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quinta-feira, 18 de abril de 2013

Gentalha, gentalha!

Kiko, o meu embaixador!
Mais uma vez perderemos para o pensamento plano? Aqueles que veem o novo como uma nuvem carregada de monstros? As mais obtusas criaturas se formam no interior de quem não estimula a imaginação, que se repete infinitamente em suas próprias limitações, que classificam como lógica. Os porto-alegrenses tiveram um bom exemplo desse pensamento linear a partir da polêmica criada pela proposição de se transformar o personagem Kiko, interpretado pelo mexicano Carlos Villagrán, da trupe do Chaves, em embaixador de Porto Alegre, para a divulgação da Copa 2014.


Aliás, a idéia do convite, partiu segundo li na imprensa local, de uma conversa informal entre a jornalista Márcia Costa Dienstmann, seu pai, o consultor da Secopa, Cláudio Dienstmann – aliás, ilustre cidadão do Vale do Taquari, nascido em Teutônia – e um dos produtores do show que Villagrán faria na Capital. A partir daí começou o berreiro digital nas redes sociais. Como assim, colocar um comediante, quase um palhaço como representante da Capital dos gaúchos? Ele não tem nada a ver com futebol, ora bolas! (desculpem o irresistível trocadilho cretino), bradavam. E uma sucessão desencontrada de versões, palpites, prós e contras tomaram conta da mídia.

Enquanto isso, talvez surpreso com a reação, o ator de 69 anos – que escolheu o Brasil para fazer o encerramento de sua carreira – advertia ao pessoal afobado da planície gaudéria, que dera aos filhos os nomes Edson e Paulo Cézar - em homenagem a Pelé e ao Caju, ex-Grêmio, campeões mundiais pela Seleção em 1970, no México. E que gosta muito de futebol, tanto que na terça-feira passada, foi a Santos visitar Neymar, fã assumido do Kiko. Tanto que se fantasiou do personagem em uma festa no começo do ano. “Não tenho palavras para descrever a felicidade que eu estou sentindo. Sou um fã como todo mundo, desde pequeno”, afirmou o jogador.

O seriado, embora antigo, produzido de forma rudimentar, é um clássico da televisão mundial. Lembro que o líder da banda Nirvana, Kurt Cobaim, dizia que assistir as aventuras de Chaves e sua turma, era uma das poucas alegrias que tivera na infância. As histórias singelas, com personagens simpáticos e muitas vezes, comoventes, ainda resistem ao tempo e repete-se, a cada novo, ano na programação das grandes emissoras internacionais. E Kiko não serve para o povo superior de minha terra. Eu queria saber o que os outros “embaixadores” da Copa já fizeram. São nomes ligados diretamente ao futebol. Mas aconselho a esperarem sentados pela resposta.

Talvez Villagrán decline do convite. Ele não está aí para, em final de carreira, ser parte de uma controversa rejeição. Voltará para seus fãs, que o tem como embaixador da boa vontade, do humor sem apelação, ingênuo, humano, feito em cenários toscos, mas enriquecidos pela fértil imaginação infantil. Kiko sempre me representará. Por enquanto, tenho coisas mais urgentes para rejeitar. Como obras de um metrô prometido para o mais breve possível, mas que anda em marcha lenta, ou contra a velha desculpa da inflação para, mais uma vez, inchar juros e segurar os preços lá em cima. Tomate neles!

Para encerrar e deixar bem claro, eu não estou a criticar os que são contra a escolha do personagem mexicano. Minha discordância é com o pensamento refratário imediatista, que não pensa nas possibilidades da iniciativa diferenciada, que foge ao lugar comum. Tratar o novo, aquilo que escapa do normal, como algo inadequado é uma forma comodista de se manter a criatividade no limbo do preconceito. O pensamento plano tem seu mundinho limitado ao óbvio. Aos habitantes deste espaço opaco, se encaixa perfeitamente o bordão do Kiko: Gentalha, gentalha!

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