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quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

A beleza na cidade rude

Estávamos eu e mais dois em uma pastelaria da Cidade Baixa, em Porto Alegre. De repente, ela surge. Passos elegantes-  sem traços anoréxicos ou a vulgaridade das “modelos” maria-chuteira. Um gari parou de varrer a calçada para não levantar pó e melhor admirá-la. Cidadã responsável, ela procura a faixa de segurança para atravessar a rua movimentada. Está ali, a poucos metros de nós. Saia curta, blusa em estilo oriental a sustentar a leveza sexy de seu andar.

Cruza a porta por onde a observávamos, desajeitados. Pastéis nas mãos, a mastigar o ar tomado de um perfume suave e doce. Conhecem aquele olhar enviesado tipo Mona Lisa? Pois foi o que recebemos. Por breves segundos, é claro. Olhar sem arrogância, mas sabedor das conseqüências de tudo aquilo que um dia Vinícius de Moraes poetizou a uma certa garota de Ipanema. Beleza que não é só nossa, mas quando passa  "O mundo inteirinho se enche de graça e fica mais lindo...". Em nosso respeitoso silêncio, agradecíamos o dom feminino de transformar uma simples calçada em passarela. "É mulher para se guardar numa redoma de cristal. Não deixar ninguém tocar", exagerou o pasteleiro.

A marginalidade em guerra e tantas outras mazelas brasileiras e eu aqui a divagar sobre o encanto feminino. Ora, amigos! Quando se vive em uma cidade que já tem locais onde a lei marcial do tráfico impera, a serviço é claro, de milhares de consumidores, é preciso partir para a seguinte reflexão: enquanto muitos caem na ilusão da fortuna fácil do comércio das drogas, e milhares se deixam seduzir pelo vício. outros filtram a miséria humana e usufruem, sem culpas, da energia bonita que se esconde no cotidiano.

Valorizemos a capacidade de superação, de buscar nas esquinas onde o medo espreita, a beleza de gente comum como nós. E se for para roubar alguma coisa, que seja um olhar carregado de promessas que não precisam ser cumpridas. Basta que ajude a nos tornamos menos rudes e sofridos. A vida, afinal, é isso.

2 comentários:

Tárik Matthes disse...

Pai, ótimo texto. Meu favorito desse ano(sim está no final ,eu sei). Sinto um toque Porto Alegrense ... ficou como uma obra de arte, eu entrei dentro do texto e lembrei de muitas coisas... Ouié !
Abração, saudades ! Haha

Ari Teixeira disse...

Gracias filhão! é bom quando os jovens portoalegrenses percebem que temos o "felling" da cidade.