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sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Doce melancolia de uma noite feliz


Natal é assim: quanto mais próximo do dia 25, mais reminiscências provoca e com elas, um sentimento melancólico que deve ser assumido, nunca maquiado. O verdadeiro “espírito natalino” não significa esconder a tristeza mas sim enfrentá-la com dignidade. Se existe algo que me contagia positivamente é a agitação da cidade, a expectativa das crianças e também dos adultos em função na troca de presentes, por mais singelos que estes possam  ser. A sabedoria reside exatamente  no viver esta contraditória e perfeitamente possível “alegria melancólica”. 

Não conheço nada mais morno do que a canção “Noite Feliz” em seu compasso compungido e lento. Mas emociona, não é mesmo? Assim, ao assumirmos nossa melancolia natalina nos livramos da culpa de não ser sermos “felizes” como exigem todos. Se bater a saudade dos que partiram, ora,  isso é perfeitamente normal. Errado é disfarçar com sorrisos artificiais. Vai precisar aturar a nora ingrata e a sogra rabugenta? É Natal, confraternize e acredite, as horas passam mais rapidamente quando estamos nos divertindo. A tortura do rancor, da cara amarrada só faz mal.

Lágrima benta

E se na hora dos abraços, a meia-noite, escapar uma lágrima, por favor, vamos deixar que ela lave a tristeza como uma água benta que nos unge a alma de perdão. E aceitemos nossa melancolia como a prova mais definitiva do amor que nutrimos pelos que nos cercam ou um dia estiveram materialmente próximos a nós. Eu com certeza lembrarei o sorriso dos meus avós enquanto escondiam o presente dos netos até o último minuto e conseguiam fazer com que surgissem quase que magicamente debaixo da árvore de Natal sem que a criançada percebesse.

Como esquecer meu pai suando debaixo da barba de lã e de uma pesada fantasia vermelha que o transformavam em asfixiado Noel tropical. Nem ele, nem meus avós estão mais entre nós, assim como tantos outros familiares queridos. São uma melancólica lembrança que brindarei feliz por um dia ter dividido sorrisos e abraços em tantos natais.

Agradecerei a Deus pela graça de ainda estar aqui, ao lado dos que continuam sua missão terrena. Na verdade, aqueles que amamos, nunca nos abandonam, permanecem juntos, brindando conosco, vivos nas memórias que enfeitam a árvore da vida. O Natal é melancólico? Sim senhores, é melancólico, lindamentamente melancólico para quem não foge de sua missão, de sua própria história e a escreve com as linhas da fé, do amor e da capacidade de construir momentos felizes a partir destes sentimentos.

Triste mesmo é enfrentar as filas nas lojas, o olho vivo dos ladrões oportunistas nas ruas atulhadas de gente. Mas tudo bem, o maior presente é ter quem leia esse post e se identifique um pouco com ele.  

Um comentário:

CarolBorne disse...

Impossível não lembrar dos Natais da minha infância, dos aromas da casa da avó, do tio vestido de Papai Noel, do brilho quase mágico daqueles momentos. Impossível não rolar uma lágrima benta de saudade.