De repente três sacos de lixo desabam da carroça espalhando papelões e latas pela calçada estreita da Cristóvão Colombo, defronta a bonita praça da Província de Shiga. O casal de catadores de lixo apressa-se em juntar tudo quando os olhos da mulher se voltam para o interior da praça. “Olha que coisa linda! Eu nunca tinha reparado como é bonita!” Seu companheiro adverte, ressabiado pela vida: “Pára com isso. Vão dizer que tu quer estragar as folhagens”. Mas ela continua embevecida com a água brotando entre as pedras e a vegetação típica de um recanto japonês.
“O jardim do Éden deve ser assim”, afirma, sem parar seu trabalho. Ao ver que o marido não entendera ela explica, pacientemente: “É uma espécie de paraíso, onde todas as pessoas, mesmo as mais pobres, vivem como burguês”. O homem sacode a cabeça e toca a carroça adiante. “Depois o cachaceiro sou eu”, esbraveja, rindo das idéias de sua companheira.
Mas o olhar feliz daquela mulher humilde, a surpreendente cultura, não saiu da memória da amiga Eloá, testemunha deste momento de humanidade em Porto Alegre. “A vida difícil brutaliza, mas não mata a sensibilidade de uma alma. Aprendi que às vezes reclamamos do lixo que nos cerca enquanto o éden está bem a nossa frente. Basta querer encontrá-lo”, ensina Eloá.
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