, familiares ou, principalmente, ficamos a sós, como se estivéssemos isolados em uma pousada caseira, lá nos confins.

Uma relação franca e bem resolvida é a melhor vacina contra a mesmice cotidiana. Dias desses ouvi uma música sertaneja, da dupla Lucas e Luan (que nem sei se são famosos), que com simplicidade cantava um refrão feito na medida para o tema desta crônica “Eu acordo com ressaca de amor. Eu acordo com seu gosto em mim. Cada dia um recomeço, Um amor que não tem fim…” Simplório?

Chegar ao ponto de uma ressaca abençoada faz de qualquer dia, qualquer lugar, ser perfeito para enfrentar a vida e suas adversidades, que não nos deixam ressaca, apenas dor, quando não são combatidas de frente. Bom final de semana para todos e, se na segunda-feira bater uma ressaca deste tipo, cure-a com mais energia e amor. Vale a pena!

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