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sexta-feira, 6 de novembro de 2009

A certeza e o acaso

Nem é preciso um vendaval, um desastre terreno, uma fúria divina. Basta um sopro, um sussurro, uma palavra solta no ar, um beijo apressado antes do ônibus partir e lá está vida como havíamos pré-estabelecido – de repente – a dar uma guinada tão surpreendente quanto assustadora. O que nos move a seguir adiante? O que nos leva a fraquejar no último minuto? A não pensar nas conseqüências? A razão para tantas quedas, que nos separa da vida e da morte, do céu ou do inferno pode ser dividida em tantas e miúdas justificativas que nem sempre nos preocupamos em juntá-las para conferir o todo.

Ainda no melancólico feriado de finados pensei nisso. Lembrei meus mortos, amigos, familiares que partiram por desastre, desgaste ou cansaço. Recordei os olhos atentos de meu pai, o sorriso irônico, às vezes em paz, em outras sofrido. E sua mão sempre disposta a acender um último cigarro. Um dia realmente acabou sendo aquele definitivo. E os planos a dois acabaram sobrecarregando o coração de minha mãe, ainda tão jovem, de uma inesperada saudade. Uma dor que acomodou no colo e transformou em resignação.

Naquele mesmo dia 2, meus filhos estavam comigo. Eles e seus projetos futuros. Quanta ansiedade apertando os jovens corações. Cada palavra, cada gesto a carregar expectativas de realizações. Todos, a exceção do mais novo, preocupados com o pós, o doutorado! Nunca se exigiu tanta graduação para tão escassas oportunidades. Ou será que buscam em nichos errados? Assim, cada um a sua maneira leva em si uma forma própria de dor. Uma angústia que poderia acabar talvez no minuto seguinte de uma proposta que lhes aponte uma estrada menos tortuosa. O sopro que muda um destino.

Pensei em um rosário de conselhos. Sugerir mais objetividade em alguns pontos, criatividade e ousadia, em outros. E lembrei os vendavais de conceitos, ou preconceitos que nós, senhores vividos, às vezes podemos carregar em nossa ânsia. Me conformei em torcer para que meu guri mais novo, vença os moinhos da adolescência, que minha menina defina o foco de seus tão vívidos talentos e o primogênito abra a porta e saia mundo a fora com a fome de um leão diante da caça. Que minha mulher dê a tacada certa em um novo vestibular! Move your body, people!

Eu sei que os minutos que nos antecipam rugas, são os mesmos que nos garantem experiência, que se não é tudo é a melhor bússola quando ainda não se encontrou o norte. E fico aqui, nesta sexta-feira quente, a espera de um sopro do acaso, para dar uma guinada e tornar tudo  tudo melhor. De problemas, estamos até aqui, ó!

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