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terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Zilda Arns: Nobel póstumo




Ivar Hartmann* 

Zilda Arns, idealizadora e administradora da Pastoral da Criança, foi indicada para o Prêmio Nobel da Paz em 2001, 2002 e 2003. Não ganhou. É improvável que o leitor lembre-se dos ganhadores deste prêmio naqueles anos, afora o último, dado a um falcão da guerra: Barak Obama. Zilda morreu agora no Haiti e foi a pior perda do cataclismo entre tantas dezenas de mortos, ilustres ou não, conhecidos ou anônimos, sorvidos pela tragédia de poucos dias atrás. Perda não do Brasil, mas da humanidade. Fazendo uma análise dos números da Pastoral da Criança, a catarinense Zilda foi a maior mulher brasileira do Século XX, e, por sua trajetória, uma daquelas que ombreia com as mais importantes e conhecidas mulheres líderes mundiais. Os números que vem a lume nestes dias impressionam pelo gigantismo. No dizer da própria Zilda, medidas simples e baratas, como ferver a água a ser dada para as crianças, lavar as mãos, usar soro doméstico, alfabetizar as mães e ensinar-lhes um ofício, transformou os números da mortalidade infantil. E levou a Pastoral da Criança do Brasil a cruzar fronteiras para outros 27 países latinos e africanos.

O teste inicial destas propostas de Zilda, há cerca de trinta anos, fez cair a mortalidade infantil no município-cobaia de 127 óbitos por mil, para 20 por mil. Não havia dúvida: eram medidas inovadoras no trato da mortalidade infantil entre as populações mais carentes e que davam resultados para lá das melhores expectativas. E os números cresceram depressa. Hoje são 1,8 milhões de crianças atendidas do zero aos seis anos de idade. Por 260 mil voluntárias em 42 mil comunidades pobres de mais de 4 mil municípios brasileiros. Afora as quase cem mil gestantes que buscam informações e auxílio. Os números da mortalidade infantil desabaram no Brasil, graças a Zilda e seus ensinamentos. Mais, em um país de corruptos, nunca se ouviu uma informação desabonatória a este trabalho gigantesco. Pelo simples fato de as 260 mil voluntárias, moradoras das regiões que a Pastoral atende, trabalharem de graça. Questionadas sobre nada ganharem afirmam: realizamos-nos com o reconhecimento das pessoas. Obra e resultado deste porte levam a vida e a morte para outra dimensão. E é obrigação do Governo brasileiro e da própria Pastoral propor e defender o nome de Zilda para um Nobel de reconhecimento póstumo.
ivarhartmann@terra.com.br

*Ivar Hartmann é promotor púbico aposentado e colunista do 
Jornal NH - Gruposinos, Novo Hamburgo, RS
artigo postado no site www.brasilalemanha.com.br


Um comentário:

Gilberto Jasper disse...

Amigo Ari! É uma pena que Zilda Arns não tenha merecido estes generosos espaços na mídia ANTES de ser vitimada pelo terremoto do Haiti. Há décadas a sua dedicação, esforço, trabalho e humanidade conquistou milhões de pessoas em todos os quadrantes do mundo, em sua maioria carentes. Infelizmente o grande público somente soube da sua existência agora. Que este conhecimento tardio sirva, pelo menos, de inspiração para que outras pessoas façam da bondade uma filosofia de vida a ser reproduzida permanentemente. Certamente agora ela ocupa um lugar privilegiado ao lado de quem sempre serviu e em nome de quem trabalhou em toda a sua vida!