Os noivos não eram mais brotinhos, estavam já na casa dos 30 e, talvez por isso, foi mais fácil perceber aquela sensação de cumplicidade e harmonia entre o casal. Estavam bonitos e apaixonados, o que é quase uma redundância. Amar deixa tudo mais bonito. Com ar de saúde. Disseram o sim emocionados. Ouviram o padre Antônio Puhl advertir-lhes sobre a importância do compromisso assumido. Tudo muito rápido, mas intenso.
Ao sair da Igreja, percebi outro casal a preparar-se para repetir o ritual que, embora semelhante, nunca é igual, por carregar em si a história de cada relação. Pensei com os botões do terno que me apertava a cintura (dieta, Ari, dieta): se todos naquele sábado, houvessem jurado, com a intensidade de Angel e Ci (os noivos), cumpririam sem muitos revezes o diifícil compromisso do “até que a morte os separe”. Eu por exemplo, estou na terceira relação e (toc, toc,toc, na madeira, estou vivinho da Silva Teixeira).
E teve festa - Angel e Ci - investiram uma grana preta na linda celebração à sua união. Ensaiaram uma bonita coregrafia, que lhes tomou um bom tempo de ensaio e curso de dança. Perfeitos! Um verdadeiro amor, a gente também ensina a dançar, afinal das contas. Surgirão dias que a vida irá impor um ritmo mais difícil. Precisarão de muito cuidado, capacidade de perdoar, caso um pise no pé do outro. Errar o passo é normal, quando não intencional. Bailarinos de verdade não perdem a elegância. Assim, sobrevive-se as crises do cotidiano. Impossível - sejam casais abençoados em Igreja, ou ajuntados pela força da natureza - é resistir a traição e intolerância.
Naquele sábado, eu os vi cúmplices. A Igreja fora um refúgio para celebrar os bons momentos e proteger-se das crises que poderão surgir, com uma benção na fé que professam. Saí da Igreja, com a sensação de que estavam concientes do contrato assinado. Não tenho intimidade com o casal, mas me passou a sensação de que haviam aprendido com acertos e erros passados e, destas experiências, se tornado gente muito melhor. Eu, um cético, já estou achando que o casamento tradicional, com vestido de noiva, igreja enfeitada, terno completo, sapato de bico fino e testemunhas, afinal de contas, ainda é uma alternativa para a verdadeira paixão. Aquela que jamais temerá dizer sim diante de um altar.