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terça-feira, 18 de agosto de 2009

Na estética, atendendo Marcello Anthony


Entrou apressado na estética. Queria um corte de cabelo e barba. Precisava ser rápido. Ela disse que sim, sem problemas. Era um homem alto, bonito. Opa! Só poderia ser ele: o Marcello Anthony em pessoa. Mas em Porto Alegre? Aquela hora? Talvez preparasse a divulgação da peça “Vestido de Noiva” - clássico de Nelson Rodrigues. Sabia que entraria em cartaz sexta-feira (21), no Teatro São Pedro. Pensou nas amigas que morreriam de inveja. Fora escolhida para cuidar da juba de um dos mais desejados astros globais.

E assim o fez. Aparou as pontas dos cabelos que a impressionaram pelo dourado e maciez. Barbeou o galã com extrema precisão, não se permitiria arranhar tão valioso e cobiçado rosto. Caprichou na hidratação, com uma minuciosa massagem facial. Orgulhava-se do trabalho bem feito, quando uma estranha sensação começou a turvar-lhe a vista. A voz dele parecia distante. De repente tudo escureceu.
Num sobressalto percebera o peso de cobertores a lhe dificultar a respiração. Não era o abraço agradecido do galã. Estivera sonhando em uma gelada noite de inverno. Hoje pela manhã, ligou sugerindo a pauta e exigindo anonimato. Afinal, acordara ao lado de alguém que em nada lembrava Marcello Anthony. Era só um marido que, por sorte, naquele momento não roncava. Senão, no melhor estilo dos personagens rodrigueanos, já teria levado a culpa.

Adepta de livros místicos, curiosa pela análise e busca dos desejos escondidos atrás dos sonhos, decidiu que desta vez, deixaria assim. Enquanto dormia, fizera barba, cabelo e bigode em um galã. Precisava de mais alguma interpretação?

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