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quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Croquetes de areia em mar de chocolate


Solidários, milhares de gaúchos enviaram tantas doações para o povo catarinense que o governo do estado vizinho chegou a pedir que parassem, pois já não tinha mais onde estocar tanto material. Eu, cá entre nós, acredito que a gauchada no fundo de seus corações queria apressar a reconstrução de cidades importantes para um veraneio com direito a mar quente, azul e areias brancas. O roteiro pode incluir ainda cidades como Blumenau onde se compra - a preço de fábrica - roupas de grife além de produtos excelentes de cama e banho.

Mas todo apoio ao vizinho estado, não aplacou a natureza que, embora em menor intensidade, insistiu com mais chuva, atrapalhando a reconstrução de casas e rodovias. Ressabiados, muitos se conformaram com a linha reta e ventosa que chamamos de litoral gaúcho. Afinal, a mesma natureza tão brusca, já vinha proporcionando águas mornas, claras e dias de pouco vento em anos passados. Só que neste ano, especificamente, tudo voltou ao que sempre foi. Dias chuvosos, correntes marinhas que devolvem à orla, barrentas ondas tipo “chocolate”. O vento ajuda na formação de estranhos corpos, untados até a medula de cremes hidratantes, óleos regeneradores e filtros solares que fixam quase definitivamente, a fina areia que o “nordestão” – ei-lo de volta - sopra.

Croquetes de areia de todos tamanhos e cores tentam segurar guarda-sóis, tomar caipirinha, comer milho verde ou falar, sem encher a boca dos minúsculos, pegajosos, insuportáveis grãos de areia. O negócio é voltar para a casa alugada a preço de Cancun ou Miami Beach. Churrascão é a pedida? Carreiteiro? Saladas? Seja o que for é preciso mais um teste de resistência: as filas do açougue, da padaria, do supermercado, do restaurante e outras tantas filas.

Isso desanima o veranista gaúcho? Quem toma chimarrão fervente à beira-mar, não desiste nunca! Todas as sextas-feiras, assistimos ao desfile que transforma as rodovias que nos ligam ao litoral em uma infinita procissão dos que se fantasiam de veranistas e, em uma prova indiscutível de fé buscam por aquilo que acontece eventualmente: mar limpo, areia branca firme no solo e vento zero.

Torço para que dê tudo certo neste final de semana. São muitas horas no carro ou no ônibus, muitos pedágios, muitos argentinos nos ultrapassando iguais a pilotos de auto-choque. Desejo um regresso no final do domingo, ou madrugada de segunda-feira, com as gurias deliciosamente bronzeadas e os guris satisfeitos por visões menos esquisitas do que aqueles terríveis croquetes de fio dental.

Vai dar certo, estou com um daqueles pressentimentos tipo brisa marinha. Quero ser cobrado na semana que vem se estiver errado. Infelizmente não poderei conferir pessoalmente no litoral. Ficarei por aqui. Alguém precisa manter acesas as velas para todos os santos.

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