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quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Sakineh Superstar

O destino de Sakineh Ashtiani está nas mãos do Supremo Tribunal do Irã. O Mundo gritou – o presidente Lula sugeriu asilo no Brasil - contra a barbárie do apedrejamento público da iraniana de 43 anos. Agora poderá ser punida com algo mais leve (?) - a forca. É o velho planeta preconceituoso e doente que gira, gira e acaba interpretando leis divinas como condenações diabólicas. Ontem à noite, enquanto comprava um lanche bem quentinho para minha mulher, ouvi duas jovens a criticar o machismo que assassina e mutila outras tantas mulheres.

“Somente nós, mulheres, evoluímos. Mesmo assim continuamos escravas. Os homens estão livres para fazer o que bem entendem. Isso me dá nojo”, sentenciou a guria. Escutei calado. Polêmica em lanchonete de posto de gasolina não é meu forte. Mas no reflexo do vidro que me protegia do inverno, vi meu rosto retraído, não era apenas o frio. Seria eu um lobo igualmente devorador e cruel? Eu que esperava até três horas rodando pela cidade, visitando a mãe, um amigo, fazendo hora em shopping (sem comprar nada, é claro), só para juntos voltarmos para casa no conforto do carro aquecido?

Vejo os brunos e outros facínoras que matam as esposas, as amantes, violam a inocência de filhas como se o feminino estivesse ali para ser abusado. Tenho certeza de que estes não são a maioria! Se o fossem, mulher seria bicho posto em confinamento para reprodução da espécie. Criado para ter ancas salientes, seios fartos, preparada em centros de doma e domesticação para servir aos delírios meramente carnais do macho idiotizado - forte e viril - da espécie.

Não é assim. Eu sei que lentamente a coisa se torna mais uniforme, menos cruel justamente porque a grande maioria dos homens, esses com H, estão lutando pela igualdade e respeito às diferenças. Ah! As irritantes diferenças, as engraçadas diferenças, as mimosas diferenças e é claro, as sempre deliciosas diferenças! Vivam as diferenças!

A grande maioria dos homens ama ternamente a mulher que os gerou, escolhem aquela que será sua parceira com toda a paixão que couber em seu coração e, se tiverem a ventura de gerar meninas, as ensinarão a ter orgulho de sua condição, a fazer respeitar-se e a buscar um homem espelhado no pai. Integro esse grupo que hoje se envergonha do tabu, da ignorância que submete o feminino à toda exploração, confundindo o belo com o vil objeto, o amor com a dominação.

Queremos que Sakineh Ashtiani seja uma superstar em seu mundo, em seu lar, um exemplo para os filhos e orgulho para o homem que escolher como amante e companheiro. Que tenha seu prazer sem culpa, sem massacre que a transforme em mártir. Igual, embora diferente. É o que este cinquentão deseja porque é homem e se garante.

7 comentários:

CarolBorne disse...

De um jeito único, Arizinho, conseguiste me emocionar. Como sempre.
Vou espalhar esta semente.
Lindas palavras e mais linda ainda a reflexão.
Beijo!

Gilberto Jasper disse...

Generalizar é sempre um equívoco, mas é duro assistir tantos homens rebaixando as parceiras. No supermercado, na fila do cinema ou na roda masculina de bar é voz corrente a dificuldade que temos de reconhecer os méritos, elogiar e dar a mão à palmatória aos talentos femininos. Cármen, minha companheira de mais de 20 anos de vida comum, é a grande inspiradora e responsável pelo patrimônio afetivo e material que amealhei ao longo de 50 anos de vida. Carinhosa comigo, afetuosa com os filhos e sempre pronta para viajar ou passear, me cativa cada dia mais. Costumo elogiar seus pratos, a roupa apurada, a maquilagem e a competência profissional e a capacidade de renúncia em favor de nós - filhos e marido. Não é favor. É justiça e mérito dela! Será asso, tão difícil reconhecer que elas se desdobram em jornadas como mães, trabalhadoras, amantes e amigas? O mundo seria bem melhor de conviver se nós, homens, tívessemos fôssemos um pouco mais humildes para louvar nossas mulheres. Parabéns pelo texto, como sempre, amigo Ari!
GILBERTO JASPER
Jornalista - Porto Alegre

Patrícia - Passo Fundo disse...

Meu pai é um exemplo de parceria. Ele e a mãe trabalhavam, ambos chegavam de péssimo humor em casa, mas ele dividia atividades. Teve três filhas, imaginem a bronca. Mas ele mostrou como é importante a presença masculina, o humor, o senso de família e equilíbrio que nos deixava sempre tranquilas. Somos todas casadas e os maridos q se comportem. Temos um exemplo pra nos orientar.

Léa Aragón disse...

Mais um show de texto. Arizinho, a Ana está certíssima, quando fala que tens alma feminina. Que sensibilidade! Adorei a forma de avaliar a questão, profundamente humana. Outros homens tentam, sté sentem, mas não conseguem expressar como tu. Parabéns, amigo. Posso lincar no Bicho?

João Eduardo Q. C. disse...

Eu não tinha conhecimento do que esta mulher iraniana está passando, mas o que tenho lido e ouvido de piadinhas sobre a lei Maria da Penha é de lascar. A gente aqui não aprende nunca a conceder a benesse de não fazermos uma piada, de não procurarmos uma aceitação social fazendo ou promovendo piadas. Por aqui, a banalização da lei Maria da Penha, e no Irã a preocupação é se vão aplicar a pena de morte em mais uma mulher com mais ou menos requintes de crueldade. Infelizmente, nós aqui, disfarçadamente, também atiramos pedras em Sakineh ou a penduramos pelo pescoço numa corda.

Abraços!

Cabo Alberto disse...

Parabéns!! Um belo texto enxuto e cheio de verdades absolutas.....abraço

Amanda disse...

Carol Borne indicou e eu aprovei e aderi!
Parabéns pelo texto!
Abraço!