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quarta-feira, 9 de junho de 2010

Sem medo das sombras vivas

Eram quase 9h da noite e um menino franzino, com idade próxima aos sete anos brincava com uma latinha de refrigerante na calçada da avenida Júlio de Castilhos, em Porto Alegre. De repente dois grandões aproximam-se e arrancam-lhe a lata. Um joga o guri no colo do outro e quando o solta, já o deixa sem o abrigo com capuz que o cobria.

O guri foge, desvia-se de chutes e pontapés. Atravessa a avenida igual a malabarista entre os carros, Escapa da morte uma, duas, três vezes. Da janela de uma lotação, Mariana observa, chocada, a forma como tudo aconteceu. E pensa: “Em casa meu filho tem medo do escuro. Ali, foi justamente em um canto escuro, no vão de um edifício, na rua fria e úmida, que aquele menino refugiou-se”.

Isso aconteceu nos primeiros dias de frio e Mariana passou a observar melhor a infância atirada às ruas. Filhos nascidos no acaso, ou então de famílias onde o desemprego tira as crianças da escola, do carinho que não tem em casa. Vivem nas esquinas, vendem balas, limpam vidros e alimentam-se de drogas. Um dia, desaparecem. Anjos sem luz.

 “Quem dera o perigo maior fossem os monstros que sua imaginação infantil cria. Mas as sombras ganham formas. Tem identidade e garras enormes", percebe. Mariana não aceita mais ser apenas observadora desta cena. Quer contribuir de alguma forma. Sem medo de errar, a encaminhei para um clube de serviços, tipo Rotary. Sentir-se mal, reclamar dos governantes não mudará nada. Será mais uma no coro dos descontentes. Buscar parcerias, entidades públicas e privadas significa a verdadeira mudança.

Aliás, muita gente olha com preconceito o abnegado trabalho de organizações como Rotary e outras ONGs. Eu sou rotariano. Tenho orgulho da atuação discreta, mas efetiva na comunidade onde vivo. Através de meu clube, por exemplo, lideramos e organizamos eventos importantes que ajudam a reduzir desigualdades sociais. O Banco de Alimentos adotado pela Fiergs, no Rio Grande do Sul, começou no Rotary. Por exemplo.

Quando olho a infância perdida nas ruas das cidades onde circulo, não sofro o remorço e culpa da omissão. Afinal, de alguma maneira, tenho me doado para o servir. E  a sensação que permanece é gratificante. Acompanhar os jovens que apoiamos, em busca da realização através de intercâmbios mundo afora, ou ainda na primeira infância, recebendo material de ensino em escolas e creches, nos premia com a sensação viva - real - de que um dia, nenhum deles sofrerá o medo das frias sombras vivas das ruas.

Um comentário:

EGD Hermes Pereira da Silva disse...

Companheiro Ari:
Estás certo quanto a tua atitude. Cada caso é um caso. Toda cidade onde há um ou mais Rotary Clubs, tem suas peculiaridades. Os problemas sociais são os mais variados,com relação a criança, principalmente. Neste caso citado por ti, agiste certo: tentar a solução através de Rotary. Se este é composto por lideranças da sua cidade de atuação, quem melhor para providenciar, de alguma maneira, na solução deste tipo de problema?
É bom lembrar que Rotary tem enorme preocupação com o adolescente e com o jovem! Tanto é verdade, que tem em seu programa, dois segmentos: o Interact Club, para adolescentes e o Rotaract Club, para jovens. Através destes, encaminha, tanto um quanto o outro, pela via do bem, mostrando-lhe o que é certo, despertando nele bons propósitos, boas atitudes, grandes lideranças, etc.
Parabéns!
EGD Hermes Pereira da Silva
Ano Rotário 2001/02 - Distrito 4680
R.C. de São Lourenço do Sul - RS