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quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Terremoto na cozinha

Escrevo ainda  abalado pelas imagens do terremoto no Haiti. A tevê mostra a todo tempo a quase total aniquilação da capital, Porto Príncipe. O Brasil comanda a missão de paz da Organização das Nações Unidas, ONU e tivemos então, vítimas brasileiras entre militares e civis, como por exemplo, a  fundadora da Pastoral da Criança, médica sanitarista Zilda Arns. Todos desaparecidos na garganta faminta que se abriu, sorrateiramente, naquele sofrido canto do planeta.

E lá vem teses que assustam. O fim dos tempos! Da Terra como conhecemos. Desastres naturais assombram comunidades inteiras em todo o mundo. Nevascas como nunca vistas na Europa e Estados Unidos. Vendavais inacreditáveis, enxurradas a levar pontes e vidas humanas aqui, ao nosso lado. Arrepia só de pensar.
Mas se é o fim, porque começar pelo Haiti? Qual a lógica natural, qual o sentido em tornar ainda mais dura a condição dos que apenas sobrevivem lá? Os haitianos desde sua independência enfrentam a vil pressão de ditaduras corruptas e assassinas que mantiveram o povo escravo, ignorante e sofrido por tantas décadas.


Lembro meu pai a ouvir via BBC, notícias das barbáries cometidas por Maurice Duvallier - o terrível “Papa Doc” , líder dos Ton-Ton Macoutes, apelido dos asseclas do pacato médico que, ao assumir o poder, transformou-se em monstro ditador. De 1957, até à sua morte em 1971, dominou o país caribenho, atiçando seu povo contra a igreja e toda forma de poder que não o seu, aproveitando-se da crença no vudo, para manter seu povo atado e cada vez mais miserável.  A ditadura prosseguiu com a breve sucessão do seu filho “Baby Doc”, que acabaria por fugir para França em 1986. 


Atualmente o povo do Haiti fez valer, outra vez, a constituição rasgada por tantos desmandos passados.  Tenta um esforço de desenvolvimento com tímido apoio da comunidade internacional. Não tem riquezas minerais. Ouro, petróleo. A economia gira ainda em torno da agricultura, da cana-de-açúcar.  Quem quer ser padrinho de pobre? Pagar a conta?


Agora é diferente. A nação mais pobre da América volta às manchetes. E uma nova desgraça enluta sua trágica história. A fúria da natureza, implacável, é um aviso a haitianos e demais cidadãos do mundo: “tu relés humano, és frágil. És breve!” Então, que se possa efetivar a reconstrução do Haiti e de tantos outros países miseráveis – nações-favela – e assim possamos dormir em paz com nossas consciências. 


Ouvi relatos de amigos que foram ao Haiti, dos militares e da própria sanitarista lamentavelmente falecida  de que o povo haitiano - a despeito da violência e miséria - é em sua grande maioria gentil, recebe com afeto aos que o desejam apoiar. Então se estamos realmente próximos ao fim dos tempos. Se o calendário inca estava mesmo correto e em 2012 será o fim, que a humanidade se despeça em alto estilo e deixe gravado nas pedras, imagens de gente que se ajuda. Que talvez nem se goste muito, mas se respeite.Ora!

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