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quarta-feira, 17 de março de 2010

Prazer sem culpa para todas!

“As muito feias que me perdoem, mas beleza é fundamental”, escreveu um dia Vinícius de Moraes. Mas a qual beleza referia-se o sensível poetinha? Seria a mesma citada pelo genial Fernando Pessoa, ao afirmar que beleza é o nome que damos as coisas em troca do agrado que estas nos oferecem? Desse jeito, o encantamento meramente carnal muito pouco significaria. Afinal é perecível. Então por que insistimos tanto e valorizamos o conceito de belo que os modismos impõe? O que acontece quando a natureza não favorece a mulher com a plasticidade das top-models anoréxicas? Mais delicada ainda a situação daquelas que chegam à maturidade em constante briga com a balança. Trocaram a auto-estima por quilos de guloseimas e ansiedade. É mais ou menos assim que uma amiga minha, a Joana, enfrenta a condição de gordinha solitária. Quando arrisca sair do isolamento vive situações, no mínimo, hilárias. 


Dia desses, depois de alguns chopes, Jô relaxou a guarda e aceitou a sedutora proposta de uma madrugada sexy à dois em um bom motel. Quando se deu conta, seu príncipe saía de uma ducha enrolado em uma reveladora toalha branca. Nesse exato instante, caiu-lhe a ficha do medo. Sentia-se deslocada, uma matrona gorda e sem charme diante de um provável candidato a deus grego. O mais assustador é que não poderia voltar atrás. Desesperada enrolou-se no lençol e correu para a banheira de espumas. Ainda coberta pelo improvisado casulo de panos, foi mergulhando vagarosamente na água morna até submergir sem revelar um único pedaço do corpo fofo. Depois do relaxante banho de sais aromáticos, repetiu a intrincada operação em sua improvisada burca. Sentia-se um charutinho de repolho, uma baleia empanada, algo assim, ridículo e que certamente, esfriaria os ânimos de seu parceiro. E isso era tudo que não queria naquele momento delicado. 


Para não ser surpreendida em sua nudez, dirigiu-se quase rastejando até a cama redonda onde ele a aguardava deitado, impávido colosso. Não sabia o que fazer para não ser vista totalmente. Assim, escudada pelo colchão, ajoelhada aos pés da cama, iniciou uma série de carinhos improvisados a partir das pernas dele que, embora sem entender o que ela pretendia, deliciava-se com o estilo misterioso e fugidio. Ao perceber que o amado estava no ponto, saltou sobre ele com todo seu peso, permitindo-lhe apenas os movimentos do desejo. Foi uma espécie de batalha a meia luz, onde cegava o amante com beijos e afagos. Ocultava assim, tudo o que desprezava em seu corpo.


Pobre Joana. Enquanto relatava sua aventura, eu lembrava do filme “Garotas de Calendário”, do diretor inglês Nigel Cage. Baseado em fatos reais sobre as senhoras que, embora longe de qualquer padrão estético moderno, decidiram posar nuas para um calendário. E deram um verdadeiro banho de sensualidade e espontaneidade. Para que enrolar-se em lençóis, fugir em meio a espuma de uma hidromassagem ou pior, apagar todas as luzes nos momentos amorosos? Não existe um único formato para a beleza. Nem esta morre com a idade ou porque se é muito gordo, ou muito magro. A Jô estava tão preocupada em não afugentar seu parceiro que esqueceu a glória de superar medos e insegurança assumindo-se como é. 


Ela repetiu a dose com o mesmo namorado e, com certeza, não conseguiu esconder-se mais. Mas o medo de fracassar, de não sentir-se desejada ainda a mantém em um indesejável celibato. Justo na fase mais madura de sua vida. Ou seja, quando poderia idealizar fantasias sapecas sem receio de ofender ou desagradar ninguém. Simplesmente permitir-se um merecido êxtase. Uma, duas ou dezenas de vezes. Quem sabe, tudo isso em uma noite apenas. Porque não?

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